Saudações, senhoras e
senhores de um modo geral, porém afável. Complicações no serviço me impediram
de escrever todo esse tempo. Aliás, tempo é algo que estava faltando esses
dias, mas isto é algo que não convém destrinchar de forma tão detalhada, todos
temos nossos problemas e contratempos, mas é como diz o livro do Eclesiástico,
há um tempo para tudo, e chegou o tempo de escrever.
Um dos temas sobre os
quais eu mais gosto de me debruçar, aliás nem sei se gosto ou não, minha mente
simplesmente vaga até ele meio que automaticamente, então não seria
necessariamente um gosto, mas uma tendência, é sobre o leva as pessoas muitas
vezes bem intencionadas a cometerem equívocos de percurso e se tornarem
desiludidas, céticas, para a perdição de sua felicidade neste mundo e de sua
alma nos tempos futuros.
Então, lendo um pouco
do senhor J. K. Chesterton, grande apologista católico do século retrasado,
encontrei uma frase que me ajudou a por em mente de uma forma simples algo que
eu começava a concluir da minha forma prolixa e dajeitada:
"O homem que começar a pensar sem os apropriados
primeiros princípios fica louco; começa a pensar do lado errado."
Ora, eis ai uma
resposta que me parece válida para a maioria dos casos de ceticismo e perda da
fé que temos encontrado no mundo atual, ou mesmo ainda podemos dizer que a
situação fática proposta pelo grande católico serve ainda de base para explicar
os motivos de tantos seres humanos sequer estarem sendo capazes de alcançar
mesmo as noções mais primárias de DEUS! Eis que o problema está na própria
mente da pessoa, que, guiada por princípios inaptos, erra o alvo da fé, e então
passa a ser descrente, o que é em si mesmo um fato muito triste.
Por exemplo, um dos
piores erros que eu tenho visto com relação a isso são os parâmetros em que
fundamos a nossa fé. Especialmente quando baseamos nossa fé nas pessoas, nos
seres humanos cheios de limitações e misérias que somos eu, você, o Papa, o
Dalai Lama, enfim... Já alerta a Palavra de DEUS que “triste o homem que confia
em outro homem”, e dependendo da tradução o termo é ainda mais forte, lê-se “maldito”
no lugar de triste (Jeremias 17,5).
O amor à justiça, às instituições,
aos ideais, é isso que deve pautar a conduta e a matriz de pensamento daqueles
que trabalham na concretização de valores tão elevados, seja aos olhos de DEUS,
seja aos olhos dos homens. Por que os homens, por sua própria natureza, falham,
perecem, fenecem, decaem, e se eu não tiver a capacidade de ver além da figura
finita que é o homem, jamais poderei chegar à noção de inifinito, à noção da
eternidade, e eu digo sem medo de errar que nada me faz mais feliz do que
aqueles raros momentos em que me sinto em paz com meu DEUS e com toda a sua criação,
e podem explodir mil bombas do meu lado que não estou nem aí.
Muitos poderão dizer
que isto é ser idealista, e o dirão de forma pejorativa, como se ser idealista
fosse uma coisa ruim, fosse um defeito do caráter. Outros tantos irão dizer que
sou um covarde, que a minha fé é uma fuga da realidade maldita em que vivemos,
que tudo é uma grande tragédia e que meu DEUS ou não existe, ou, se existe é
mal ou indiferente à humanidade, e que de um jeito ou de outro não vale a pena
obedecê-LO ou LHE dar qualquer crédito. Sobre isto espero ter a oportunidade de
escrever outro dia.
Preliminarmente,
porém, o que posso dizer para essas pessoas é que prefiro errar tentando ser
perfeito do que acertar me conformando não necessariamente com um erro, mas com
o que eu gosto de chamar de “espírito da mediocridade”. Minha mãe costuma falar
muito comigo sobre isso, sobre essa “lei do menor esforço”. Ela adora usar essa
expressão, especialmente com relação aos trabalhos domésticos que executamos
diariamente em casa, mantendo de pé a casa que nos abriga.
Seja em casa, seja em
qualquer aspecto de sua vida, minha mãe sempre busca dar o seu melhor, dar tudo
de si, e um dos milhares de motivos pelos quais a amo e admiro como a excelente
mulher que é vem a ser exatamente esse. A capacidade de se doar, de se
entregar, e minha mãe tem 62 anos, ela não tem a menor obrigação de estar se
esforçando da forma como se esforça, mas ela escolheu esse caminho para si, ela
escolheu ir além, ela escolheu continuar em frente onde a maioria de nós, incluindo
a mim mesmo tantas vezes, resolvemos que está bom, resolvemos que está na hora
de parar.
Nós cometemos, muitas
vezes, esse erro do materialismo, de julgar o mundo ao nosso redor e a nós
mesmos por padrões humanos, por padrões de média. Lógico que somos humanos e
temos a tendência de nos medir por nossa própria medida, nossa própria escala,
e isto, como já disse antes, não é necessariamente um erro, é o suficiente. Mas
e se um belo dia eu acordar e quiser mais que o suficiente? E se eu decidir, de
repente, que o bom pra mim não está bom, que eu quero algo mais do que bom, eu
quero algo ótimo, excelente, extraordinário?
É preciso coragem, dedicação,
força de vontade para fazer essa autocrítica das metas de nossa pessoa, dos padrões
pelos quais estamos nos guiando. Será que às vezes, ou mesmo frequentemente,
nós não nos contentamos em preencher requisitos tão pequenos, apenas pelo
prazer igualmente pequeno de sentir que estamos dentro de um padrão, de uma
nota de corte? Um exemplo simples é o exemplo das notas da escola.
Por que raios vemos tantos alunos que
simplesmente se contentam em “passar”, ao invés de correrem atrás do sucesso
absoluto que é uma nota máxima? Por que nos ambientes de trabalho vemos tantas
pessoas “empurrando com a barriga” pessoas que estão ali, do nosso lado, mas
parece que seu coração, sua alma está em outro lugar? Qual é o problema de se
doar, de ir além de querer ir mais longe?
Fiquei especialmente
motivado a falar sobre esse assunto que sempre está pairando em minha mente
quando li uma carta que J.R.R. Tolkien escreveu para um de seus filhos, que
estava fraquejando na fé católica. Tolkien, como é bem sabido, foi um dos
maiores expoentes da catolicismo do século XX, e eu me inflo de orgulho todas
as vezes que posso abrir minha boca para divulgar o catolicismo desse grande
homem.
Enfim, ele escreveu,
o nosso grande amigo Tolkien (que DEUS o tenha!), entre outras coisas que disse
a seu filho, mais ou menos o que estou tentando dizer aqui e agora. Claro que
ele é mais literário do que eu, minha nossa, ele é um modelo a ser seguido em
vários aspectos (não em todos, senão ele seria Cristo), e escreve muitas coisas
belas sobre a fé, sobre como deve ser cuidada, tratada, e onde devo buscar seu
fundamento, e o que devo superar para não deixar que esfrie.
Confesso que hoje,
para mim se tornou mais complicado falar de fé. Estou mais ou menos no mesmo
estado que Carl Jung estava quando disse uma frase que apascenta o meu coração sempre
que eu a leio: “Eu não preciso acreditar em DEUS. Eu sei que ELE existe.” No
entanto, para aqueles que ainda precisam alimentar suas noções de fé,
especialmente se você for cristão, recomendo que dê uma olhadinha, que faz um
bem danado para a alma. Para quem se interessar, o livro é “As cartas de J.R.R.
Tolkien”, da Editora Arte e Letra, ano 2006, pelo menos a primeira edição.
Enfim, uma leitura que recomendo fortemente.
Enquanto, porém,
vocês não adquirem essa obra maravilhosa, recomendo que acompanhem pelo menos
parcialmente o que quero demonstrar através deste link:
Enfim, temos que nos
atentar para essas questões, temos de ter a coragem de ir além, sabe. Penso cá
comigo que a fé é como a linguagem, como a fala. Temos a capacidade inata para
falar, assim como temos a capacidade inata para crer, porém esta capacidade
precisa ser alimentada, precisa ser treinada a aperfeiçoada como qualquer outra
habilidade humana, do contrário jamais se desenvolve. Ao contrário, atrofia,
simplesmente.
Talvez muitos de nós
reclamemos que não temos a fé que gostaríamos de ter, pelo simples fato de que
não nos damos ao trabalho de alimentá-la. E então realmente estamos sendo
hipócritas, preguiçosos e contraditórios, pois se desejamos verdadeiramente
possuir algo, então que coerência há em ficarmos pararmos e não tomarmos
nenhuma providência para conseguirmos aquilo que queremos?
Este texto, que eu
escrevi meio apressado em meio aos afazeres de meu trabalho, não tem a
pretensão de ser um divisor de águas na vida de ninguém. O divisor de águas na
vida de todos nós deve e precisa ser o encontro pessoal com Jesus, o Cristo que
devia vir ao mundo para salvar a humanidade de seu círculo vicioso de enganos e
ilusões, mentiras e maquinações. É isto que muda a vida de alguém de uma vez
por todas. Porém, se acolhido, exte texto pode, quem sabe, ajudar a promover
esse encontro. Assim espero, assim seja. Amém.