Que triste é quando os que não
entendem das coisas da fé nos desafiam com arguições do tipo: “se você é cristão,
porque é que está triste? Não deveria estar sempre feliz, já que supostamente o
seu Deus é felicidade, e blábláblá?”
Primeiramente, vê-se logo que as
pessoas que nos fazem tais perguntas de modo algum sabe o que é a felicidade,
do contrário jamais fariam essa pergunta. Também não entendem nada de
cristianismo nem do próprio Cristo, do contrário saberiam que Ele, mesmo chorou
e sofreu, muito, e que conosco não pode ser diferente, se somos seus
discípulos.
Ele chorou quando Lázaro morreu, Ele suou sangue no Getsêmani, ele
suplicou ao Pai na agonia da cruz...no entanto, Cristo humano foi feliz a tal
ponto de poder contagiar os outros com a sua felicidade, com a sua paz, como o
seu amor.
O fato de sermos cristãos, para
nós que somos cristãos, não quer dizer que nós nunca iremos ficar tristes.
Alguém mais sábio do que eu disse que ter Jesus em nossas vidas não quer dizer
que nós nunca iremos passar por tempestades. Quer dizer que, nas tempestades
pelas quais passarmos, poderemos ter a certeza de que jamais iremos naufragar.
Muitas vezes nós estamos tristes,
não porque a carga sobre os nossos ombros é pesada ou porque nos faltam bens ou
comodidades. Na verdade, não raras vezes a tristeza em nosso coração decorre da
nossa falta de virtude e da nossa ingratidão. Exageramos o peso que carregamos,
atribuindo a ele um valor desproporcionalmente maior do que ele de fato possui,
e, por outro lado, esquecemo-nos de dar valor àquilo que possuímos.
Outras vezes nos desesperamos,
temos crises de fé. Deixamos nossa visão das coisas ficam embaçada por temores,
por preocupações, e esquecemos de quanta coisa boa nos tem acontecido, e então
realmente estamos em uma situação complicada. E nos cercamos de situações de
euforia, de euforia e loucura, para tentar esquecer o qual somos infelizes
nessas horas.
Apenas um coração em paz, apenas
uma mente serena e um sublime estado de espírito são capazes de fazer surgir em
nós as condições apropriadas para escapar dessa realidade nada chamativa aos
corações dos homens. Apenas um ser humano livre das amarras deste mundo, ainda
que por breves e diminutos instantes, pode entender a pretensão significativa
deste parágrafo. Apenas um coração nessas condições pode distinguir a
felicidade de verdade da mera euforia, e, assim prevenido, voltar-se para
aquela e fugir desta como o diabo foge da cruz (ou de um bom e santo
exorcista).
E o que vem a ser as amarras
deste mundo, que nos impedem de esta alegres, contentes, felizes, serenos e em
paz? Vem a ser tudo quanto nos afaste de Deus. Tudo quanto se possa chamar de
pecado. O pecado devasta a vida do homem, o entristece, rouba as forças e por
fim o mata, porque o afasta de sua vocação última, que é o próprio Criador. É
como se o homem fosse uma árvore, e Deus fosse a terra. O pecado ataca as
raízes do homem, ataca a sua ligação com o solo, ataca a sua comunhão com Deus.
Sem Deus, o homem seca e morre...
***
“O pecado é o motivo da tua
tristeza. Deixa que a santidade seja o motivo da tua alegria”.
(João Paulo II)
Sem dúvida, nada entristece mais
o homem do que o pecado, ainda que ele não tenha consciência disso. Mais do que
apenas deixá-lo triste, ilude-o e o deixa cego para as coisas que realmente
importam, para as coisas que realmente fazem feliz, as coisas que não perecem,
que não passam, que não se perdem, que são eternas.
As pessoas parecem, hoje em dia,
simplesmente tão ocupadas em busca da felicidade que simplesmente não tem mais
tempo para serem felizes. Lembro-me do que disse a esse respeito o apologista
protestante C.S. Lewis: “nada do que não eterno terá valor na eternidade”.
Infelizmente,
desde sempre o homem tem escolhido por valorizar demais as coisas que passam,
as coisas imperfeitas, incompletas e limitadas, a tal ponto que já não
conseguem encontrar em seu coração espaço para acolher o que é eterno. Então,
ser fútil deixa de ser motivo de vergonha, mas de orgulho, então o egoísmo, a
luxúria e a gula são celebrados publicamente, incentivamos e vendidos como se
fossem a solução definitiva para o enorme vazio que todos sentem, mas ninguém
quer admitir...
Por causa de pequenos prazeres
fúteis, por causa de pequenas alegrias efêmeras, vive-se uma vida de migalhas,
sendo obrigado a supervalorizar alegrias tão pequenas diante da necessidade de
amor e de compreensão que sentem os homens, muitas vezes tendo-se que abrir
mãos dos mais lindos e líricos sonhos de criança em prol de uma realidade
imoral, insatisfatória, a ponto de violar a própria natureza do ser, e para
que? Para jamais saciar-se, para estar sempre em busca de mais, de mais e de
mais, numa corrida louca por um prazer que nunca será pleno, e depois a morte
sem jamais ter experimentado o que quer dizer, de fato, estar vivo.
“Por causa de pequenos prazeres
passageiros, sofrem-se grandes tormentos eternos”.
(São João da Cruz)
Os grandes Santos da Igreja
Católica teceram a respeito disso muitos pensamentos. O homem busca a verdade,
busca a felicidade, busca algo para lhe preencher as carências e misérias. Mas
se perde no caminho, como alguém que estivesse à, noite, na beira de um lago e
visse a Lua cheia refletida nesse lago, e, na ânsia de aproximar-se da Lua,
acaba-se confundindo-a com seu reflexo refletido no lago.
E assim, iludido,
troca a contemplação do que desejava de verdade por uma mera imagem, um mero
reflexo de seu objetivo...e acaba se afogando no lago. Assim mesmo é a vida do
homem, quando se deixa iludir pelas coisas que o mundo oferece e perde o rumo,
trocando Deus pelas outras coisas.
Assim, o homem nunca chega ao
conhecimento da verdade, porque nunca transcende. Vive apenas em função das
aparências, vive apenas em função do imanente, do dinheiro, do poder, do “status”.
Assim, nunca chega ao céu, porque seu espírito não é um com Deus.
É uma realidade muito profunda,
que só pode compreender quem já encontrou a Deus verdadeiramente. Enquanto não
se tem Deus, enquanto não se entrou na verdadeira intimidade de Deus, não é
possível compreender a magnitude das palavras desse texto. Somente quem já
conhece a Deus pode compreender as minhas palavras. Conhecer aqui é um verbo
especial, que vai muito além de ter ouvido falar, muito além de atitudes
simples, de ocasiões esporádicas.
O Deus cristão é um Deus Pessoal.
É um Deus que se encontra da mesma forma como se encontra uma pessoa. Uma
pessoa que muda toda a nossa vida, muda todo o sentido das coisas. Parece
bagunçar tudo...na verdade está pondo tudo no lugar. Só Deus coloca sentido nas
coisas e faz o homem, enfim, feliz.
“O homem tem um vazio tão grande
que somente Deus pode preencher”.
(Bento XVI)
***
A história da Igreja, a história
da Família de Cristo, está repleta de homens e mulheres que tiveram suas vidas
totalmente transformadas por Deus, por pessoas que ousaram querer mais da vida,
mais do mundo, e acabaram dessa forma encontrando finalmente o que buscavam, no
momento em que descobriram Deus:
“A busca por Deus é a busca da
felicidade. O encontro com Deus é a própria felicidade.”
(Santo Agostinho)
Quando me debruço sobre os
escritos de Santo Agostinho, fico impressionado com o seu fascínio por Deus, impressionado
com o seu encantamento pelo Criador. Ele lamenta profundamente como demorou
para encontrar Deus, como demorou para encontrar o seu Amado. Santo Agostinho
amava muito Deus, amava o tesouro que havia encontrado.
"A paz que eu dou não é a paz que o mundo dá"...
(Evangelho de São João, Capítulo 14, versículo 27)
Só Deus, só Deus pode satisfazer
os desejos e aspirações do coração humano. Só Deus pode fazer o homem feliz,
porque só Deus pode realizá-lo. O mundo não é o suficiente para o coração
humano. É preciso algo maior que o mundo, é preciso algo maior tudo. O homem é
faminto pelo infinito, e o seu espírito anseia pelo que não tem limites. Anseia
por Deus, em outras palavras, ainda que não se dê conta disso.
“Lembrai-vos de fazer escala,
frequentemente, no porto do silêncio interior onde podeis encontrar a resposta
a todas as vossas aspirações mais íntimas: Deus. Este é o caminho da paz, da
alegria, da felicidade; ancorar nossa fragilidade humana na força de
Deus...Fazer repousar o barco da existência, assiduamente, no misterioso e
pacífico porto da vida interior e da oração: aí encontrareis a força para
continuar navegando e também o próprio rumo da navegação”.
(Papa Pio XII a um grupo de
oficiais da Marinha brasileira em Castelo Gandolfo)
Em Deus eu encontrei tudo o que
precisava e queria desde o princípio. O Amor, a Paz e a Felicidade. Em Deus,
minha ansiedade passa, minha melancolia e inquietação dão lugar à serenidade e
à contemplação sorridente. Muitas pessoas chegam comigo dizendo que sou tão
bom, mas isso nem de longe é verdade. Eu me conheço, sei que não valho nada. É
Deus, é Deus quem me faz bom, e quieto, e sereno. Sem Deus, sou um ser humano
realmente digno de pena.
“Fizeste-nos, Senhor, para Ti, e
o nosso coração anda inquieto enquanto não repousar em Ti.”
(Santo Agostinho)
Depois que se experimenta Deus,
não há mais volta. Não há mais paz, não há mais descanso, porque então você
encontrou uma coisa tão sensacionalmente boa que você quer sempre voltar a ela,
você quer sempre aquela sensação única, aquele amor tão intenso e enorme que
você sente como se fosse explodir de felicidade. Deus é maravilhoso, nunca
enjoa, nunca abandona, nunca decepciona, nunca entristece.
Nos Evangelhos, vemos a figura do Cristo que passa mudando a vida das pessoas. Pessoas desesperadas, pessoas abandonadas, pessoas que não tinham mais a quem recorrer, e que encontraram em Nosso Senhor a resposta para suas angústias, e o refúgio seguro pelo qual ansiavam. Cristo não se contentava em simplesmente entrar na vida das pessoas, antes Ele mesmo se tornava a própria vida daqueles que cativava.
Quando vejo o que Jesus fez na vida daquela samaritana, quando vejo o que Ele fez com Zaqueu, com Pedro, com Maria Madalena, quando vejo o que ele fez com aquelas pessoas todas...como não se fascinar por esse homem, esse ser fantástico, apaixonante...
"Ele passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demônio"...
(Atos dos Apóstolos, Capítulo 10, versículo 34)
***
A alegria nas coisas de Deus é,
em última análise, o próprio Deus. Ele é a nossa vocação final, ele é a nossa
Eternidade. Fala-se muito da santidade como vocação primordial, mas eu gostaria
de ir um pouco além aqui, e dizer que a santidade é instrumento que realiza a
vocação última que é Deus. Nós somos vocacionados para Deus, e a santidade é
como iremos viver essa vocação!
"Fica comigo, Senhor, pois tenho necessidade de Ti".
(trecho da oração de São Pio de Pietrelcina)
***
Enquanto o mundo mergulha em uma
confusão crescente, enquanto o pecado de multiplica, cabe àqueles que
encontraram o Senhor a missão de manter viva a esperança, de guardar a fé! De
dizer às pessoas que é possível ser feliz, é possível encontrar motivos para
sorrir e querer bem a si mesmo e aos outros em a necessidade de trapaças, sem a
necessidade de futilidades e de safadezas, e de desmandos e de corrupção.
É preciso
manter firmemente hasteada a bandeira da honestidade, é preciso lutar e
derramar o sangue pelo Direito e pela Justiça, é preciso combater ferrenhamente
toda e qualquer mentalidade maquiavélica que busca instrumentalizar os homens e
a dignidade da pessoa humana.
É de uma extrema incongruência
que alguém tenha se encontrado com Deus e continue a adotar uma postura
relativista, uma postura de conivência com o mau e com tudo o que há de torto
neste mundo. Se alguém tem o Amor de Deus dentro de si, então não lhe será
possível ficar parado: certamente será compelido a fazer alguma coisa.
É preciso perguntar-se, afinal de
contas, o que é que se quer da vida. Queremos o dinheiro, queremos o status,
queremos o poder? Então continuemos a levar as vidas que levamos, e certamente
conseguiremos o que buscamos. Mas se queremos, se ousamos querer mais, então
precisamos mudar radicalmente nossas atitudes.
Aos que compreendem minhas palavras, nenhuma outra atitude será suficiente, a não ser a da heroica defesa do nome de Nosso Senhor, a não carregar corajosamente Seu glorioso estandarte no campo de batalha. A não ser perseverar até a morte.
Porque para o cristão nada pode ser melhor que a morte por Nosso Senhor. Morrer por Ele, para encontrar-se com Ele.
“A felicidade tem um nome e tem
um rosto: o de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
(Bento XVI)
Nenhum comentário:
Postar um comentário