Translate

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Rabiscos bipolares

Preliminarmente: o autor, pensando em melhorar a interação com seus leitores, criou uma conta no Ask. Aos interessados: http://ask.fm/CarlosAndreAlencarAssumpcao





Uma voz doce, e um ritmo alegre. A tristeza não consegue acompanhar a música e, derrotada, vai sentar-se em um canto e se embebedar. Quanto a mim, continuo no salão, dançando e sorrindo, saboreando o meu triunfo.

Você deixaria que eu me alegrasse com você? Deixaria-se ser totalmente minha, sem restrições, sem horários, sem compromissos e sem preocupações? Simplesmente se deixaria viver um momento bom comigo, sem todas aquelas perguntas e medos que não levam a canto nenhum?

Dançaria comigo, até ambos ficarmos suados, grudados um ao outro? Deixaria eu sentir vosso cheiro, deixaria eu me perder nos aromas da tua mocidade? Serias minha companheira em uma dança só nossa, em um ritmo exclusivo, secreto?



Serias minha musa, serias o motivo de eu me alegrar enquanto caminho olhando os outros casais e penso: "não se compara ao que possuo"?

Serias uma melodia doce que me temperasse a falta de sabor do passar lacônico das horas que sempre diminuem enquanto a morte se aproxima no futuro incerto, mas inexorável?

Mais do que tudo, serias qualquer dessas coisas, antes de seres mais que apenas um conjunto de palavras que o homem escreve indeciso entre o desejo e a desesperança?

***

Homem andando no escuro. Minto. Na penumbra. Uma penumbra azulada, uma penumbra muito esquisita, sem dúvida. O homem combina com ela, é esquisito, também. Incompreensível, perturbador, hediondo para os demais. Seu sorriso inexplicavelmente feliz aterrorizaria toda uma multidão de passantes, mas não há uma viva alma a fazer companhia ao caminhante.

***

Sabe do que eu sinto falta? De estar com você. Estar com você, só você. Não com você e o receio da prova de logo mais. Não com você e os compromissos do dia seguinte. Não com você e o horário de ir embora. Não, nada dessas coisas que te deixam tensa, que te deixam arisca, e tão difícil de contentar.



Sabe do que eu também sinto falta? De respostas. Não sinto a menor falta dos teus silêncios constrangidos, não sinto falta de tuas feições esquivas. Deteste os teus "ais", especialmente quando eles veem aos pares. Se fôssemos um par semelhante a esses teus "ais", seríamos um casal simplesmente inseparável.

Mais do que tudo, sinto falta daquela única tarde, daquela única tarde que vai se apagando da lembrança. Sinto falta daquele único momento, sinto falta de algo tão lindo e tão precioso...e você não faz ideia do que estou falando.

***

Enquanto isso, tenho de me ver ficar sem palavras diante de pessoas que se preocupam, preocupam demais com bobagem. Preocupam-se demais comigo, quando deviam estar preocupando-se com coisas mais importantes. Deviam estar se preocupando com aumentar os seios, com comer chocolate até não aguentar mais, com ficar com o bonitão ou bonitona que se mudou para o condomínio semana passada...era com isso que deviam estar se preocupando.



Deveriam estar se preocupando em tirar uma, duas, trezentas fotos, até finalmente aparecer não como você é, mas como gostaria de ser para se sentir bem consigo mesmo, e aí sim poderia então se preocupar em publicar a bendita foto em uma rede social qualquer, quem sabe usá-la em um encontro virtual, ou até mesmo em uma orgia virtual, e todos nos lambuzaríamos em um gozo de pixels e de mentira.

***

Que palíndromo desgraçado! É como um espelho invertido onde a minha felicidade e a minha tristeza se refletissem mutuamente. Uma vive em função da outra, e ambas vivem nos teus olhos, e nessa tua cara de peixe-morto que me consome de uma vontade crescente de te dinamitar do mundo dos vivos e jogar teus pedaços dentro de buracos-negros vorazes que te devorassem até o último átomo.

***

Grite comigo. Urre comigo. Ponha esses monstros para fora. Deixe de medo besta, deixe de frescura, deixe dessas bobagens que só estão te atravancando. Os espinhos são para proteger a rosa do carneiro, do carneiro e das pessoas grandes. Não tem utilidade com relação ao jardineiro que só vem regar, e podar, e admirar. Você tem que se despir, se despir dessas dúvidas, se despir desse receio que está lhe sufocando, lhe matando as raízes...



Quantas vezes já lhe disse, quantas mais tenho que dizer? Não se ganha nada com o medo, ao contrário, se perde tudo. O medo é devorador de sonhos, ele os engole sem mastigar, e nunca se sacia. Vejo o medo em seu rosto. Ele desfigura sua beleza, sobrecarrega suas feições, endurece todo o teu corpo. Como o hálito frio do Crocito, ele lhe envolve em um inverno dos infernos, e o diabo se alegra, sabendo que lhe roubou a felicidade ainda mais um dia. E a minha também, porque meu coração sofre junto ao teu.

***



O castelo é enorme, imponente, e acabado como o rosto de uma velha amargurada. A luz, a luz se foi há tempos, todas as tochas se apagaram, todos os vitrais se estilhaçaram...tudo que era casto, e puro, e inocente, foi corrompido pelo fel de uma vida de ilusões, de meias verdades, e de noites em claro, noites de remorso e pensamentos mórbidos.

A princesa cresceu, preparando-se para um príncipe que nunca chegou, porque não existe, é só uma história criada para justificar você ficar com essa pose na janela, esperando, esperando e esperando, e deixando passar o tempo, as oportunidades...e a felicidade. E ficou velha, encurvada, e com um coração de pedra, de uma pedra afiada que rasga a carne e faz escorrer um sangue pastoso, um sangue insalubre.

Como me lamentarei nesse dia, minha cara! Não por mim, não pelos que se foram. Não pelos mortos, mas pelos vivos. É pelos vivos que se chora, meu amor, é por esta vida desgraçada que lhe rouba o teu sorriso, e de quebra o meu...

***

Quantas vezes, quantas vezes eu quis reunir tuas confusões debaixo dos meus braços, quantas vezes quis acalmar esse coração que bate acelerado? Quantas vezes eu vi a confusão no teu caminhar, quantas vezes vislumbrei a falta de rumo em teus passos apressados e quis gritar para você...

 ...quis remendar com minhas ações, endireitar teus caminhos
 e consertar, e te podar, aparar os teus espinhos
quis te ajudar, quis amparar, tantas vezes corrigir
e em meio aos vossos desaforos e desfeitas persistir...

Mas só ficarás feliz quando me vires desistir.












Nenhum comentário:

Postar um comentário