Tem
certas ocasiões em que a gente vê umas coisas tão tristes ou tão devastadoras
que precisa parar e pensar bastante sobre várias coisas, desde a origem do
universo até o que levou as pessoas a decidiram que o sinal vermelho era pra
ser vermelho e não cor de burro quando foge, por exemplo.
Essa
semana, aqui em Manaus, mais especificamente na quarta-feira, aconteceu um
crime tão impressionante que até as grandes emissoras de todo o país, ou seja,
do eixo Rio-São Paulo, deram destaque ao fato hediondo. Chateado fico já
preliminarmente, porque aí Manaus vai ficando cada vez mais conhecida como uma
cidade que além do Teatro Amazonas e do pólo industrial só tem índio, onça
pintada e agora violência e coisas ruins.
Pois
bem, acho que todo manauara acabou sabendo, de um jeito ou de outro, da mulher
que atraiu sordidamente outra para dentro de uma casa, e ali a golpeou com um
facão, levando-a à perda da consciência, para então abrir-lhe o ventre com uma
gilete e tirar de lá de dentro o feto, que inclusive foi também golpeado, e
logo a seguir sair pela rua com ele. Enfim. Não entro em mais detalhes porque é
desnecessário, e ainda por cima de mau gosto.
Quer
dizer, eu cheguei da autoescola (estou fazendo o processo de habilitação,
finalmente!), e dou logo de cara com a minha mãe falando uma coisa dessas, um
absurdo. Ou seja, a gente chega da rua cansado, querendo apenas relaxar, mas
não pode porque a desgraça e a chateação desse mundo deram um jeito de te
esperar dentro da tua própria casa! Complicado, não é?
Bem,
não sou nenhum veadinho, não vou desmaiar se ver sangue nem ficar sem ação
diante da ação do mal, porém o que me impressionou negativamente nisso tudo foi
como o mundo é especialista em jogar apenas o pior dele pra cima da gente. Tudo
quanto é notícia ruim, desgraça, maldade, tudo é espalhado pelo vento aos
quatro cantos do planeta.
Eu
não vejo telejornal, é muito difícil. Quando vejo, é da tevê a cabo, que é mais
especializado e fala sobre assuntos diversos, e aí volta e meia aparece uma
coisa boa aqui e outra ali. Jornal de tevê aberta, de jeito nenhum. Mas de
jeito nenhum, mesmo.
Meu
irmão brinca comigo, diz que eu vivo em uma alienação, que preciso ver o Jornal
Nacional pra me manter informado. Mas eu discordo dele totalmente nesse ponto.
Vamos lá.
Eu
não assisto a droga do jornal, e digo isso sem nenhuma vergonha, porque eu já
sei do que é que eles vão falar. Posso não saber em linhas específicas, mas em
linhas gerais já tem todo um roteiro. Tantas pessoas morreram não sei aonde.
Guerra entre fulanos e cicranos se intensifica. Negociações de paz no
tantofazquistão não avançam. Crime aumenta. Morte. Destruição. Estado de
alerta, e por aí vai.
Ou
seja, a pessoa tem a presença de espírito, por assim dizer, de, em outras
palavras, me recomendar o seguinte: Passe o dia na rua, vendo um monte de
coisas ruins. Veja mendigos, veja sujeira, veja poluição, enfim, veja TODAS AS
DESGRAÇAS da sua cidade durante o dia. Depois, à noite, não contente apenas com
as desgraças de onde você vive, SE INFORME TAMBÉM DAS DESGRAÇAS DO RESTO DO
MUNDO.
Quer
dizer, na minha opinião, que pode estar certa, pode estar errada, mas continua
sendo a minha opinião, esse negócio de querer ficar informado, antenado, por
dentro, não passa de um monte de termos fantasiosos e hipócritas pra expressão
“tiro no pé”. Porque é exatamente isso o que as pessoas que assistem essas
coisas fazem.
Os
ditos “informados” ficam com a bunda na frente daquele aparelho dos infernos
enchendo a cabeça com um bando de informação INÚTIL apenas para se tornarem ou
pessoas depressivas, ou pessoas desiludidas, ou pessoas ásperas, ou pessoas
desconfiadas, ou pessoas que já viram tanta violência e desgraça que já se
tornaram anestesiadas por tudo isso e nem ligam mais, acham que o mundo é assim
mesmo, ou uma mistura de tudo isso que não tem quem ponha na minha cabeça que
faça outra coisa ao ser humano que não o mal!
Quer
dizer, a pessoa SE FAZ MAL! Assistir a essas coisas, a essas porcarias que eles
chamam de jornal, é um atentado que a pessoa pratica contra ela mesma! De que
adianta eu me revoltar se os caras estão tacando bomba na embaixada americana
lá na caixa prego se eu não sou nem capaz de me importar com a bomba que eu
estou deixando essas emissoras de televisão estourarem dentro da minha casa,
dentro do meu coração? Caramba!
Essas
malditas emissoras, essas malditas pessoas que ficam veiculando a desgraça
sobre a terra, você acha que elas se importam com isso? Elas querem é que tenha
desgraça, mesmo, assim elas podem ficar veiculando mais e mais coisas que chamam
atenção, e ficam lucrando com isso, lucrando com isso!! Você fica ali, na
frente da televisão, entorpecido com aquela sucessão de imagens nojentas, e aí
aparece aquela droga daquele comercial enfiando minhoquinhas na tua cabeça.
Tudo programado, tudo estudado previamente, e você que nem um palerma, se
deixando levar por tudo isso!
Olha
um exemplo interessante disso, aqui no Brasil. Aquele gordo do Datena, um homem
que se promove através da desgraça e do sofrimento alheio. Você pode passar nos
lares mais humildes deste país pela parte da tarde quando exibe o programa
daquele homem, nem sei que horas que é aquilo, que eu não vou perder meu tempo
com uma tolice dessas, mas toda santa vez que eu vou cortar meu cabelo, chego
no cabelereiro tá a televisão ligada naquela bosta, naquele monte de excremento
que é aquele programa.
Aí
fica aquela figura cômica, imensa, do Datena, ocupando metade da tela, com
aquela voz irritante dele, falando as piores coisas. TEM QUE MATAR UM BANDIDO
DESSES! PENA DE MORTE! MATARAM O TRABALHADOR! Enfim, coisas assim. E aí eu fico
olhando aquilo e penso: o que é que esse infeliz faz de concreto pelo homem
trabalhador? Resposta: nada! Ao contrário, ele usa a desgraça do pobre coitado,
do mais humilde dos homens, oprimido pela maldade de outrem, para se promover,
para ganhar audiência, para ganhar ibope! Porque morte, dor, sofrimento, dá
audiência!
Eu
não sei o que raios tem dentro do homem que ele é atraído pelo desgraça! Todo
mundo fala que não quer saber de desgraça, fala que não gosta dessas coisas,
beleza. Mas fica vendo o jornal onde só passa desgraça, como eu já falei, e no
trânsito, meu DEUS! Tem um acidente numa faixa só, a avenida tem quatro faixas,
mas engarrafa tudo! E por quê? Porque as pessoas PARAM para olhar o acidente!!!
Elas realmente PISAM NO FREIO e PARAM seus automóveis, motos, veículos de
carga, NAVES ESPACIAIS, o escambau, para ver o acidente, para ver a miséria e a
fragilidade do gênero humano.
Todo
mundo quer ver. Ninguém quer ajudar. Todo mundo se revolta, sentado dentro de
seu quarto, com sua coca-cola do lado em frente ao seu notebook, no
ar-condicionado. Enquanto isso, o mendigo fica lá fora, no frio, sem coca-cola,
sem notebook, sem ar-condicionado e sem ninguém porque ninguém vai até ele. Ou
será que não?
Sim,
de fato, não! Há gente por aquele mendigo, muita gente, aliás. E não me refiro
aos programas assistencialistas enganadores do governo comunista desse país,
não me refiro a ong’s integradas por pessoas doidas para poderem dizer para si
mesmas que ajudam alguém e que por isso não precisam se sentir mal consigo
mesmas antes de dormir.
Refiro-me
às ordens religiosas. Refiro-me a São Francisco de Assis, cuja festa a Igreja
celebra hoje, 4 de outubro, com sincera alegria e profunda veneração. Refiro-me
à Madre Tereza de Calcutá, que acordou todos os dias às quatro da manhã por
mais de cinquenta anos para passar remédios nas feridas dos mendigos.
Refiro-me
ao Frei Fugêncio, ao Frei Sebastião e a tantos outros, que todos os dias, aqui
na minha Manaus, saem do Convento de São Sebastião para ajudar os mendigos,
abrem as portas da igreja para receber os homossexuais do centro que ninguém
quer acolher, para aconselhar e exortar os bêbados em cuja reabilitação ninguém
mais acredita.
Dessas
pessoas, desses monumentos de caridade, que desde o início da história da
Igreja passam pelo mundo fazendo o bem, não se houve falar nos jornais, não se
houve falar na televisão, no rádio, nem mesmo nas conversas entre os próprios
cristãos. Caridade não dá Ibope. Bondade não dá audiência. Ninguém para e fica
olhando um irmão franciscano, beneditino, o que for, ajudando um pobre, porque
isto não é um acidente, não é uma desgraça.
Como
é hipócrita, o espírito humano. Mesquinho, baixo, rasteiro. Nós ficamos
inventando desculpas para não fazer o bem, e ficamos malhando aqueles que o
fazem, para ver se desistem e assim podemos novamente dormir tranquilos à noite
em nossas vidas egoístas: “eu não faço o bem, mas tudo bem...ninguém mas faz, e
quem faz, faz mal...” Conheço muita gente assim, que não move um pelo para
ajudar alguém, mas fica procurando defeitos na conduta de quem se esforça para
fazer o bem.
Quer
dizer, quanta incoerência, quanta imbecilidade. Quanta conivência com todo esse
sistema de morte, que evidencia a desgraça e esconde a bondade das pessoas! Nós
nunca veremos em nenhum jornal laico a notícia de que as obras de caridade
cresceram ao redor do mundo, porque não é interessante para os poderosos deste
mundo que você saiba disso! É importante, sim, você saber das guerras, dos
desastres, das catástrofes, porque assim vai ficando cada vez mais manipulável
por tudo isso.
Para
quê gastar meu dinheiro suado com caridade? Afinal, com as coisas do jeito que
estão, o mundo pode acabar a qualquer momento! Tenho que gastar meu dinheiro
nas lojas, comprando e aproveitando o máximo que posso! Aproveitar o hoje,
aproveitar o hoje!
Religião?
Cristianismo? Não beber em excesso, não dar corda para o consumismo, para os
vícios, para as novelas cheias de intrigas e fofocas, para a televisão e seus
comerciais hipnotizantes, gastar meu dinheiro fazendo caridade ao invés de
comprar coisas das quais eu NÃO tenho necessidade? Que tragédia isso seria para
o capitalismo, para os empresários! Para as redes de comunicação! E elas tem o
poder para impedir que isso aconteça. E o vem fazendo brilhantemente ao longo
dos anos.
Cuidado,
cuidado com o que você assiste, com o que você ouve, com o que você lê.
Cuidado! Porque sem você saber, foram plantando na sua cabeça uma cultura, um
padrão de comportamento, de pensamento, e você fica aí todo iludido, dizendo
para si mesmo “eu sou uma mente livre e independente, estou liberto das amarras
da ignorância, do passado, do arcaísmo, da ignorância e da superstição!”
Será?
Deus é inocente,a mídia não.
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