Dammant quod non intellegunt...
"Eles criticam aquilo que não compreendem"...
***
Houve uma época em que tive certeza de que a culpa pela situação do nosso país era da imprensa e do governo, dos empresários, dos latifundiários, etc. Já tive a minha época vermelha. Depois tive uma época em que pensei que a culpa era do povo, e de tudo o que está relacionado ao pouco. Enfim, houve uma época em que as coisas eram mais simples, e era muito fácil apontar o dedo nesta ou naquela direção, sempre que me era arguido que apontasse os culpados.
"Eles criticam aquilo que não compreendem"...
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Houve uma época em que tive certeza de que a culpa pela situação do nosso país era da imprensa e do governo, dos empresários, dos latifundiários, etc. Já tive a minha época vermelha. Depois tive uma época em que pensei que a culpa era do povo, e de tudo o que está relacionado ao pouco. Enfim, houve uma época em que as coisas eram mais simples, e era muito fácil apontar o dedo nesta ou naquela direção, sempre que me era arguido que apontasse os culpados.
Houve uma época em que, quando se falava de Brasil, era muito fácil dizer quem eram seus aliados, e quem eram seus inimigos, por mais que, dependendo do lado que você fosse consultar, a resposta fosse ser totalmente diferente. Uma das coisas boas do mundo bipolar era essa. Havia apenas duas opções, opostas entre si. Comunismo x Capitalismos, Deus x diabo, Homem x Mulher. Um mundo mais simples, mais enxuto.
Hoje isso não acontece mais, de
modo algum. Fora eu mesmo, me tem sido extremamente difícil dizer de quem é a
culpa pelo que vem acontecendo no Brasil e no mundo em geral. Aliás, conforme
se vai crescendo e absorvendo mais e mais conhecimento, e ouvindo mais e mais
opiniões, a verdade é que o próprio conceito de Brasil, de mundo, enfim, da “vida,
o universo e tudo o mais”, vai se tornando cada vez mais nebuloso, e amplo,
amplo demais.
O mundo multipolarizado, cosmopolita, globalizado, pós-moderno, que seja, é uma enorme salada de frutas em todos os sentidos. Para onde você olha tem um chinês, todas as grandes cidades do mundo possuem anúncios em sei lá quantos idiomas, e todos os pregadores de todas as religiões andam saltitantes pelas ruas, quando os próprios conceitos religiosos não se misturam para nos promover uma mistureba cosmológica, com combos que se traduzem desde cristianismo + capitalismo = teologia da prosperidade, até comunismo + cristianismo = teologia da libertação.
Antes, cada bancada no Congresso sentava em sua área respectiva. Hoje, quem entra na Casa Legislativa Nacional não sabe se está em um Parlamento ou em uma ode ao caleidoscópio. Todas as formas combinadas, todas as cores misturadas. Todos os ideias que moveram a humanidade por séculos aparados, podados, remodelados. Perdidos.
Antes, cada partido possuía uma ideologia e um programa de governo definido. Todo mundo parecia saber o que fazer para resolver os problemas do mundo. Os comunistas estavam certos da ditadura do proletariado. Os capitalistas até onde eu sei também pareciam muito confiantes em sua proposta de vida Ainda atualmente continuam com esse otimismo que é característico das ideologias puras, muito embora a realidade continue a golpear fortemente essa forma de pensamento.
Enfim, sendo romântico e superficial, tudo era mais simples. A verdade estava ao alcance de todos. O que mais se via eram pessoas felizes da vida entrando em milícias dos dois lados, tudo em defesa da verdade, essa grande necessidade do condição existencial da nossa espécie. São famosos os relatos ao longo da jornada temporal da civilização os conflitos que se travaram em nome da verdade, ou do que se considerava a verdade. Todos bateram e todos levaram: católicos, protestantes, judeus, muçulmanos, budistas (sim, budistas!), capitalistas, comunistas, monarquistas, democratas, anarquistas...todos motivados e previamente absolvidos pelo bem maior de estarem lutando e matando por tudo o que é mais justo, correto e moral. Todos com as consciências anestesiadas pela certeza de que estavam fazendo o certo.
Certeza. Certeza é a palavra-chave. O que ajuda a entender porque hoje em dia todas as portas do entendimento nos parecem fechadas.
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Antes, cada partido possuía uma ideologia e um programa de governo definido. Todo mundo parecia saber o que fazer para resolver os problemas do mundo. Os comunistas estavam certos da ditadura do proletariado. Os capitalistas até onde eu sei também pareciam muito confiantes em sua proposta de vida Ainda atualmente continuam com esse otimismo que é característico das ideologias puras, muito embora a realidade continue a golpear fortemente essa forma de pensamento.
Enfim, sendo romântico e superficial, tudo era mais simples. A verdade estava ao alcance de todos. O que mais se via eram pessoas felizes da vida entrando em milícias dos dois lados, tudo em defesa da verdade, essa grande necessidade do condição existencial da nossa espécie. São famosos os relatos ao longo da jornada temporal da civilização os conflitos que se travaram em nome da verdade, ou do que se considerava a verdade. Todos bateram e todos levaram: católicos, protestantes, judeus, muçulmanos, budistas (sim, budistas!), capitalistas, comunistas, monarquistas, democratas, anarquistas...todos motivados e previamente absolvidos pelo bem maior de estarem lutando e matando por tudo o que é mais justo, correto e moral. Todos com as consciências anestesiadas pela certeza de que estavam fazendo o certo.
Certeza. Certeza é a palavra-chave. O que ajuda a entender porque hoje em dia todas as portas do entendimento nos parecem fechadas.
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Hoje eu venho até meus leitores
como uma vítima da contradição. Da contradição ideológica, epistemológica,
vernacular, conceitual, cara de pau que parece estar presente em tudo o que
olho, sinto e tateio. Meus sentidos, que outrora foram-me fonte de respostas
simples e objetivas, hoje se perdem em meio a especulações sensoriais
inconclusivas, impertinentes.
Notadamente, fico muito chateado
tendo em vista os últimos acontecimentos nas grandes capitais brasileiras nos
últimos dias. Chateado em ver o sangue escorrendo, as balas voando pelos ares e
no meio disso tudo pessoas da direita e da esquerda deturpando a verdade dos
fatos, falando disparates, adulterando dados, estatísticas e imagens, tudo em
nome de promover a própria bandeira individualista enquanto os símbolos da
pátria são pisoteados no campo de batalha.
Que triste é ver que tantos estão
preocupados com o próprio nariz, tantos estão preocupados em estarem com a
razão, e tão poucos estão preocupados com o país! O Brasil atravessa um momento
conturbado em todos os sentidos, e as pessoas reclamam, reclamam, e nada fazem.
E, quando fazem, muitas vezes acabam fazendo errado.
Rebeliões dos índios se espalham
pelo território da nação. A economia é simplesmente um desastre. O sr. Mantega
(chamado humoristicamente de “manteiga” pelos que buscam rir para não chorar) se
tornou a mais trágica piada nacional dos últimos tempos. As grandes revistas de
economia ao redor do mundo o elegeram para seu ridículo preferido na
atualidade.
A atitude se justifica. Ouso até
dizer que, se alguém quiser acabar com qualquer nação ao redor do mundo a longo
prazo, tudo o que precisa fazer é extrair o dna do Guido Mantega, depois criar
clones dele, e então deixar eles crescerem a e então dar um jeito de lotá-los
em pontos-chave da administração do país que se quer destruir. O sucesso será
estrondoso.
Enfim, este é o único ponto em
que expressarei uma certeza no texto inteiro, penso eu, e é uma certeza deveras
sombria e apocalíptica. Sinal de que realmente as coisas vão indo muito mal
para o meu lado.
Alguém poderá então pensar que este católico apostólico romano monarquista está bambeando em suas convicções. Desde já esclareço que não, embora não seja fácil, de fato. Todos os dias o mundo pós-moderno, com suas mais variadas propostas, parece tão mais atraente e promissor do que o modelo de vida medieval que procuro viver...todos os dias o desafio de encontrar Deus, e amá-Lo e adorá-Lo permanece. Todos os dias cada uma das minhas convicções é desafiada, ou abertamente criticada ou desprezada.
Me auxiliando nessa missão, estão a educação e o estudo, e o senso crítico. Sem eles, há muito este que vos escreve teria perecido no mar de ideologias em que navegamos todos os dias. Um mar enorme, revoltoso, onde a maioria das pessoas, sem saber, já se afogou.
Alguém poderá então pensar que este católico apostólico romano monarquista está bambeando em suas convicções. Desde já esclareço que não, embora não seja fácil, de fato. Todos os dias o mundo pós-moderno, com suas mais variadas propostas, parece tão mais atraente e promissor do que o modelo de vida medieval que procuro viver...todos os dias o desafio de encontrar Deus, e amá-Lo e adorá-Lo permanece. Todos os dias cada uma das minhas convicções é desafiada, ou abertamente criticada ou desprezada.
Me auxiliando nessa missão, estão a educação e o estudo, e o senso crítico. Sem eles, há muito este que vos escreve teria perecido no mar de ideologias em que navegamos todos os dias. Um mar enorme, revoltoso, onde a maioria das pessoas, sem saber, já se afogou.
A verdade é que todo esse suposto
acesso à informação que a modernidade nos prometeu na verdade só veio a
confirmar, para nós, sedentos do saber, a extensão da nossa própria ignorância,
e elucidar de maneira vergonhosa e solene como na verdade somos tão facilmente
prisioneiros das meias-verdades e parcialidades da vida.
Não vou mentir, invejo, invejo de
verdade a segurança argumentativa dos ignorantes. Não que eu não seja
ignorante, na verdade me considero o ignorante por excelência. Quanto mais
aprendo, mais me dou conta de que não sei de nada. E isto não pretende ser
filosófico, ou poético, ou mesmo pedante, como podem crer alguns. É
simplesmente uma constatação talvez um pouco chateada que o autor se vê na
obrigação de compartilhar com todos.
Você vê as pessoas mais simples,
tão cheias de convicções, cheias de segurança em suas ideias e em seus
paradigmas. Como deve ser maravilhoso ser uma dessas pessoas que são manipuladas,
enganadas. Ser a massa de manobra, além de dar pouquíssimo trabalho, é garantia
de alegria todos os dias. Nenhum problema é seu, nenhuma dúvida perturba a sua
cabeça. As grandes discussões políticas, existenciais, religiosas, filosóficas,
passam longe, problema de pessoas estranhas e distantes em lugares igualmente
estranhos e distantes.
Como deve ser maravilhoso, e juro
que falo sem a menor ironia, poder encher a boca de ar e bradar sem o menor
receio: “é assim porque eu acho que é”, ou “é assim porque o pastor/padre/papai/prefeito
falou”. Que leveza de espírito deve proporcionar estar livre da obrigação de
pensar, de refletir, de criticar!
Então a mente pode ser livre para
pensar em todas as pequenas futilidades da vida, então você pode simplesmente
sentar a sua bunda em uma cadeira ou poltrona ou sofá e ficar o dia todo que
Deus dá jogando videogame, adicionando contatos no facebook, lendo as últimas
novidades sobre o mengão, vendo Malhação, Pânico na TV, etc, etc. Quero essa
vida para mim! À forca com a política, à guilhotina com a filosofia. Queimem a
Summa Theologica, como Lutero fez! Queimem os livros que guardam ideias das
quais discordamos ou não compreendemos, silenciam as bocas dos contestadores
subversivos!
Aí então, aí então nós seremos
felizes! Ou será que não? O que é a felicidade, o que é a vida, o que é a
morte? Mas espere, por que estou a me preocupar com isso! Ah, mas que bobagem,
é para isso que eu voto naqueles políticos dos quais sequer me recordo o nome!
Que me importa que se apropriem da coisa pública e que editem leis absurdas, e
que atirem balas de borracha, e que julguem segundo a injustiça? Enquanto não
tocarem na novela das oito, tá tudo bem!
E enquanto todos continuam
vivendo suas vidinhas medíocres porém confortáveis, a pátria sofre, silenciosa,
que lhe tomaram a voz; cega, que lhe arrancaram os olhos; surda, que lhe arrancaram
os ouvidos, e assim sucessivamente. A pátria vegeta, enquanto os diferentes
elementos do Estado guerreiam uns contra os outros na Paulista e em Copacabana,
doente terminal que nenhuma alma cristã tem a decência de visitar.
***
***
Este texto é medíocre, eu sei. Eu
não aponto propostas para resolver o problema, não tomo partido, não digo nada
de novo, não acrescento nada a discussão. Por isso, o autor se lamenta,
sinceramente. Ele gostaria muito de poder propor mudanças, e pensamentos, e
paradigmas. Ocorre, porém, que as coisas estão misturadas de uma tal maneira
que este que ora vos escreve já não é sequer capaz de vislumbrar onde termina a
esquerda e começa a direita, onde é em cima, onde é embaixo.
A vida muitas vezes é assim. Estamos tão ocupados vivendo as coisas que nem temos tempo de verificar se elas se sustentam diante de um debate honesto, de uma argumentação sólida, de uma simples prova dos nove. São Tomás de Aquino, que provavelmente foi um dos homens mais inteligentes de todos os tempos, discorreu muito sobre esse problema, o problema da verdade.
Dizia o Doutor Angélico que todo ser humano, se bem educado e imbuído de espírito de honestidade, será capaz de chegar ao conhecimento da verdade sobre Deus e sobre as coisas ao seu redor. Inclusive, argumenta que o principal e mais verdadeiro sentido em que "o homem foi feito à imagem e semelhança de DEUS" reside justamente no fato de que ele possui a razão, a capacidade de compreender, de raciocinar. O que hoje a Psicologia chama de "funções mentais superiores".
O problema, segundo o santo, é que durante vida somos acometidos por três problemas. Ou não temos informações o bastante para construir nossos pensamentos, ou não temos tempo para pensar, ou não temos como debater de maneira honesta, que seria a forma ideal de chegarmos ao conhecimento da verdade. É possível convencer uma pessoa honesta e minimamente inteligente de qualquer coisa que seja verdadeira, desde que haja tempo suficiente. Infelizmente, tempo e honestidade nunca foram abundantes ao longo da história. E o resultado são as maiores contradições possíveis...
A vida muitas vezes é assim. Estamos tão ocupados vivendo as coisas que nem temos tempo de verificar se elas se sustentam diante de um debate honesto, de uma argumentação sólida, de uma simples prova dos nove. São Tomás de Aquino, que provavelmente foi um dos homens mais inteligentes de todos os tempos, discorreu muito sobre esse problema, o problema da verdade.
Dizia o Doutor Angélico que todo ser humano, se bem educado e imbuído de espírito de honestidade, será capaz de chegar ao conhecimento da verdade sobre Deus e sobre as coisas ao seu redor. Inclusive, argumenta que o principal e mais verdadeiro sentido em que "o homem foi feito à imagem e semelhança de DEUS" reside justamente no fato de que ele possui a razão, a capacidade de compreender, de raciocinar. O que hoje a Psicologia chama de "funções mentais superiores".
O problema, segundo o santo, é que durante vida somos acometidos por três problemas. Ou não temos informações o bastante para construir nossos pensamentos, ou não temos tempo para pensar, ou não temos como debater de maneira honesta, que seria a forma ideal de chegarmos ao conhecimento da verdade. É possível convencer uma pessoa honesta e minimamente inteligente de qualquer coisa que seja verdadeira, desde que haja tempo suficiente. Infelizmente, tempo e honestidade nunca foram abundantes ao longo da história. E o resultado são as maiores contradições possíveis...
Católicos e evangélicos
defendendo a pena de morte, justamente quando nosso Deus é o Deus da vida,
esquerda e direita se traindo dentro dos próprios quadros, jogando no lixo seus
próprios ideais, médicos defendendo a cultura da morte, soldados batendo e
apanhando, o sangue de tantas pessoas misturado no chão construído com o braço
forte do povo tupiniquim.
Nessas horas, fica o autor desolado, pensando que, como vem ocorrendo ao longo dos tempos todos, a verdade vem sendo deixada de lado, vem sendo esquecida, desprezada. O ser humano continua incapaz de transcender as pequenas coisas de sua realidade, continua incapaz de sair da casca da existência e mergulhar mais a fundo nos mistérios de tudo o que o rodeia. Prefere, ao contrário, se aproveitar de tudo em benefício apenas de si mesmo: do próximo, da família, da pátria e da religião.
Nessas horas, fica o autor desolado, pensando que, como vem ocorrendo ao longo dos tempos todos, a verdade vem sendo deixada de lado, vem sendo esquecida, desprezada. O ser humano continua incapaz de transcender as pequenas coisas de sua realidade, continua incapaz de sair da casca da existência e mergulhar mais a fundo nos mistérios de tudo o que o rodeia. Prefere, ao contrário, se aproveitar de tudo em benefício apenas de si mesmo: do próximo, da família, da pátria e da religião.
E, no meio disso tudo, eu sequer consegui me decidir se deveria terminar esse texto com a frase de efeito "a única certeza da vida é a morte", ou se deveria ter utilizado "só sei que nada sei". Pra vocês verem, pra vocês verem...
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Mas, pra não dizerem que tudo é desgraça, tomem aí uma música de qualidade, que faz bem.
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Mas, pra não dizerem que tudo é desgraça, tomem aí uma música de qualidade, que faz bem.
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