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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Sofrimento e Justiça: um casamento necessário

E aí, pessoal, beleza? Finalmente, finalmente hoje tem tudo para ser um dia assim mais tranquilão. Fora as fortes emoções da noite, logo mais, quando o Vascão pega o Lanús da Argentina, buscando vaga para quartas de final da Libertadores, tudo indica que será um dia sem maiores surpresas.

Falando em surpresas, a primeira surpresa de hoje é justamente a de que o trânsito, pelo menos desta vez, não amanheceu tão caótico quanto costuma amanhecer. Manaus também não amanheceu tão quente, e hoje deve acabar sendo um dia até agradável para os padrões equatoriais a que se acostumou a sociedade amazonense.

Bom mesmo, essa hora, deve ser morar em Porto Alegre. Por lá está fazendo sol, mas as temperaturas estão ótimas, como quase sempre. Faz tempo que eu não sei o que é poder sair ao sol sem me sentir como um beduíno do deserto, só que sem túnica. Inclusive, sempre fui a favor do uso da túnica ou de guarda-sol por toda a população manauara, apenas, infelizmente, ainda não tive tempo de começar essa campanha. Aliás, nem tempo nem dinheiro, principalmente.

E por falar em falta de tempo, Nossa Senhora! Que loucura que estão os TRE`s ao longo te todo o Brasil, hoje! Como sempre, pessoal deixou pra última hora para regularizar, modificar ou retirar seu título de eleitor. Engraçado como, trabalhando bem pertinho do TRE-AM, pude reparar com um sentimento que ainda estou definindo como a cada dia que se aproximava o fim do prazo, mais a fila aumentava. Como eu já falei inda agora, pessoal deixando pra última hora.

A maioria das pessoas na fila são jovens, o que é lastimável. Se ao menos fosse gente mais adulta, cheia dos compromissos, obrigações e afazeres, inda vá lá. Mas, não, é gente mais nova do que eu, e eu só tenho 20 anos. A displicência e o descaso com prazos e datas importantes é algo que me irrita profundamente. Esse pessoal que está sempre postergando as coisas, deixando pra última hora, invertendo prioridades e trocando os pés pelas mãos. Uma lástima.

O pior é que muitos crescem, tornam-se cidadãos ocupantes de funções importantes na sociedade, e continuam com essa falha terrível de caráter, que é o desrespeito á pontualidade, aos prazos e afins, prejudicando aqueles que dependem deles, a si mesmos e, em última análise, ao seu próprio País.

Penso sinceramente que a fila lá fora, com "quorum" médio de 4 mil pessoas, segundo dados jornalísticos que acabei de recolher, é um merecida lição a essas pessoas. Não me lamento nem me permito doer em momento algum por essas pessoas, exceto pelas que realmente só puderam vir hoje, coitadas. Quanto às demais e a seu espírito displicente, acho muito é merecido e espero que sirva de lição.

Minhas palavras podem parecer duras, severas. Bom, é exatamente essa a intenção. Sempre acreditei piamente na dor e no sofrimento como formas totalmente lícitas de se educar e reformar uma pessoa, desde que haja um sentido na dor ou no sofrimento. Não sou, por exemplo, favorável ao pai que espanca seu filho de maneira totalmente desproporcional aos ilícitos por ele cometidos, nem a favor do responsável que não dá um pingo de afeto para o seu protegido, apenas punição, severidade, frieza ou mesmo desprezo ou desgosto abertos.

Mas não posso deixar de falar com orgulho da forma como fui criado por minha mãe. Quando eu cometia alguma infração maligna, lembro-me que minha mãe sempre me batia usando de proporcionalidade, e até mesmo uma certa elegância típica da minha senhora. Havia inclusive um rito processual na surra.

Primeiramente, minha mãe me levava para a cozinha, onde eu me sentava em um lado da mesa e ela em outro, e então ela me inquiria acerca da minha conduta. Perguntava o que eu havia feito, e, depois que eu respondia, me explicava os porquês de aquilo ser errado. Finalmente, depois de me convencer da antijuridicidade dos meus atos, ia buscar o instrumento de punição-padrão da minha infância: a colher de pau.

A punição era sempre proporcional. Havia condutas punidas com 2 bolos, outras com 4, outras com 6, e assim sucessivamente até o absurdo número de 20 bolos! Doía pra caramba, eu odiava aquela colher de pau com todas as forças do meu ser. Mais de uma vez a escondi em locais de difícil acesso para a minha mente infantil, mas a mamãe sempre achava, isso quando não tinha uma reserva, MAIOR.

Mas jamais dirigi ódio ou rancor contra a minha mãe, nem jamais me achei injustiçado. Mesmo na minha ingenuidade típica dos espíritos em desenvolvimento, eu conseguia enxergar naqueles gestos dela o que hoje me move o espírito de forma constante, como uma chama: JUSTIÇA. E justiça da forma mais simples e eficiente possível.

Não me revoltei, não usei drogas, não fugi de casa (tentei uma vez, confesso, mas fiquei com fome e voltei. Apanhei por isso, lógico), não quis bater na minha mãe nem me envolvi com mulheres vulneráveis para fazê-las sofrer e descontar nelas algum ressentimento oculto. Adoro mamãe, hoje mesmo vou sair para comprar mais um presente de dia das mães pra ela, fora o que comprei ontem.

Meus melhores amigos tiveram uma mãe mais severa do que a minha e hoje são verdadeiros exemplos para mim. Em meu Grupo de Oração, todos temos histórias ótimas de como nossas mães nos ensinaram desde cedo a amá-las e respeitá-las, nem que fosse na base da porrada, e em todos os momentos podemos perceber o ORGULHO estampado na fala de todos os filhos ali presentes.

Claro que eu e meus amigos fomos muito abençoados nesse aspecto. Conheço, também, infelizmente, muitos colegas que não tiveram a mesma sorte, até mesmo dentro da minha própria família. Gente que não conheceu a justiça como eu conheci, mas apenas descargas de raiva e violência desmedida. Lamento sinceramente por elas e não as condeno de modo algum por coisas que elas falam e das quais muitas vezes eu discordo.

Infelizmente, não vivemos em um mundo ponderado. Poucas pessoas, instituições e até países são equilibrados. Por algum motivo, estamos sempre tendentes ao radicalismo, ainda que seja o radicalismo de não ter radicalismo nenhum. Isso tem umas consequências nada agradáveis. Mas ainda bem que existem pessoas ponderadas nesse sentido, e agradeço a Deus pela minha mãe, do jeito dela, ser uma dessas pessoas.

Através dela, pude crescer aprendendo como a dor pode ser não apenas útil, como às vezes até mesmo necessária para o aprendizado e o progresso do ser humano. "Se não vai pelo amor, vai pela dor", costumam dizer os antigos. E, para mi, dizem muito bem.

O grande pulo do gato está em saber ver além da dor, além do sofrimento. Saber fazer da aparente derrota uma alavanca para o sucesso. E aí que está a grande porta divisória da humanidade. Entra aqueles que se deixam vencer, revoltar, derrotar, humilhar pela dor, e aqueles que a superam, bravamente, e marcham, mutilados mas dignos, rumo à vitória final.

Meu Mestre, o Cristo. Vejam como sofreu, e sofreu calado. Poderia ter desistido, poderia ter se revoltado. Poderia ter colocado mil piercings, poderia ter largado toda aquela história de pregar o Reino dos Céus e virar logo Rei, já que mais de uma vez quiseram coroá-lo. Mas não. Ele foi até o fim. Pela sua missão. Por conseguir ver além da cortina de sofrimentos, dor e morte de nosso mundo, cumpriu até o fim o que lhe havia sido ordenado, e hoje somos bilhões e bilhões de seguidores desse Filho de Deus, ao longo da história.

Penso ser um dos piores males do mundo moderno a perda da noção do sofrimento. Hoje ninguém mais quer sofrer. Nem antigamente, mas pelo menos antes havia um sentido, uma filosofia por detrás do sofrimento. Os grandes seres humanos foram moldados no sofrimento. Procure a biografia de qualquer grande home  da história para o lado do bem, e você encontrará uma história repleta de sofrimento. Já falei de Jesus, o Cristo. Pedro, primeiro Para, outro que sofreu para caramba. João Paulo II, penúltimo Papa. Meu Deus, esse sofreu a vida toda!

O Gandhi, o Mandela, a Madre Teresa de Calcutá. Até mesmo personagens fictícios, como o Goku, o Seya...mermão, você para para ver a história dos caras,  é só porrada. Quando o cara pára de apanhar de um lado é porque tem alguém batendo do outro. E hoje você olha pra esses personagens e eles são o que para a humanidade? Faróis, exemplos!

Falta de sofrimento impede o espírito de crescer, impede o desenvolvimento da alteridade. Torna a pessoa superficial, fraca de  vontade e de caráter. Retira das pequenas coisas o seu valor. E mesmo assim o home insiste em fugir de todas as formas possíveis, tapando o sol com a peneira por meio de vícios, fugas, apegos fúteis. E o resultado está aí. Uma sociedade onde cada vez mais está se querendo resolver tudo coo se vivêssemos em um conto de fadas, ao passo que a realidade é cada vez pior.

Temos filhos que não obedecem aos pais, e pais que não sabem como se impor aos filhos. Temos famílias se destruindo, temos as instituições perdendo o crédito. No mundo da economia, temos a Europa e os Eua sofrendo pelas décadas em que esbanjaram, iludindo-se com filosofias de riqueza infinita e crescimento eterno, e que agora pagam a justa conta por terem escolhido por viver uma mentira.

E nós? Que é que vamos viver? Uma realidade dura, porém verdadeira, honrada, como bravos guerreiros lutando nossas guerras todos os dias? Ou será que vamos nos sentar em nossos tronos de demagogia, observando o mundo desfazer-se ao nosso redor só por causa de nossa displicência ou porque "vai doer"?

Hoje, é um fila no TRE. Amanhã, pode ser a fila da sopa, pros que sobreviverem. Já pensou?

Deus abençoe a América, e agora me deem licença que eu vou ver o Vascão. Falei pra caramba de sofrimento aqui, vou lá logo pegar a minha cota de sofrimento, também.

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