Comerciais, grandes comerciais. Por décadas eles veem preenchendo o vazio existencial que surge em nossas cabeças entre os programas fúteis e superficiais que vemos, para preencher vazios maiores.
Tudo existe, ao que parece em alguns momentos, para esse preenchimento do vazio. Em escala macroscópica, os cientistas não cansam de alardear o vazio do universo. Uma galáxia aqui, outra a alguns milhões de anos-luz de distância, todas se afastando cada vez mais e entre elas um gigantesco, cada vez mais enorme.
Ás vezes surpreendo a mim mesmo, pegando-me absorto no vazio desses comerciais, que duram tão pouco e ao mesmo tempo custam tanto dinheiro, gerando parte considerável da receita das grandes emissoras e praticamente sustentando as menores.
Não, como já disse, que os programas sejam muito melhores. Cada vez mais, vemos pessoas caindo numa rotina terrível da rotina do entretenimento. Assistimos sempre os mesmos programas, buscamos o mesmo tipo de vídeo no youtube, lemos os mesmos jornais, os mesmos blogs. O homem moderno parece prisioneiro desse binômio rotina-vazio. Para escapar do vazio, refugia-se na rotina, que o angustia. Mas não pode abrir mão dela, sob pena de voltar ao vazio.
Fico pensando, nessas horas, nos dilemas da filosofia e da sociologia do homem pós-moderno. Em como cada vez mais o homem percebe que está em um monte de nada, indo pra nada. Ou pelo isso é o que a filosofia reinante tenta colocar pra gente. Penso especialmente na lógica neo-ateísta e na sua idolatria ao nada, ao vazio, ao acaso. O nada se tornou tudo para a humanidade, está institucionalizado, como se fosse a única resposta possível para nossas perguntas, o paradigma final e absoluto do existencialismo humano.
De onde viemos? Do nada. Para onde vamos? Pro nada. Qual o sentido da vida? A vida não tem sentido. O que é certo, o que é errado? Nada é certo nem errado, depende do ponto de vista. Tudo é relativo. Não há parâmetros, não há referências, não há onde se segurar. Não há nada, nada nada, um nada tão absolutamente vazio e ao mesmo tempo presente em nossas vidas que é quase como se fosse alguma coisa.
Fico me perguntando: como isso foi acontecer? Como foi que chegamos a esse ponto, por Deus! Começamos como homens das cavernas, de mentalidade pouco mais desenvolvida do que a de nossos atuais gatos e cachorros, passamos pela filosofia cósmica do mundo antigo, pelo teísmo sistemático da Idade Média, pelo racionalismo ateísta porém otimista do modernismo, para então chegarmos a isso?
Vivemos nossas vidas de forma louca, nos entregando aos nossos vícios, instintos e vontades mais imediatas, instigando uns aos outros em todos os sentidos para nos dirigirmos toda para essa festa interminável, essa utopia terrena de prazeres, e para quê? Para um belo dia acordarmos e ao olhar para o espelho vermos que temos 40, 50, 60 anos e que a vida de outros tempos vai escorrendo lentamente por todos os poros de nosso corpo, fugindo, invisível, dissipando-se no vácuo que nos cerca?
Então, depois de milhares de anos de construções morais, filosóficas, religiosas, políticas, matemáticas e sei lá mais o que, tantas ciências, tanto conhecimento, e vamos estancar nessas pasmaceira existencial de bosta? Que angústia, que desgosto!
Hoje, para para conversar com as pessoas, e a conversa delas é de uma pequenez de espírito, de alma, de caráter! Há um conformismo moral em todas as esferas, uma desilusão sistematizada em nossas matrizes de pensamento. Gente inteligente é sinônimo de gente desconfiada, descrente, normalmente ateísta. Antigamente se admiravam os homens que surgiam como rochas de convicção, retidão, perseverança. Hoje idolatramos os chamados "adaptáveis", os dissimulados.
* * *
Uma das várias definições de inferno com a qual cresci não é de um local de sofrimento, fogo, diabo e por aí vai. Admito mesmo que essa noção de dor é tão grande que não consigo sequer concebe-la em minha mente, de tal forma que não me assusto muito com esse inferno, embora reconheço perfeitamente que deveria, e quem sabe não estou apenas enganando a mim mesmo?
A noção de inferno que me apavora, que me tira o sono, que me angustia, é a noção de inferno como o local onde não há Deus. O local onde o Tudo, o Absoluto, a Rocha, não está. No inferno não há consolo, não há referências, não há limites, apenas a alma pecadora suspensa num vazio de dor imensurável. Mais do que a dor física, a falta aguda de coordenadas dilacera o espírito e o pensamento de tal forma que este já não é mais possível.
Não há um único padrão a ser seguido, uma única fórmula confiável. Apenas a certeza da incerteza e do vazio cada vez maior, cada vez maior, e você ali naquele vácuo, seu espírito sendo esticado pela diferença de pressão até finalmente esticar-se, dilacerar-se, explodir, sumir, e você ser engolido pelo nada e se tornar parte dele.
Esse, sim, é o inferno que me assusta, esse, sim é o inferno que eu temo. Local de escuridão, local de vazio, onde nem mesmo as sinistras maquinações do diabo podem manter-se em unidade. Ali, finalmente, tudo se dispersará, tudo se desmanchará, tudo se tornará o nada que hoje os homens idolatram em pensamento mas do qual instintivamente fogem, acuados, amedrontados, em pânico, subitamente tão mortais e sem sentido.
Com efeito, faço minhas as palavras do profeta Isaías: "Buscai ao Senho enquanto se pode achá-Lo. Invocai-O enquanto ainda está perto" (Isaías 55, 6). Porque um dia, quando o Tudo não mais puder ser encontrado, quando o nada apagar toda a esperança e todo o potencial da mente humana e quando finalmente satanás conseguir seu intento de arrastar-nos todos para o seu abismo, então não haver~´a comercial nem bebiba, nem orgia, nem festa, nem doces, nem nada. A não ser, claro, nada.
"MEU DEUS, EU CREIO, ADORO, ESPERO E AMO-VOS. PEÇO-VOS PERDÃO POR AQUELES QUE NÃO CREEM, NÃO ADORAM, NÃO ESPERAM A NÃO VOS AMAM."
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