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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A tradição, a revolução e os romaninhos - parte 2

Dando continuidade ao enorme esforço de intelectualidade que venho empreendendo esses dias, não que seja grande em si, mas se torna grande tendo em vista dois fatores: o seu fim, que é o de argumentar a favor da Santa Igreja, e o seu meio, no caso, eu, que estou doente, e vocês sabem que a doença é para a mente uma coisa horrível!

Para  quem não leu o post anterior e não quer perder a discussão, segue link abaixo;


Pois bem, dando prosseguimento. Eu dizia, basicamente, sobre como me incomoda essa atitude tão horrível de muitas pessoas de dar as costas a tudo o que é tradicional, e abraçar sem pensar duas vezes tudo o que é revolucionário, pelo simples fato de ser revolucionário. E critiquei especialmente a forma como isso vem ocorrendo na Igreja Católica, justamente uma instituição que se preza, entre outras coisas, pela sua imensa tradição bimilenar.

já ouvi todo tipo de raciocínio e filosofia sobre isso, sobre essa fuga da tradição, essa fuga de qualquer coisa sedimentada. Uma que eu gosto muito, que inclusive é de um grande filósofo cujo nome agora não me recordo, lá pela década de 1990, ainda. Falando em uma das comissões do Senado, ele falava sobre como a mídia exerce um papel fundamental como manipuladora das massas, especialmente na sociedade de consumo em que vivemos.

Dizia ele que é óbvio que não é conveniente para os poderosos, especialmente para as grandes companhias e para os poderes políticos, que as pessoas tenham valores e tradições sedimentadas. É fundamental, no mundo em que vivemos, que as pessoas não tenham tempo de se acostumar com nada, não tenham tempo de se apegar a nada. Assim, podem ser mais facilmente manipuladas pelos políticos e pelos empresários, tornando-se o que cientistas políticos e economistas chamam de "massa de manobra".

Isto é extremamente simples, na verdade, e exatamente por ser tão simples é tão assustador. As pessoas são, deliberadamente, deixadas a deriva em um mar de ideologias, pensamentos, produtos, para que possam ser deslocadas ao bel-prazer dos poderes deste mundo, de forma que sejam atingidos os objetivos dos poderosos, e as pessoas jamais saiam desse marasmo.

Da mesma forma que essas casas pré-fabricadas podem ser montadas e desmontadas em um único dia, justamente por não terem nenhum tipo de sedimentação, nenhum alicerce firme (o que absolutamente não é a situação de minha residência, a qual, agora que está pronta, não tem jeito, pra tirar daqui, só derrubando), da mesma forma que a gente quando criança, e mesmo adulto, pega aquelas pecinhas de Lego e faz o que quer com elas, assim fazem com as pessoas, e isso me deixa triste pra caramba.

Antes que eu me esqueça, outro aspecto: as pessoas modernas são, supostamente, inteligentes, então deveriam perceber que estão sendo usadas e fazer algo contra isso. Isso, no entanto, é um problema que os grandes líderes, especialmente os ditadores logo depois de assumirem o poder, mas também os modernos populistas, sempre souberam contornar. A solução aqui também é simples demais, basta ter poder para fazer acontecer.

Vou ilustrar com um exemplo medieval, conforme fez Maquiavel muito antes de mim. Falemos do rei Felipe, o Grande (engraçado como tantos monarcas gostam de ser chamados assim), rei da Espanha mais ou menos pela época em que o autor de "O príncipe", dentre outros livros muito bons, ganhava a vida ensinando aos governantes a arte de se manter no poder.

Ensina-nos Maquiavel que Felipe, embora sendo um rei que tomasse medidas extremamente controversas e fosse homem de súbitas guinadas políticas (uma hora estava a favor do Para, outra hora contra, só pra dar um exemplo que eu tenho conhecimento) jamais teve problemas de popularidade nem teve de enfrentar nenhuma revolta, levante ou qualquer outra coisa do tipo, e por um motivo muito simples: Felipe sabia manter o povo impressionado.

Estava sempre promovendo guerras contra algum povo, estava sempre promovendo obras grandiosas, usando o dinheiro das pilhagens para construir enormes prédios públicos e catedrais (que na época também eram prédios públicos, haja vista que Igreja e Estado eram unidos), sem contar sua movimentando vida pessoal, um verdadeiro prato cheio para as fofocas tanto na corte quanto nas praças dos plebeus.

Quer dizer, todos estavam, segundo nos conta Maquiavel, simplesmente tão vislumbrados com todas as maravilhas que o rei fazia que simplesmente não havia tempo para pensar no que ele estava fazendo, se era certo ou se era errado, se valia ou não valia a pena. O governo era um verdadeiro espetáculo, a tal ponto que, quando os opositores do rei se organizavam para criticar os pontos negativos de um de seus atos, ninguém mais queria saber, pois que o rei já estava no meio era de outro empreendimento, e aí é aquele velho jorgão jornalístico, "notícia velha não é notícia", o povo quer saber é das novidades.

Tenho ainda muitos outros exemplos de coisas para dar, e muitas coisas para dizer. mas agora fiquei sem tempo, senhores. No próximo post, continuarei. Abraço a todos, que Deus abençoe!


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