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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Gravitando para o AMOR

Uma das mais complicadas, inúteis e frequentes empreitadas humanas é, infelizmente, a de reprimir os próprios sentimentos.

Primeiramente, porque é muito difícil, para não chegar ao cúmulo de dizer impossível fazer tal coisa. Claro que força de vontade feroz o homem pode chegar a resultados espetaculares tanto para o bem quanto para o mal, mas não é disto que estamos falando aqui, desse homem singular, essa coluna da humanidade.

Aqui o foco da vez é o homem médio, esse cidadão ordinário (sem nenhum intuito de diminuir, é bom que se esclareça de pronto), eu e você, se vossa senhoria se permite incluir no grande bolo da plebe humana (novamente sem a intenção de ofender ou diminuir ninguém), e é sobre este aspecto marcante de sua existência que me proponho a me por a dizer todo tipo de opinião totalmente descabida.

Oras, é bem sabido que os sentimentos são imanentes ao próprio SER humano. Mesmo os grandes mitos do homem dedicam especial atenção aos sentimentos e como eles moldam não apenas as pessoas, mas o transcendente, o universal. Os gregos descreviam seus deuses como seres extremamente passionais, capazes de grandes explosões de amor em uma hora e igualmente grandes explosões de ira em seguida.

Os contos gregos nos falam de deuses enciumados, apaixonados, desesperados. Inclusive temos deuses que literalmente encarnam sentimentos, e sentimentos que são verdadeiramente a manifestação da presença e atuação de determinados deuses.

Mesmo o cristianismo foca demais nessa questão dos sentimentos de DEUS. "Deus é amor", isto já é bem difundido e sentido pelos amigos do Todo-Poderoso. O sentimento impera, reina, sustenta o universo inteiro, pois o próprio eixo central de todas as coisas pode ser satisfatoriamente descrito como um sentimento.

Assim, temos que o sentimento, a paixão, são coisas boas em si. Elas fazem parte do que somos, e não somos nenhuma porcaria. Donde se explica, então, que não poucos integrantes da raça humana dediquem boa parte de seu tempo a esconder seus sentimentos, a reprimi-los e a fingir que não exercem nenhum poder sobre eles? Sim, fingir e enganar-se, pois o simples fato de quererem reprimir o que sentem já é prova de o sentimento tem, sim, muito poder sobre suas vidas.

Penso que um dos motivos mais marcantes e comuns para isso seja justamente o que decorre de o sentimento ser parte de nossa própria essência. Somos o que sentimos. Ao sentir, ao deixar o sentimento extrapolar de mim e se manifestar no mundo, eu estou me revelando para o mundo e para o meu próximo. E isto, humanamente falando, é bastante perigoso, não é mesmo?

Quantas vezes a gente demonstra as coisas mais legais, mais bonitas e puras que sente para alguém, e essa pessoa faz pouco caso disso, ou sadicamente destrói tudo de bom que quisemos construir? Quantas vezes não podemos mostrar o que somos, não podemos dizer um verdadeiro "eu te amo" para alguém, pelo simples fato de que o outro não vai compreender, não vai levar a sério, ou pior, vai agir com verdadeira hostilidade contra nós?

Sentir é expor-se, é mostrar-se como se é, e temos medo disso. Bastante medo, na verdade, do contrário não nos esconderíamos atrás de estilos, ideologias, grupos sociais e o que mais pudermos usar como casca para recobrir o que somos por dentro.

E assim acabamos, muitas vezes, reprimindo nossos sentimentos e o que somos, pelo simples fato de que não encontramos ninguém em quem possamos depositar a confiança de mostrar o que somos! Como, em um mundo marcado pelo humor de massa, como, em uma sociedade do espetáculo, anestesiada por doses constantes de violência, pessimismo, indiferença e morte, pode o ser humano simplesmente encontrar outro ser humano?

Esta é apenas uma das grandes dificuldades do homem pós-moderno, essa ilha solitária no meio de tantas outras ilhas solitárias. A humanidade inteira é um arquipélago, sem nenhuma península ou ponte ligando os homens uns aos outros. Estamos presos em nós mesmos, encurralados em nossos próprios pensamentos e em nossas próprias conclusões.

Daí acabarmos reprimindo tudo, daí acabarmos escondendo tudo. Daí nos perdermos e nos frustrarmos, até o ponto de a única coisa que somos capazes de externar é raiva. Sim, raiva essa que vem da frustração de não conseguir realizar o maior e mais imanente sonho de qualquer ser humano, que é o de amar e ser amado.

Como cristão, creio e sei sinceramente em meu coração que a vocação e finalidade mais essencial do homem é o amor. O homem não atinge a felicidade, não se realiza de modo algum, a não ser no amor. O resto são apenas acessórios, apenas meios, apenas frivolidades vazias. O essencial, o que preenche e que satisfaz de verdade, esse é apenas o amor, a essência de tudo, a natureza do próprio DEUS.

Mesmo nossa sociedade secularizada, laica, indiferente a Deus e descrente mesmo de Sua existência, não consegue desvincular-se da importância do amor. Oras, vá ao cinema qualquer dia de qualquer semana de qualquer ano e me diga se não tem pelo menos um filme de amor por lá, seja numa relação de paixão seja numa relação de amizade. Amor vende, gera receitas de bilheteria!

Outro dia desses, vendo BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE, não pude deixar de notar a fala do Alfred (o mordomo) para o seu amo, onde lhe dizia que seu grande sonho era que ele fosse feliz. E o que era a felicidade para Alfred, e também para Bruce Wayne, e também para 99% ou mais dos leitores! Muito simples: encontrar alguém para amar e ser amado, independentemente de você ser branco, negro, católico (continue assim!), protestante, ateu, capitalista, nudista, e já deu.

***
Hoje, eu gostaria apenas disso. De encontrar alguém para me mostrar aquilo que eu sou, de fato. Alguém que me permita, que me dê esse prazer imenso de poder ser aquilo que eu sou, sem reservas, sem mentiras, sem subterfúgios. Hoje, eu sei que isto pode até não ser a tua prioridade caro leitor. Mas sei que é um pensamento que sempre está em sua mente, nem que seja como uma sombra. 

Sei que ele permeia as tuas atitudes, sei que ele norteia, mesmo inconscientemente, as tuas escolhas. Podes esconder o que sentes, mas não podes evitar o que és, um mendigo do amor como todos os teus pares que vagam no mundo dos vivos.

Sei que desejas confiar, ensinar e ao mesmo tempo aprender. Sei que desejas sentir-se seguro, amparado, sei que desejas sentir aquela mão te segurando forte e te impedindo de caíres no buraco que às vezes cava para ti mesmo. Sei tudo isso, não porque te conheço, pois DEUS sabe que não o conheço de fato, que apenas ELE te conhece. Mas sei que, se fores humano como eu sou humano, então não podes te esquivar disto.

Sei que desejas perdoar e ser perdoado, amar e ser amado, e com isso, se abrir para o mundo, tendo finalmente a certeza e a clara compreensão de que o mundo não se resume a você, mas ao outro. E assim, abrindo-se ao outro que te leva a abrir-se ao mundo, desejo, finalmente e com mais urgência e vontade do que todos os pedidos anteriores, que possas, liberto das amarras de ti mesmo, finalmente abrir-te ao próprio DEUS, ao próprio amor.

Paz e bem!

3 comentários:

  1. O último parágrafo simplesmente prendeu a minha atenção!
    =)

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  2. Obrigado senhorita, feliz em saber que pelo menos o último parágrafo valeu a pena. Às vezes escrevemos tantas linhas inúteis, mas em uma delas reside o que alguém precisa ler! : )

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  3. Não li muitos dos teus tantos posts, confesso, mas já li alguns. E dos que eu li, não me lembro de tantas palavras me falarem tanto ao meu coração e me tocarem tanto como este o fez.

    Descobrir um sentido no amor e assumir esse sentimento é tarefa que tanta gente às vezes passa a vida nisso, e mal consegue. Com certeza, o que busca o mundo.
    O amor em tudo.

    Não consigo dizer, escrever muito mais. Entre bons escritores, deve-se reconhecer que melhor seria não escrever mais do que já foi escrito, não tentar dizer mais do que já dito. Parabéns! EXCELENTE! Apreciável totalmente. Vou reler outras vezes. E vou guardar esse post com amor.

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