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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Um pouco de política, para variar

Há, neste país, uma característica moral que me entristece em alguns momentos e me irrita em outros. Na maior parte do tempo me irrita, confesso. Me irrito com muitas coisas, e com essa em particular.

Sinto uma predileção especial, quase um prazer particular, privado, privativo. Uma exclusividade minha, embora eu saiba que isso de forma alguma é verdade. Enfim, se sonhar que é sonhar não é proibido, penso ser lógico dizer a mim mesmo que contar uma ou outra mentirinha para si mesmo também não o é.

Enfim, imaginem vocês que dia desses estava eu em um desses eventos sociais onde as pessoas se reúnem para comer, beber e rir como se fossem os seres mais felizes deste lado da galáxia. Em determinado momento, encontro um amigo de longa data, que logo me vem querendo saber as opiniões sobre algumas questões morais complexas demais para discutir em festas, mas que se pode fazer, eu não resisto a isso.

Em determinado momento, discordamos. E discordamos de forma inesperada. Porque, enquanto eu pontificava contra falcatruas, enquanto eu discorria contra o peculato, contra manipular a Lei a seu favor, contra receber certos imorais favores, sou subitamente confrontado exatamente por esse meu amigo, que quase parte minha intelectualidade ao meio quando solta esse jargão nacional: “não, Carlos, você tem que ver que o mundo é dos espertos”.

Anos de amizade e sincera admiração explodidos pelos ares em apenas 3 segundos. Não a amizade, claro, mas com certeza uns 80% da admiração. Demorou 8 anos para que eu finalmente me desse conta da figura que estava ali, sentada à minha frente. A figura de um “esperto”. A figura de um malandro.

Uma das principais dificuldade de adaptação de um jogador brasileiro quando vai jogar na Europa é que na Europa não tem essa de "o mundo é dos espertos”. Lá, Neymar jamais se criaria, e não porque ele é ruim, aliás ele não é. Mas porque ele é malandro. Malicioso. Trapaceiro.

 Aqui no Brasil, ele tem em todos os setores da sociedade defensores, gente malandra que nem ele, que se acostumou a galgar os degraus da vida pelas beiradas, pelos cantos obscuros, pelos métodos heterodoxos, para me usar de uma expressão incomum que não traduza de forma literal meus sentimentos de “profundo amor e carinho” por essas pessoas. Na Europa, sairia de campo vaiado, execrado, humilhado. O homem europeu, mesmo sendo trapaceiro e sujo como todos os outros homens, não admite a trapaça. Pelo menos não a trapaça escancarada, a trapaça pública. Se o europeu peca, e é lógico que peca, ao menos tem o mérito de pecar de forma discreta. Até nisso o brasileiro me intriga. Seus pecados são escandalosos.

Vemos o término do julgamento do mensalão. Meu Deus, Princípio e Fim de todas as coisas, que paira acima do tempo e do espaço, acima do Kronos, acima de tudo. Que ridículo. Que vergonha. No Rio de Janeiro eles até organizaram uma passeata para comemorar a condenação da quadrilha mais chique que esse país já teve notícia.

Antes de comemorar também, leitor, peço que você raciocine comigo. Se vivemos em um país que precisa COMEMORAR a condenação dos criminosos, o que isso nos revela a respeito deste mesmo país? Indo mais longe, o que isso nos revela sobre as pessoas que constituem esse país, o que isso nos revela sobre nós mesmos?

Dizem que, na democracia, nada representa mais o povo do que o seu Congresso. No Brasil, isto é absolutamente verdade. Aliás, se o Brasil existisse no tempo de Maquiavel, penso que ele nos citaria várias vezes como uma das mais autênticas democracias do mundo. Aqui, não apenas a vontade, mas o próprio espírito do povo brasileiro adentra nosso Parlamento e o habita, confortavelmente.

O que diferencia um deputado de um homem escolhido aleatoriamente na rua? Em muitos casos, apenas o cargo, porque a mentalidade é a mesma, o espírito maquiavélico é o mesmo. Em nome de vencer, em nome de “se dar bem”, vale qualquer coisa, inclusive trapacear, jogar sujo, iludir, ludibriar. Afinal, o mundo é dos espertos, frase maldita. Aliás, se o mundo é dos espertos eu não sei. Mas o Brasil, não tenho dúvidas.

Aliás, talvez seja esse o nosso problema, sabe. Somos democráticos demais. Talvez devêssemos aprender um pouco mais com Montesquieu, sabe. Nosso conceito de democracia está errado. Aprendemos, espalhamos, lemos no dicionário, que a democracia é a forma de governo onde a soberania é exercida pelo povo. Se isto for mesmo verdade, meu Deus (!), que desastre! Colocar qualquer povo no poder é uma ideia assustadora. Colocar o povo brasileiro no poder é um suicídio coletivo.

Democracia de verdade é aquela onde quem manda é a Lei. Não o espírito do povo, mas “O espírito das Leis” obra-prima do nosso amigo Charles Montesquieu, do qual sou o maior fã, e menos pelo fato de ele ser considerado o pai da democracia moderna do que por ter sido um dos maiores expoentes católicos que a França já teve.

Oras, o que eu estou dizendo pode ser politicamente incorreto, mas é a verdade e todos sabem disso! Você colocaria um popular para cuidar de suas finanças, de sua casa, de sua família? Creio eu que não, então como pode achar normal a ideia de colocar um popular para cuidar de sua própria pátria? Isto só pode significar, para mim, eu ou você é indiferente ao seu país ou o despreza completamente.

O que digo, digo porque amo meu país. Não amo a democracia, pelo menos não essa democracia que vivemos. Se fosse a democracia estadunidense, vá lá, pelo menos lá esses se guiam por Montesquieu, enquanto aqui somos conduzidos por um senhor feudal com nome de animal marinho e sua marionete mascarada de botox. Aliás, o tal do mensalão jamais teria acontecido se certas pessoas “populares” não tivessem chego ao poder.

A democracia erra na essência, erra em dar o poder de decisão ao povo, e o povo não sabe decidir, não sabe escolher, por isso quando escolhe, escolhe mal. Porque não escolhe para o bem do país, escolhe apenas para si. O povo é egoísta, não tem o mínimo de patriotismo, sabe o hino do Flamengo e o do Corinthians, mas não sabe o hino do Brasil, e, diga-se de passagem, nem quer saber.

***

Pitaco nas eleições manauaras. Não é por acaso que os mais populares de todos os populares apoiam Vanessa. Manipulada, repetidora do que lhe mandam dizer, superficial, adepta de táticas escusas e desonestas, ela é a personificação de todas as características mais marcantes do povo brasileiro. Por isso, quanto mais se é povo, mais se ama Vanessa.

Artur, por outro lado, instruído, faixa presta, viajado, é um alienígena para essas pessoas. Um ser de outro mundo, provavelmente uma pseudo-divindade sinistra, cuja história assustadora os pais contam para os filhos, para lhes fazer obedecer-lhes. Artur é incompreensível para eles. Porque fala de amar Manaus, fala de fazer por Manaus.

E o povo, como é bem sabido, é incapaz de amar quem faça algo por qualquer outro ente que não ele mesmo. Ainda por cima, é ciumento, esse povo. E viva a democracia...

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Sobre o que a mídia diz que é importante, e você concorda


Tem certas ocasiões em que a gente vê umas coisas tão tristes ou tão devastadoras que precisa parar e pensar bastante sobre várias coisas, desde a origem do universo até o que levou as pessoas a decidiram que o sinal vermelho era pra ser vermelho e não cor de burro quando foge, por exemplo.

Essa semana, aqui em Manaus, mais especificamente na quarta-feira, aconteceu um crime tão impressionante que até as grandes emissoras de todo o país, ou seja, do eixo Rio-São Paulo, deram destaque ao fato hediondo. Chateado fico já preliminarmente, porque aí Manaus vai ficando cada vez mais conhecida como uma cidade que além do Teatro Amazonas e do pólo industrial só tem índio, onça pintada e agora violência e coisas ruins.

Pois bem, acho que todo manauara acabou sabendo, de um jeito ou de outro, da mulher que atraiu sordidamente outra para dentro de uma casa, e ali a golpeou com um facão, levando-a à perda da consciência, para então abrir-lhe o ventre com uma gilete e tirar de lá de dentro o feto, que inclusive foi também golpeado, e logo a seguir sair pela rua com ele. Enfim. Não entro em mais detalhes porque é desnecessário, e ainda por cima de mau gosto.

Quer dizer, eu cheguei da autoescola (estou fazendo o processo de habilitação, finalmente!), e dou logo de cara com a minha mãe falando uma coisa dessas, um absurdo. Ou seja, a gente chega da rua cansado, querendo apenas relaxar, mas não pode porque a desgraça e a chateação desse mundo deram um jeito de te esperar dentro da tua própria casa! Complicado, não é?

Bem, não sou nenhum veadinho, não vou desmaiar se ver sangue nem ficar sem ação diante da ação do mal, porém o que me impressionou negativamente nisso tudo foi como o mundo é especialista em jogar apenas o pior dele pra cima da gente. Tudo quanto é notícia ruim, desgraça, maldade, tudo é espalhado pelo vento aos quatro cantos do planeta.

Eu não vejo telejornal, é muito difícil. Quando vejo, é da tevê a cabo, que é mais especializado e fala sobre assuntos diversos, e aí volta e meia aparece uma coisa boa aqui e outra ali. Jornal de tevê aberta, de jeito nenhum. Mas de jeito nenhum, mesmo.

Meu irmão brinca comigo, diz que eu vivo em uma alienação, que preciso ver o Jornal Nacional pra me manter informado. Mas eu discordo dele totalmente nesse ponto. Vamos lá.

Eu não assisto a droga do jornal, e digo isso sem nenhuma vergonha, porque eu já sei do que é que eles vão falar. Posso não saber em linhas específicas, mas em linhas gerais já tem todo um roteiro. Tantas pessoas morreram não sei aonde. Guerra entre fulanos e cicranos se intensifica. Negociações de paz no tantofazquistão não avançam. Crime aumenta. Morte. Destruição. Estado de alerta, e por aí vai.

Ou seja, a pessoa tem a presença de espírito, por assim dizer, de, em outras palavras, me recomendar o seguinte: Passe o dia na rua, vendo um monte de coisas ruins. Veja mendigos, veja sujeira, veja poluição, enfim, veja TODAS AS DESGRAÇAS da sua cidade durante o dia. Depois, à noite, não contente apenas com as desgraças de onde você vive, SE INFORME TAMBÉM DAS DESGRAÇAS DO RESTO DO MUNDO.

Quer dizer, na minha opinião, que pode estar certa, pode estar errada, mas continua sendo a minha opinião, esse negócio de querer ficar informado, antenado, por dentro, não passa de um monte de termos fantasiosos e hipócritas pra expressão “tiro no pé”. Porque é exatamente isso o que as pessoas que assistem essas coisas fazem.

Os ditos “informados” ficam com a bunda na frente daquele aparelho dos infernos enchendo a cabeça com um bando de informação INÚTIL apenas para se tornarem ou pessoas depressivas, ou pessoas desiludidas, ou pessoas ásperas, ou pessoas desconfiadas, ou pessoas que já viram tanta violência e desgraça que já se tornaram anestesiadas por tudo isso e nem ligam mais, acham que o mundo é assim mesmo, ou uma mistura de tudo isso que não tem quem ponha na minha cabeça que faça outra coisa ao ser humano que não o mal!

Quer dizer, a pessoa SE FAZ MAL! Assistir a essas coisas, a essas porcarias que eles chamam de jornal, é um atentado que a pessoa pratica contra ela mesma! De que adianta eu me revoltar se os caras estão tacando bomba na embaixada americana lá na caixa prego se eu não sou nem capaz de me importar com a bomba que eu estou deixando essas emissoras de televisão estourarem dentro da minha casa, dentro do meu coração? Caramba!

Essas malditas emissoras, essas malditas pessoas que ficam veiculando a desgraça sobre a terra, você acha que elas se importam com isso? Elas querem é que tenha desgraça, mesmo, assim elas podem ficar veiculando mais e mais coisas que chamam atenção, e ficam lucrando com isso, lucrando com isso!! Você fica ali, na frente da televisão, entorpecido com aquela sucessão de imagens nojentas, e aí aparece aquela droga daquele comercial enfiando minhoquinhas na tua cabeça. Tudo programado, tudo estudado previamente, e você que nem um palerma, se deixando levar por tudo isso!

Olha um exemplo interessante disso, aqui no Brasil. Aquele gordo do Datena, um homem que se promove através da desgraça e do sofrimento alheio. Você pode passar nos lares mais humildes deste país pela parte da tarde quando exibe o programa daquele homem, nem sei que horas que é aquilo, que eu não vou perder meu tempo com uma tolice dessas, mas toda santa vez que eu vou cortar meu cabelo, chego no cabelereiro tá a televisão ligada naquela bosta, naquele monte de excremento que é aquele programa.

Aí fica aquela figura cômica, imensa, do Datena, ocupando metade da tela, com aquela voz irritante dele, falando as piores coisas. TEM QUE MATAR UM BANDIDO DESSES! PENA DE MORTE! MATARAM O TRABALHADOR! Enfim, coisas assim. E aí eu fico olhando aquilo e penso: o que é que esse infeliz faz de concreto pelo homem trabalhador? Resposta: nada! Ao contrário, ele usa a desgraça do pobre coitado, do mais humilde dos homens, oprimido pela maldade de outrem, para se promover, para ganhar audiência, para ganhar ibope! Porque morte, dor, sofrimento, dá audiência!

Eu não sei o que raios tem dentro do homem que ele é atraído pelo desgraça! Todo mundo fala que não quer saber de desgraça, fala que não gosta dessas coisas, beleza. Mas fica vendo o jornal onde só passa desgraça, como eu já falei, e no trânsito, meu DEUS! Tem um acidente numa faixa só, a avenida tem quatro faixas, mas engarrafa tudo! E por quê? Porque as pessoas PARAM para olhar o acidente!!! Elas realmente PISAM NO FREIO e PARAM seus automóveis, motos, veículos de carga, NAVES ESPACIAIS, o escambau, para ver o acidente, para ver a miséria e a fragilidade do gênero humano.

Todo mundo quer ver. Ninguém quer ajudar. Todo mundo se revolta, sentado dentro de seu quarto, com sua coca-cola do lado em frente ao seu notebook, no ar-condicionado. Enquanto isso, o mendigo fica lá fora, no frio, sem coca-cola, sem notebook, sem ar-condicionado e sem ninguém porque ninguém vai até ele. Ou será que não?

Sim, de fato, não! Há gente por aquele mendigo, muita gente, aliás. E não me refiro aos programas assistencialistas enganadores do governo comunista desse país, não me refiro a ong’s integradas por pessoas doidas para poderem dizer para si mesmas que ajudam alguém e que por isso não precisam se sentir mal consigo mesmas antes de dormir.

Refiro-me às ordens religiosas. Refiro-me a São Francisco de Assis, cuja festa a Igreja celebra hoje, 4 de outubro, com sincera alegria e profunda veneração. Refiro-me à Madre Tereza de Calcutá, que acordou todos os dias às quatro da manhã por mais de cinquenta anos para passar remédios nas feridas dos mendigos.

Refiro-me ao Frei Fugêncio, ao Frei Sebastião e a tantos outros, que todos os dias, aqui na minha Manaus, saem do Convento de São Sebastião para ajudar os mendigos, abrem as portas da igreja para receber os homossexuais do centro que ninguém quer acolher, para aconselhar e exortar os bêbados em cuja reabilitação ninguém mais acredita.

Dessas pessoas, desses monumentos de caridade, que desde o início da história da Igreja passam pelo mundo fazendo o bem, não se houve falar nos jornais, não se houve falar na televisão, no rádio, nem mesmo nas conversas entre os próprios cristãos. Caridade não dá Ibope. Bondade não dá audiência. Ninguém para e fica olhando um irmão franciscano, beneditino, o que for, ajudando um pobre, porque isto não é um acidente, não é uma desgraça.

Como é hipócrita, o espírito humano. Mesquinho, baixo, rasteiro. Nós ficamos inventando desculpas para não fazer o bem, e ficamos malhando aqueles que o fazem, para ver se desistem e assim podemos novamente dormir tranquilos à noite em nossas vidas egoístas: “eu não faço o bem, mas tudo bem...ninguém mas faz, e quem faz, faz mal...” Conheço muita gente assim, que não move um pelo para ajudar alguém, mas fica procurando defeitos na conduta de quem se esforça para fazer o bem.

Quer dizer, quanta incoerência, quanta imbecilidade. Quanta conivência com todo esse sistema de morte, que evidencia a desgraça e esconde a bondade das pessoas! Nós nunca veremos em nenhum jornal laico a notícia de que as obras de caridade cresceram ao redor do mundo, porque não é interessante para os poderosos deste mundo que você saiba disso! É importante, sim, você saber das guerras, dos desastres, das catástrofes, porque assim vai ficando cada vez mais manipulável por tudo isso.

Para quê gastar meu dinheiro suado com caridade? Afinal, com as coisas do jeito que estão, o mundo pode acabar a qualquer momento! Tenho que gastar meu dinheiro nas lojas, comprando e aproveitando o máximo que posso! Aproveitar o hoje, aproveitar o hoje!

Religião? Cristianismo? Não beber em excesso, não dar corda para o consumismo, para os vícios, para as novelas cheias de intrigas e fofocas, para a televisão e seus comerciais hipnotizantes, gastar meu dinheiro fazendo caridade ao invés de comprar coisas das quais eu NÃO tenho necessidade? Que tragédia isso seria para o capitalismo, para os empresários! Para as redes de comunicação! E elas tem o poder para impedir que isso aconteça. E o vem fazendo brilhantemente ao longo dos anos.

Cuidado, cuidado com o que você assiste, com o que você ouve, com o que você lê. Cuidado! Porque sem você saber, foram plantando na sua cabeça uma cultura, um padrão de comportamento, de pensamento, e você fica aí todo iludido, dizendo para si mesmo “eu sou uma mente livre e independente, estou liberto das amarras da ignorância, do passado, do arcaísmo, da ignorância e da superstição!”

Será?