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quarta-feira, 19 de junho de 2013

para os meus caros amigos católicos capitalistas e omissos. Enjoy!


"Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo?

(Epístola de São Tiago, Capítulo 2, versículo 14)

"Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma."

(versículo 17)

"Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé".

(versículo 24)

***

Brasil, um país realmente espantoso. Um país realmente único na terra.

Da última vez que eu escrevi neste blog, tudo ainda estava começando, e eu estava recolhendo dados para formar minha opinião e linha de ação. Estava vendo que estilo de nado adotaria quando mergulhasse na piscina da história.

Discuti muito, com muitas pessoas. Com pessoas queridas. Gente da direita e da esquerda, católicos, evangélicos e ateus. Discuti em busca de dados, de fatos, enfim, da verdade.

Impressionante como as versões variam completamente dependendo do lado em que você se encontra, ou de quem vai colher informações. Tem muita gente alienada dos dois lados, tanto de quem é a favor como de quem é contra. A alienação não é característica de A ou B, é geral.

Assim como a arrogância. Quem está de um lado jura que está coberto de razão e que os outros, do outro lado, são uns idiotas, e vice-versa. Lamento muito, muito mesmo. Teorias da conspiração para todos os lados, teses mirabolantes, citações apócrifas. E bom senso que é bom, nada.



***

Não sou direita nem esquerda. Aproximo-me da direita porque sou religioso, e historicamente a direita é associada aos religiosos, mas não devia ser assim. O religioso não serve nem à direita nem à esquerda. Serve a Deus, e acabou-se. O resto é idolatria, é querer atrelar Deus a este ou àquele sistema, é querer transformar Deus em um cabo ideológico ou eleitoral.

Claro que é impossível uma aliança com a esquerda, em geral, por causa especialmente do comunismo, que é essencialmente ateísta. Não somente ateu, mas ateísta. É importante fazer essa distinção. O pensamento comunista não é simplesmente indiferente à religião, ele é abertamente hostil à mesma. O religioso que se alia ao comunismo está dando prova de uma, ou duas coisas: ignorância e falsidade.


Papa João Paulo II: combatente ferrenho do comunismo. Vai encarar?



Mas a direita também não é nenhuma santa, não se você é católico. Entendo que seja mais fácil para um evangélico ser da direita, mas nós católicos não podemos nos deixar simplesmente seduzir pelo capitalismo. Quem escreveu "A ética protestante e o espírito do capitalismo" foi um protestante, e não um católico!

Nós, católicos, escrevemos "O Espírito das Leis". E veja lá como as ideias expressas são bem ao contrário do que pensa, muitas vezes, o lado não-romano da força.

A Igreja Católica não é capitalista. Ela tem alguns pontos gerais de sua Doutrina Social que aproximam do capitalismo, mas nem de longe é capitalista!

Se eu sou capitalista, o que é o mais importante? O capital. Para a Igreja o mais importante não é o capital, é o ser humano. Porque para Deus o ser humano é o que há de mais precioso.

Aconselho muito a leitura dos escritos de Bento XVI e do Papa Francisco sobre o tema. Não precisam acreditar em mim, mesmo porque quem me conhece sabe que eu não falo nada por mim, mesmo, quando se trata de catolicismo, de fé, de religião. Falo o que a Igreja ensina, e disto me orgulho muito!

Mas é muito chato ver como há tantos cristãos que insistem em associar o capitalismo com o cristianismo. Nada disso!

"Ah, mas estamos unidos contra o comunismo, e o inimigo do meu inimigo é meu amigo". Alto lá! Novamente, leiam Bento XVI e Francisco, e depois venham debater comigo.

Para fins ilustrativos, apenas - há muito mais escritos, mas seria contraproducente transcrever todos -, vejamos um trecho particularmente interessante do Discurso de Bento XVI na abertura da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe:

"TANTO O CAPITALISMO QUANTO O MARXISMO prometeram encontrar o caminho para a criação de estruturas justas e afirmaram que estas, uma vez estabelecidas, funcionariam por si mesmas (...). E esta premissa ideológica se demonstrou que é falsa. Os fatos o colocam manifesto.

O sistema marxista, onde governou,  não só deixou uma triste herança de destruições econômicas e ecológicas, mas também uma dolorosa destruição do espírito.

E o mesmo vemos também no ocidente, onde cresce constantemente a distância entre pobres e ricos e se produz uma inquietante degradação da dignidade pessoal com a droga, o álcool e as sutis imagens de felicidade."


Opa, espero não ter decepcionado muitos "fãs"...


Interessante, não é? A Igreja condena tanto o capitalismo quanto o comunismo, ambos são imperfeitos, ambos fazem promessas que não podem cumprir, e mais ainda! Ambos erram porque em nenhum dos dois o ser humano é o foco!

No capitalismo, como eu já disse, o foco é a riqueza, o capital. Está errado. No comunismo, socialismo, o foco é a sociedade, o comum. Errado, de novo! Ambas, a riqueza e a comunidade, só tem sentido e validade quando postas a serviço do Homem! O home é o centro, e não a periferia!

Infelizmente, muitos cristãos se esqueceram disso, e acabaram misturando de maneira equivocada o ideal cristão com o ideal direitista, e não é a mesma coisa! Temos que saber distinguir entre ser da direita, ser conservador, e ser cristão! Nós cristãos não seguimos uma ideologia, não seguimos uma forma de pensamento econômico, seguimos uma pessoa: Jesus Cristo! E isto nos deve ser suficiente!




Mais Bento XVI para fundamentar. Desta vez, trecho da homilia feita por ele na Missa de inauguração da V Conferência do Episcopado para a América Latina e o Caribe. No trecho em questão, o Pontífice Emérito explica o que é o cristianismo:

"Não é uma ideologia política, nem um movimento social, nem tampouco um sistema econômico; É a fé em Deus Amor, encarnado, morto e ressuscitado em Jesus Cristo (...)".

E, se alguém ainda não está convencido da posição da Santa Madre Igreja, adivinhem o que S. Santidade o Papa Francisco nos ensina? Exatamente a mesma coisa!

Há um livro pequeno, mas muito interessante: "Sobre o Céu e a Terra". Escrito pelo então Cardeal Jorge Mário Bergoglio em parceria com o rabino Abrahan Skorka, o livro traz a posição dos dois líderes religiosos com relação a temas variados, como DEUS, aborto, casamento gay, divórcio, política...um livro realmente muito bom.

Pois bem, o trecho a seguir transcrito é o começo do Capítulo 20 - Sobre o comunismo e o capitalismo:

"Na concepção imanente do sistema comunista, tudo aquilo que é transcendente e indica uma esperança além paralisa o trabalho do aqui. Portanto, ao paralisar o homem, é um ópio que que o torna conformista, que o faz aguentar, mas não o deixa progredir.

MAS ESTA NÃO É UMA CONCEPÇÃO APENAS DO SISTEMA COMUNISTA. O sistema capitalista também tem sua perversão espiritual: domesticar a religião. Ela a domestica para que ela não incomode tanto, torna-a mundana. Dá-lhe certa transcendência, mas só um pouquinho.

NOS DOIS SISTEMAS ANTAGÔNICOS PODE HAVE UMA CONCEPÇÃO DE ÓPIO; o comunista porque quer que todo o trabalho seja feito para o progresso do homem (obs. do autor: enquanto ser social, e não enquanto ser individual), concepção que já vinha de Nietzsche. E o capitalista porque tolera uma espécie de transcendência domesticada que se manifesta no espírito mundano.

(...)

Seria algo como: "Comporte-se bem, faça algumas bobagens, mas não tantas". Seriam bons modos e maus costumes: civilização do consumismo, do hedonismo, do arranjo político entre as potências ou setores políticos, O REINO DO DINHEIRO. São todas manifestações de mundanidade".

Bom, acredito que depois dessa deu para ficar bem claro que A Igreja Católica não é comunista, como todos sabem, MAS TAMBÉM NÃO É CAPITALISTA, não é ideológica. A Igreja é Esposa do Cordeiro. Fim.

Isto posto, é lamentável ver tantos católicos assumindo sem a menor vergonha o capitalismo com todos os seus absurdos, com o liberalismo em todos os seus disparates, e ainda por cima querendo dar a impressão de que tal conduta se coaduna com os princípios cristãos, com os princípios católicos. Uma ova!


Então eles querem que você acredite que a Igreja apóia o capitalismo, não é? Mas olha só o que eu tenho a dizer...


Conselho final para esses pseudo-católicos. Que tal darem uma olhada em um documento papal (sim, hoje eu só vou me basear nos Sucessores de São Pedro. Mais católico, impossível) famoso e estudado em quase todas as faculdades, apenas uma "enciclicazinha" papal chamada Rerum Novarum (das coisas novas: sobre a condição dos operários), escrita pelo Papa Leão XIII em 1891. Leiam o que ele fala sobre o comunismo, mas também sobre o capitalismo. Ambos estão errados!

Mais ainda, se informem sobre a alternativa proposta pela Igreja Católica: a Doutrina Social da Igreja. Procurem conhecer a recomendações da Igreja para a questão econômica, para a questão laboral, e parem de ficar usando o catolicismo e o cristianismo em geral como desculpa para as próprias ambições egoístas!


Mas vocês ainda estão nesa? Pensei que tínhamos resolvido isso no século XIX...


É por essas e outras que tanta gente que está "fora dos muros" enxerga o cristianismo como um conjunto de hipócritas. Porque tem mesmo muita gente hipócrita andando pelos nossos corredores!

***
Este texto é uma crítica a todos os alienados que pautam suas condutas em informações equivocadas. É uma crítica aos precipitados de todos os lados, mas também aos morosos, aos demagogos. E nesse ponto tenho de voltar minhas armas contra a chamada direita.

Meu, na boa, qualquer um sabe que para ter moral em qualquer coisa, a pessoa tem que pelo menos participar. Ficar sentado em casa coçando o saco e destilando teorias da conspiração é muito fácil, muito cômodo!

É muito fácil olhar para o que está acontecendo nas ruas e dizer que é tudo da esquerda, que é tudo um plano oculto da maçonaria, do PT, dos aliens...mas tirar a bunda do lugar e pôr a mão na massa que é bom nada, né?

A esquerda pode ter os erros que tiver, mas os caras tem o mérito de sempre terem agido para conseguir o que querem, enquanto a direita fica entocada em casa sem fazer nada. Aí depois reclama, reclama, mas então é tarde demais, né, camarada?

Pior é essa gente que vem dizer: "vamos rezar pra que a situação mude, não precisa sair às ruas, blábláblá". Trocando em miúdos: "vamos esperar cair do céu."

Respondo citando Gabriel o Pensador (intelectuais da direita irão ridicularizar este argumento, mas vamos lá): "não adianta olhar pro céu com muita fé e pouca luta."


Imagina se São Francisco de Assis tivesse ficado bonitinho dentro da Igreja, e o pau comendo no mundo lá fora, e ele nem aí. Imagina se Jesus Cristo tivesse passado toda a sua estadia na terra no alto do monte Tabor. Não ia ter feito muito estrago, né?

Pois tem muito conservador aí que se diz "o seguidor de Cristo", "o discípulo fiel", e fica aí, omisso, bundão, enquanto o mundo pega fogo ao redor. Tem muito cristão aí que não quer saber de "descer do mundo".

Antes, prefere adotar uma postura farisaica de "não tenho nada a ver com isso" ou "não vou me misturar com essas pessoas". Que lindo, que maravilhoso. Só falta chegar no templo e sentar na frente e começar a orar pra Deus:"obrigado, Senhor, porque eu não sou como aquele publicano"...

Pois muito bem, muito bem. Que lindo! Sabe o que essa postura me lembra? A da Alemanha nazista. O Hitler lá, erguendo seu império do mau, e os cristãos, onde estavam para se opor? Ninguém fez nada. "Vamos esperar, vamos orar, etc, etc." Deu no que deu.

Dom Luiz Soares Vieira, Arcebispo Emérito de Manaus, comentava esse tipo de atitude em sua coluna no jornal "A Crítica", uma vez. Ele comentou que leu uma vez um livro de um pastor luterano que retratava o progresso do nazismo na Alemanha, e a omissão (quando não adesão) dos cristãos ao movimento. Todos adotando uma postura passiva, uma postura de inércia. Ou, como eles mesmos gostam de chamar a própria paralisia, "uma postura prudente". Não se arriscar com medo de se misturar com o mal.

Aí, quando viram, era tarde demais. Conta o pastor luterano em seu livro que os nazistas foram para a cidade onde ele pregava e primeiro levaram todos os judeus. Ninguém fez nada. Depois levaram todos os padres. Ninguém fez nada. Então começaram a levar todos os pastores, e ele só escapou porque conseguiu fugir.

Pelo visto tem muita gente aí achando que consegue fugir também, né?


***

Olha o Papa Francisco pintando na área de novo: "Aqueles que deixam de fazer alguma coisa por medo de errar incorrem em um erro maior". Preciso dizer mais alguma coisa?


Eles ainda não tomaram uma atitude? Assim eu vou ter que  mostrar meu outro lado...


Cara, é um raciocínio simples. Em uma guerra, digamos, eu posso fazer duas coisas, além de fugir. Posso lutar, e então pode ser que eu morra, e pode ser que não. Ou eu posso ficar parado enquanto o inimigo toma todo o campo de batalha, e nesse caso eu certamente morrerei.

É isso que a direita está fazendo, caramba! Vocês já imaginaram se a coisa toma proporções maiores e maiores, e no final as coisas dão certo? Presidente afastada, quem sabe até uma uma constituição? E então, quem vocês acham que vai se dar mal? Quem não estiver lá para fazer valer a sua opinião. Quem estiver sendo omisso agora. Ou seja, a direita!

Negar a existência do diabo não nos protege dele! Da mesma forma, ficar passivo vendo tudo acontecer não nos protege das consequências do movimento! Nem ficar dando uma de santinho, de "separadinho", ui, não vou me sujar com esses pecadores...

Cadê os movimentos contrários? Cadê a marcha dos monarquistas, cadê a marcha defendendo os interesses conservadores! A esquerda tomando as ruas, os comunistas baderneiros (minoria) destruindo os prédios públicos, as instituições, e a direita em casa, chupando o dedo!

Uma pergunta simples: em que grupo é mais fácil aprovar, por exemplo, a pena de morte? Em um grupo de 10 pessoas onde as 10 pessoas são a favor, ou onde, a princípio, são cinco para cada lado?

Pois bem, se a direita não participar do movimento, a esquerda vai estar livre, livríssima, para, em caso de sucesso, poder implementar a ideologia dela numa boa, sem nenhum entrave, e isso por quê? Porque não vai ter contraditório!! Não vai haver diálogo, mas monólogo! É tão simples, mas ninguém vê isso! Preferem ficar em casa, torcendo para que tudo dê errado!

Agora era a hora de os reacionários, de os conservadores, ao invés de ficarem com essa frescura toda, saírem de casa também! Vamos mostrar que nós também temos preocupação com o país, que a pátria também nos é cara!

Não podemos deixar parecer que só a esquerda se importa com esse país, e mais ainda, vamos parar com essa história doida de que esse movimento é da esquerda, o movimento é da classe média brasileira, os universitários maconheiros com camisa do Che Guevara estão lá, claro, mas são minoria!

Será que alguém acha que Deus vai simplesmente mandar o Arcanjo Miguel pro Brasil e nos entregar a chave do poder soberano da pátria, só porque somos "bonzinhos"? Eu acho que não, hein...

Quando foi que a direta perdeu seu ativismo político? Quando foi que se tornaram almofadinhas frescos que só sabem reclamar e não fazem nada. Depois querem ter moral. Deviam era ter vergonha.


Houve um tempo em que os cristãos sabiam lutar pelo que queriam, sabiam exercer o seu protagonismo. Hoje, cadê que alguém vê isso? Todo mundo em casa, só reclamando que o Brasil está uma porcaria sem mover um dedo mindinho pra ajudar. Pois muito bem, a gente não fez nada, os "esquerdas" estão fazendo. Bonito pra nossa cara!


***

Última citação do dia:

"Todo conservadorismo se baseia na ideia de que, se você abandona as coisas à própria sorte, você as deixa como são. Mas isso não acontece.

Se você abandona uma coisa a própria sorte, você a deixa à mercê de uma torrente de mudanças. Se você abandona um poste branco à própria sorte, ele logo será um poste preto. Se você quiser que ele contine a ser branco, precisa pintá-lo continuamente; isto é, você precisa estar sempre promovendo uma revolução. Em resumo, se você quer o velho poste branco, precisa ter um novo poste branco."

G.K. Chesterton, Ortodoxia.

Conservadorismo não é paralisia. Conservadorismo é atitude. E a gente está com falta disso. Coisa que não falta do lado de lá. Estamos vivendo uma paz cega, que só acabará quando o inimigo estiver nos nossos portões. Então vai ser tarde demais.

Estejam avisados!

***

" A audácia dos maus se alimenta da covardia dos bons."

Papa Leão XIII, o mesmo ali de cima. Parece que ele está falando hoje, não?

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Excelente! Aquelas ovelhas burras não estão tomando nenhuma atitude! Ficam só fazendo béééé enquanto eu me aposso do pasto inteiro. Mal posso esperar pela hora do jantar...




sábado, 15 de junho de 2013

Dammant quod non intellegunt

Dammant quod non intellegunt...

"Eles criticam aquilo que não compreendem"...

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Houve uma época em que tive certeza de que a culpa pela situação do nosso país era da imprensa e do governo, dos empresários, dos latifundiários, etc. Já tive a minha época vermelha. Depois tive uma época em que pensei que a culpa era do povo, e de tudo o que está relacionado ao pouco. Enfim, houve uma época em que as coisas eram mais simples, e era muito fácil apontar o dedo nesta ou naquela direção, sempre que me era arguido que apontasse os culpados.



Houve uma época em que, quando se falava de Brasil, era muito fácil dizer quem eram seus aliados, e quem eram seus inimigos, por mais que, dependendo do lado que você fosse consultar, a resposta fosse ser totalmente diferente. Uma das coisas boas do mundo bipolar era essa. Havia apenas duas opções, opostas entre si. Comunismo x Capitalismos, Deus x diabo, Homem x Mulher. Um mundo mais simples, mais enxuto.

Hoje isso não acontece mais, de modo algum. Fora eu mesmo, me tem sido extremamente difícil dizer de quem é a culpa pelo que vem acontecendo no Brasil e no mundo em geral. Aliás, conforme se vai crescendo e absorvendo mais e mais conhecimento, e ouvindo mais e mais opiniões, a verdade é que o próprio conceito de Brasil, de mundo, enfim, da “vida, o universo e tudo o mais”, vai se tornando cada vez mais nebuloso, e amplo, amplo demais.

O mundo multipolarizado, cosmopolita, globalizado, pós-moderno, que seja, é uma enorme salada de frutas em todos os sentidos. Para onde você olha tem um chinês, todas as grandes cidades do mundo possuem anúncios em sei lá quantos idiomas, e todos os pregadores de todas as religiões andam saltitantes pelas ruas, quando os próprios conceitos religiosos não se misturam para nos promover uma mistureba cosmológica, com combos que se traduzem desde cristianismo + capitalismo = teologia da prosperidade, até comunismo + cristianismo = teologia da libertação.



Antes, cada bancada no Congresso sentava em sua área respectiva. Hoje, quem entra na Casa Legislativa Nacional não sabe se está em um Parlamento ou em uma ode ao caleidoscópio. Todas as formas combinadas, todas as cores misturadas. Todos os ideias que moveram a humanidade por séculos aparados, podados, remodelados. Perdidos.

Antes, cada partido possuía uma ideologia e um programa de governo definido. Todo mundo parecia saber o que fazer para resolver os problemas do mundo. Os comunistas estavam certos da ditadura do proletariado. Os capitalistas até onde eu sei também pareciam muito confiantes em sua proposta de vida Ainda atualmente continuam com esse otimismo que é característico das ideologias puras, muito embora a realidade continue a golpear fortemente essa forma de pensamento.

Enfim, sendo romântico e superficial, tudo era mais simples. A verdade estava ao alcance de todos. O que mais se via eram pessoas felizes da vida entrando em milícias dos dois lados, tudo em defesa da verdade, essa grande necessidade do condição existencial da nossa espécie. São famosos os relatos ao longo da jornada temporal da civilização os conflitos que se travaram em nome da verdade, ou do que se considerava a verdade. Todos bateram e todos levaram: católicos, protestantes, judeus, muçulmanos, budistas (sim, budistas!), capitalistas, comunistas, monarquistas, democratas, anarquistas...todos motivados e previamente absolvidos pelo bem maior de estarem lutando e matando por tudo o que é mais justo, correto e moral. Todos com as consciências anestesiadas pela certeza de que estavam fazendo o certo.




Certeza. Certeza é a palavra-chave. O que ajuda a entender porque hoje em dia todas as portas do entendimento nos parecem fechadas.

***

Hoje eu venho até meus leitores como uma vítima da contradição. Da contradição ideológica, epistemológica, vernacular, conceitual, cara de pau que parece estar presente em tudo o que olho, sinto e tateio. Meus sentidos, que outrora foram-me fonte de respostas simples e objetivas, hoje se perdem em meio a especulações sensoriais inconclusivas, impertinentes.

Notadamente, fico muito chateado tendo em vista os últimos acontecimentos nas grandes capitais brasileiras nos últimos dias. Chateado em ver o sangue escorrendo, as balas voando pelos ares e no meio disso tudo pessoas da direita e da esquerda deturpando a verdade dos fatos, falando disparates, adulterando dados, estatísticas e imagens, tudo em nome de promover a própria bandeira individualista enquanto os símbolos da pátria são pisoteados no campo de batalha.

Que triste é ver que tantos estão preocupados com o próprio nariz, tantos estão preocupados em estarem com a razão, e tão poucos estão preocupados com o país! O Brasil atravessa um momento conturbado em todos os sentidos, e as pessoas reclamam, reclamam, e nada fazem. E, quando fazem, muitas vezes acabam fazendo errado.

Rebeliões dos índios se espalham pelo território da nação. A economia é simplesmente um desastre. O sr. Mantega (chamado humoristicamente de “manteiga” pelos que buscam rir para não chorar) se tornou a mais trágica piada nacional dos últimos tempos. As grandes revistas de economia ao redor do mundo o elegeram para seu ridículo preferido na atualidade.

A atitude se justifica. Ouso até dizer que, se alguém quiser acabar com qualquer nação ao redor do mundo a longo prazo, tudo o que precisa fazer é extrair o dna do Guido Mantega, depois criar clones dele, e então deixar eles crescerem a e então dar um jeito de lotá-los em pontos-chave da administração do país que se quer destruir. O sucesso será estrondoso.

Enfim, este é o único ponto em que expressarei uma certeza no texto inteiro, penso eu, e é uma certeza deveras sombria e apocalíptica. Sinal de que realmente as coisas vão indo muito mal para o meu lado.

Alguém poderá então pensar que este católico apostólico romano monarquista está bambeando em suas convicções. Desde já esclareço que não, embora não seja fácil, de fato. Todos os dias o mundo pós-moderno, com suas mais variadas propostas, parece tão mais atraente e promissor do que o modelo de vida medieval que procuro viver...todos os dias o desafio de encontrar Deus, e amá-Lo e adorá-Lo permanece. Todos os dias cada uma das minhas convicções é desafiada, ou abertamente criticada ou desprezada.

Me auxiliando nessa missão, estão a educação e o estudo, e o senso crítico. Sem eles, há muito este que vos escreve teria perecido no mar de ideologias em que navegamos todos os dias. Um mar enorme, revoltoso, onde a maioria das pessoas, sem saber, já se afogou.



A verdade é que todo esse suposto acesso à informação que a modernidade nos prometeu na verdade só veio a confirmar, para nós, sedentos do saber, a extensão da nossa própria ignorância, e elucidar de maneira vergonhosa e solene como na verdade somos tão facilmente prisioneiros das meias-verdades e parcialidades da vida.

Não vou mentir, invejo, invejo de verdade a segurança argumentativa dos ignorantes. Não que eu não seja ignorante, na verdade me considero o ignorante por excelência. Quanto mais aprendo, mais me dou conta de que não sei de nada. E isto não pretende ser filosófico, ou poético, ou mesmo pedante, como podem crer alguns. É simplesmente uma constatação talvez um pouco chateada que o autor se vê na obrigação de compartilhar com todos.

Você vê as pessoas mais simples, tão cheias de convicções, cheias de segurança em suas ideias e em seus paradigmas. Como deve ser maravilhoso ser uma dessas pessoas que são manipuladas, enganadas. Ser a massa de manobra, além de dar pouquíssimo trabalho, é garantia de alegria todos os dias. Nenhum problema é seu, nenhuma dúvida perturba a sua cabeça. As grandes discussões políticas, existenciais, religiosas, filosóficas, passam longe, problema de pessoas estranhas e distantes em lugares igualmente estranhos e distantes.

Como deve ser maravilhoso, e juro que falo sem a menor ironia, poder encher a boca de ar e bradar sem o menor receio: “é assim porque eu acho que é”, ou “é assim porque o pastor/padre/papai/prefeito falou”. Que leveza de espírito deve proporcionar estar livre da obrigação de pensar, de refletir, de criticar!

Então a mente pode ser livre para pensar em todas as pequenas futilidades da vida, então você pode simplesmente sentar a sua bunda em uma cadeira ou poltrona ou sofá e ficar o dia todo que Deus dá jogando videogame, adicionando contatos no facebook, lendo as últimas novidades sobre o mengão, vendo Malhação, Pânico na TV, etc, etc. Quero essa vida para mim! À forca com a política, à guilhotina com a filosofia. Queimem a Summa Theologica, como Lutero fez! Queimem os livros que guardam ideias das quais discordamos ou não compreendemos, silenciam as bocas dos contestadores subversivos!

Aí então, aí então nós seremos felizes! Ou será que não? O que é a felicidade, o que é a vida, o que é a morte? Mas espere, por que estou a me preocupar com isso! Ah, mas que bobagem, é para isso que eu voto naqueles políticos dos quais sequer me recordo o nome! Que me importa que se apropriem da coisa pública e que editem leis absurdas, e que atirem balas de borracha, e que julguem segundo a injustiça? Enquanto não tocarem na novela das oito, tá tudo bem!



E enquanto todos continuam vivendo suas vidinhas medíocres porém confortáveis, a pátria sofre, silenciosa, que lhe tomaram a voz; cega, que lhe arrancaram os olhos; surda, que lhe arrancaram os ouvidos, e assim sucessivamente. A pátria vegeta, enquanto os diferentes elementos do Estado guerreiam uns contra os outros na Paulista e em Copacabana, doente terminal que nenhuma alma cristã tem a decência de visitar.

***

Este texto é medíocre, eu sei. Eu não aponto propostas para resolver o problema, não tomo partido, não digo nada de novo, não acrescento nada a discussão. Por isso, o autor se lamenta, sinceramente. Ele gostaria muito de poder propor mudanças, e pensamentos, e paradigmas. Ocorre, porém, que as coisas estão misturadas de uma tal maneira que este que ora vos escreve já não é sequer capaz de vislumbrar onde termina a esquerda e começa a direita, onde é em cima, onde é embaixo.

A vida muitas vezes é assim. Estamos tão ocupados vivendo as coisas que nem temos tempo de verificar se elas se sustentam diante de um debate honesto, de uma argumentação sólida, de uma simples prova dos nove. São Tomás de Aquino, que provavelmente foi um dos homens mais inteligentes de todos os tempos, discorreu muito sobre esse problema, o problema da verdade.

Dizia o Doutor Angélico que todo ser humano, se bem educado e imbuído de espírito de honestidade, será capaz de chegar ao conhecimento da verdade sobre Deus e sobre as coisas ao seu redor. Inclusive, argumenta que o principal e mais verdadeiro sentido em que "o homem foi feito à imagem e semelhança de DEUS" reside justamente no fato de que ele possui a razão, a capacidade de compreender, de raciocinar. O que hoje a Psicologia chama de "funções mentais superiores".

O problema, segundo o santo, é que durante  vida somos acometidos por três problemas. Ou não temos informações o bastante para construir nossos pensamentos, ou não temos tempo para pensar, ou não temos como debater de maneira honesta, que seria a forma ideal de chegarmos ao conhecimento da verdade. É possível convencer uma pessoa honesta e minimamente inteligente de qualquer coisa que seja verdadeira, desde que haja tempo suficiente. Infelizmente, tempo e honestidade nunca foram abundantes ao longo da história. E o resultado são as maiores contradições possíveis...

Católicos e evangélicos defendendo a pena de morte, justamente quando nosso Deus é o Deus da vida, esquerda e direita se traindo dentro dos próprios quadros, jogando no lixo seus próprios ideais, médicos defendendo a cultura da morte, soldados batendo e apanhando, o sangue de tantas pessoas misturado no chão construído com o braço forte do povo tupiniquim.

Nessas horas, fica o autor desolado, pensando que, como vem ocorrendo ao longo dos tempos todos, a verdade vem sendo deixada de lado, vem sendo esquecida, desprezada. O ser humano continua incapaz de transcender as pequenas coisas de sua realidade, continua incapaz de sair da casca da existência e mergulhar mais a fundo nos mistérios de tudo o que o rodeia. Prefere, ao contrário, se aproveitar de tudo em benefício apenas de si mesmo: do próximo, da família, da pátria e da religião.



E, no meio disso tudo, eu sequer consegui me decidir se deveria terminar esse texto com a frase de efeito "a única certeza da vida é a morte", ou se deveria ter utilizado "só sei que nada sei". Pra vocês verem, pra vocês verem...

***

Mas, pra não dizerem que tudo é desgraça, tomem aí uma música de qualidade, que faz bem.