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sexta-feira, 2 de maio de 2014

CONSIDERAÇÕES SOBRE A MODÉSTIA - PARTE 2


Antes de mais nada, para quem pegou o bonde andando, esta postagem é na verdade a continuação de outra, como o próprio título sugere. Qualquer coisa, é só checar a postagem anterior a essa. Continuemos.

Eu dizia na postagem anterior que ainda queria discorrer um pouquinho sobre uns pontos interessantes da modéstia. Aqui eu contei muito com a ajuda de outros blogs católicos, e no outro post, também. As referências estão todas lá no final, se alguém quiser se aprofundar no tema.

Este é um blog católico, é claro. E, como todo bom blog católico (eu mesmo elogiando meu blog, que horror), tem que falar algo de Nossa Senhora, Mãe de Jesus Nosso Senhor. 


O EXEMPLO DE NOSSA SENHORA: A MODÉSTIA FEMININA

As mulheres tem uma aliada muito poderosa para alcançar a virtude da modéstia, que é nada menos do que Nossa Senhora. Assim como os homens devem se espelhar de forma especial em Nosso Senhor Jesus Cristo, as mulheres não ficaram sem um exemplo a seguir. Imitando a Mãe de Jesus, que nos diz a respeito de seu filho “fazei tudo o que Ele vos mandar”, as mulheres encontrarão um exemplo seguro a ser seguido no caminho da salvação. 

É preciso meditar em todas as passagens nas quais Nossa Senhora aparece. Estudar suas atitudes, rezar o terço, o rosário. Contemplar e imitar o santo silêncio da Virgem, sua solidariedade, sua dedicação em servir aos outros. Sua humildade e a resignação com que suportou a espada que lhe perfurou o coração. Uma mulher parecida com Maria é uma mulher que leva todos aos seu redor para perto de Jesus. 

Nesse sentido, separei algumas falas de um autor a ser citado mais abaixo, e que me parecem muito oportunas e adequadas: 

“À imitação de Maria, evita as palavras duras..., bruscas..., malsoantes. Vê como a linguagem da tua Mãe é tranquila, afável, discreta, humilde..., tornando-se simpática e atraente pela doçura de voz..., pela bondade..., pureza..., caridade e até alegria santa das suas palavras. Tem cuidado, em especial, com as disputas e altercações; ainda que tenhas razão, deves moderar o teu juízo próprio..., cedendo, sem ser pertinaz nem ter cabeça dura...; é melhor ceder e calar com modéstia, que sair triunfante com teimosia e soberba.” 

Oras, como seria bom se hoje tivéssemos mulheres cristãs que se educassem nesse sentido! Ao contrário, o que vemos são cada vez mais mulheres grosseiras, bruscas, a ponto de afastar as pessoas ao seu redor. Todos devem ser gentis e educados, homens e mulheres. Mas em uma mulher, feita para ser doce e pura, tais desvios de virtude são especialmente reprováveis. 

Continuemos com trechos selecionados: 

“A pobreza da casa de Nazaré, própria duma operária, faz que nela tudo seja humilde e modesto em último grau... A simplicidade e modéstia do seu vestido, avalia pela extrema necessidade de Belém e verás como nem em casa de Maria, nem no enxoval e vestido, encontrarás coisa alguma que indique luxo..., afetação da sua pessoa..., comodidade de algum gênero. 

Nas suas viagens não usará carruagens, nem mesmo as mais modestas de então... O Evangelho nada mais diz senão que foi, por exemplo, à Judeia, com grande pressa..., pois a estimulava a caridade... Eis toda a sua preparação e equipagem...: uma pobre trouxa de roupa e muito amor de caridade para com Deus e para com o próximo... Que exemplo de simplicidade e modéstia!... Não é modéstia a falta de asseio..., o desarranjo no vestuário...; ao contrário, pode haver modéstia em meio de uma sóbria elegância, contanto que esta seja conforme o teu estado..., a tua condição... e as circunstâncias que te rodeiam...; mas nunca será compatível com o luxo..., com a vaidade dos vestidos... e menos ainda com qualquer defeito por pequeno que seja em matéria de honestidade.” 

(D. Ildefonso Rodriguez VILLAR. Pontos de Meditação sobre as Virtudes de Nossa Senhora. Tradução revista pelo Padre Manuel Versos Figueiredo, S. J. (s. e.) Porto, 1946, p.138-142)


DICAS PRÁTICAS DE MODÉSTIA COM RELAÇÃO AOS SENTIDOS HUMANOS 


Finalmente, para encerrar a breve explanação sobre esse tema, deixo aqui algumas dicas que encontrei no blog “Flores da Modéstia”, a respeito da mortificação os sentidos, algo de que se fala pouco, e que por isso mesmo achei que seria bom colocar aqui. Eu modifiquei um pouco e omiti algumas coisas, avisando desde já. O texto, porém continua NÃO SENDO MEU. Não quero violar os direitos autorais de ninguém. Hehehehehehe.

1. Mortificação da vista 

As primeiras setas que ferem uma alma casta e, às vezes, a matam, entram pelos olhos. Por meio dos olhos entram no espírito os maus pensamentos. "Não se deseja o que não se vê", diz São Francisco de Sales. 

2. Mortificação do ouvido 

Evita ouvir conversas inconvenientes ou difamações, e mesmo conversas mundanas sem necessidade, pois estas enchem nossa cabeça com uma multidão de pensamentos e imaginações que nos distraem e perturbam mais tarde nas nossas orações e exercícios de piedade. Se assistires a conversas inúteis, procura quanto possível dar-lhes outra direção, propondo, por exemplo, uma importante questão. Se isso não der resultado, procura retirar-te (...). 

3. Mortificação do olfato 

Renuncia a todos os vãos perfumes, sejam quais forem; suporta, antes, de boa vontade, o mau cheiro que reina em geral nos quartos dos doentes. Imita o exemplo dos Santos que, animados pelo espírito de caridade e mortificação, sentiam tanto gosto no ar corrompido das enfermarias, como se estivessem em jardins de flores odoríferas. 

5. Mortificação do paladar 

Quanto à mortificação do paladar, será bom desenvolver mais a fundo a necessidade e a maneira de nos mortificarmos nesse sentido. 

§5.1- Santo André Avelino diz que quem deseja alcançar a perfeição, deve começar com uma séria mortificação do paladar. Antes dele já o afirmara São Gregório Magno (Mor., 1. 30, c. 26): "Para se poder dispor para o combate espiritual, deve-se reprimir a gula". O comer, porém, satisfaz necessariamente ao paladar: não nos será, pois, lícito, comer coisa alguma? 

Certamente devemos comer: Deus mesmo quer que, por esse meio, conservemos a vida do corpo para O servirmos enquanto nos permite ficar no mundo. Devemos, porém, cuidar de nosso corpo do mesmo modo, diz o padre Vicente Carafa, como o faria um rei poderoso com um animal que ele, com as próprias mãos, tivesse de tratar várias vezes durante o dia; seguramente cumpriria o seu dever; mas, como? Contrariado e desgostoso e o mais depressa possível. "Deve-se comer para viver, diz S. Francisco de Sales, e não viver para comer". (XXX) 

Isso levou Santa Catarina de Sena a dizer: "É impossível que aquele que se não mortifica no comer, conserve a inocência, visto que Adão a perdeu em razão de seu gosto de comer". Como é triste ver homens "cujo Deus é o ventre" (Filip 3, 19). 

Primeiramente, obscurece esse vício o entendiemnto, como ensina S. Tomás, e o torna imprestável para os exercícios espirituais, particularmente para a oração. Assim como o jejum dispõe a alma para a meditação de Deus e dos bens eternos, assim a intemperança retrai disso. Segundo S. João Crisóstomo, aquele que enche o estômago com comidas é semelhante a um navio muito carregado, que apenas se pode mover do lugar: ele se acha em grande perigo de afundar, se uma tempestade de tentações lhe advêm. 

Além disso, quem concede toda a liberdade a seu paladar, facilmente estenderá a mesma liberdade aos outros sentidos, pois, se o recolhimento de espírito desapareceu, facilmente se cometem ainda outras faltas por palavras e obras. O pior é que, pela intemperança no comer e beber, expõe-se a castidade a um grande perigo. "Excessiva saciedade produz lascívia", diz S. Jerônimo (Adv. Jovin., 1. 

Os que cuidam em mortificar o paladar fazem contínuos progressos na vida espiritual. Adquirem mais facilidade em mortificar os outros sentidos e em praticar as outras virtudes. Pelo jejum, assim se exprime a Santa Igreja em suas orações, concede o Senhor à nossa alma a força de superar os vícios, de se elevar acima das coisas terrenas, de praticar a virtude e adquirir merecimentos infinitos (Praef. Quadrag.). 

b) Quanto à quantidade das comidas, diz São Boaventura: "Não deves comer mais, nem mais vezes, do que te é necessário para sustentar, e não para agravar, teu corpo". Por isso, é uma regra, para todos os que querem levar uma vida devota, não comer nunca até à saciedade, como São Jerônimo aconselhava à virgem Santa Eustóquio, escrevendo-lhe: "Sê sóbria no comer e nunca enchas o estômago". Alguns jejuam num dia e comem demais no dia seguinte; é melhor, segundo S. Jerônimo, tomar regularmente a alimentação necessária, do que comer demasiadamente depois do jejum. Com razão dizia um Padre do deserto: "Quem come mais vezes, tendo, apesar disso, sempre fome, receberá uma recompensa maior do que aquele que come raras vezes, mas até à saciedade". "Uma temperança constante e regrada, diz S. Francisco de Sales, é melhor que um rigoroso jejum de vez em quando, ao qual se faz seguir uma falta de mortificação" (Filotéia, p. 3, c. 23). 

Se alguém quer reduzir seu sustento à justa medida, convém que o faça pouco a pouco, até que conheça, pela experiência, até onde pode ir na mortificação sem se causar sensível dano. 

Contudo, todos devem tomar como regra o comer pouco à noite, mesmo quando lhes parecer que necessitam de mais; a fome de noite é, muitas vezes, só aparente e, se se passa um pouco só da justa medida, sente-se muito incômodo na manhã seguinte: sente-se dor de cabeça, dores de estômago, está-se indisposto, e até incapaz de qualquer trabalho espiritual. 

Referindo-se ao vinho, diz a Sagrada Escritura: "Não dês vinho aos reis" (Prov 31, 4). Sob essa expressão de reis, não se entendem os que reinam sobre nações, mas todos os homens que domam suas paixões e as submetem à razão. Infelizes daqueles que são dados ao vício da embriaguês, diz a Sagrada Escritura (Prov 23, 29). E por quê? Porque o vinho torna o homem luxurioso (Prov 20,1). Por isso escreveu S. Jerônimo à virgem Eustóquio: "Se quiseres permanecer pura, como deve ser uma esposa de Jesus Cristo, evita o vinho como veneno: vinho e mocidade são duas iscas" (Ep. 22 ad Eust.). 

De tudo isso devemos deduzir que aqueles que não possuem virtude ou saúde suficiente para renunciar por completo ao vinho, devem ao menos servir-se dele com grande sobriedade, para não serem atormentados por mui fortes tentações impuras. 

Primeiro, não se deve comer fora de hora, isto é, fora da hora da refeição comum. Um penitente de São Filipe Néri tinha esse defeito. O Santo o corrigiu com as palavras: "Meu filho, se não te emendares dessas falta, nunca chegarás a ter uma vida espiritual". 

Segundo: nunca se deve comer desregradamente, isto é, com avidez, por exemplo, enchendo a boca demais, com tal pressa que antes de se engolir um bocado já se leva outro à boca. "Não sejas glutão em banquete algum" (Ecli 37, 22), diz-nos o Espírito Santo. Além disso, deves tomar os alimentos com a boa intenção de conservar as forças do corpo, para podermos servir ao Senhor. 

[Omiti o trecho da mortificação do tato por razões pastorais. Se alguém quiser conferir, está em um dos links]


CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Se há mais alguma coisa a ser dita, é apenas a seguinte: tudo o que foi colocado aqui só poderá ser realizado em nossas vidas, colocado em prática e vivenciado com seriedade pela graça de Deus. É óbvio que está acima de nossas capacidades humanas nos portarmos de forma tão nobre e perfeita, a não ser que estejamos muito unidos a Deus. Portanto, em nossos esforços para alcançarmos a verdadeira modéstia, devemos pedir sempre a ajuda do Senhor. Que Ele derrame em nós o Seu Santo Espírito, pois só assim seremos capazes de sermos “perfeitos, como o Pai que está nos céus é perfeito”. 

Glória a Jesus na Hóstia Santa! Salve Maria Santíssima!


REFERÊNCIAS 






Além da Bíblia e do catecismo, é claro! Deus nos guarde!


DISCORRENDO SOBRE A MODÉSTIA - PARTE 1

Saudações a todos. Depois de um certo tempo, postando novamente. Desta vez, tecendo algumas considerações sobre a virtude da modéstia, a pedido de pessoas queridas que me pediram que fizesse alguma coisa nesse sentido. Demorei algum tempo procurando deixar as coisas de uma forma que me agradasse e ficasse de acordo com o que julgasse adequado para o público ao qual direciono estes escritos. O resultado de tudo isso segue abaixo:


CONCEITO DE MODÉSTIA E TEMPERANÇA

A modéstia é uma das virtudes das quais mais necessitamos para chegar ao céu. Infelizmente, é uma das que mais desconhecemos, e uma das quais menos recebe a nossa atenção. Não deveria ser assim.

A modéstia é parte da virtude da temperança. Dependendo do conceito que a ela se dê, ela pode mesmo ser entendida como um sinônimo da temperança. É a virtude que regula nossos atos externos mais variados, desde a forma como caminhamos e nos vestimos até o tom de nossa voz nas conversas, bem como os assuntos que conversamos.

É a virtude da compostura, do decoro. Fala-se que parece com a temperança, que é uma parte dela, exatamente porque a temperança é a virtude que nos garante o equilíbrio mental cristão. Ora, uma pessoa com a mente e o espírito equilibrados tende a agir de forma equilibrada, também. A modéstia e a temperança, portanto, são irmãs. Uma não vive em a outra. E ninguém chega ao céu sem possuir as duas.

Vejamos ainda, como um material de apoio (qualquer conhecimento e leitura piedosa a mais é útil em se tratando de obter a salvação, vocês hão de concordar comigo), é bom àquele que deseja ser modesto buscar também, como já dito, a virtude da temperança. Sobre esta diz o catecismo da Igreja Católica:

“A temperança é a virtude moral que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso dos bens criados. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos dentro dos limites da honestidade. A pessoa temperante orienta para o bem seus apetites sensíveis , guarda uma santa discrição e ‘não se deixa levar a seguir as paixões do coração’. 

A temperança é muitas vezes louvada no Antigo Testamento: ‘Não te deixes levar por tuas paixões e refreia os teus desejos’ (Eclo 18, 30). No Novo Testamento, é chamada de ‘moderação’ ou ‘sobriedade’. Devemos ‘viver com moderação, justiça e piedade neste mundo” (Tt 2, 12). [CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA N. 1809) 

Percebemos claramente, de acordo com o conceito trazido pelo catecismo, que a temperança é uma virtude maior, mais geral, da qual a modéstia constitui uma parte. As duas, como já demonstrado, dialogam entre si. Portanto, uma pessoa modesta é, antes de mais nada, uma pessoa equilibrada. Queres ser modesto, ou modesta? Procura, antes de mais nada, ser equilibrado.


A PRIMEIRA MODÉSTIA: A MODÉSTIA INTERNA

Antes de adentrar no reino da modéstia, de caráter mais externo, o ideal seria que a pessoa procurasse desenvolver a temperança, de caráter mais interno. Do contrário, as práticas de modéstia exterior acabariam sendo apenas uma forma diferente de exibicionismo, de arrogância. Por exemplo, o uso do véu pode ser uma forma de externar uma profunda piedade, mas também pode ser apenas uma forma de se exibir, de ser diferente, de aparecer. Não basta, portanto, atividade exterior, ela precisa ser alimentada também por uma virtude interior.

A moral católica sempre ensinou que, para um ato ser verdadeiramente bom, deve ser bom tanto em sua execução interna quanto em sua execução externa. Novamente, recorramos ao ensinamento da Santa Madre Igreja a respeito do tema:

“Uma intenção boa (por exemplo, ajudar o próximo) não torna bom nem justo um comportamento desordenado em si mesmo (como a mentira e a maledicência). O fim não justifica os meios. Assim, não se pode justifica a condenação de um inocente como meio legítimo para salvar o povo. Por sua vez, acrescentada uma intenção má (como, por exemplo,a vanglória), o ato em si bom (como a esmola) torna-se mau.” [N. 1753]

Finalmente, a própria bíblia há de me alertar para que não fique preso apenas às aparências, pois, em última instância, não é para elas que nosso Deus haverá de se voltar. E episódio da unção de Davi já nos deixou isso bem claro:

“Logo que chegaram, quando Samuel viu Eliab, disse consigo: ‘Certamente Iahweh tem o seu ungido perante ele! Mas Iahweh disse a Samuel: ‘Não te impressione com a sua aparência nem com a sua elevada estatura: eu o rejeitei. Não se trata daquilo que vêem os homens, pois eles vêm apenas com os olhos, mas Iahweh olha o coração” (1 Samuel 16, 6-7).

Portanto, o primeiro e mais importante caráter da modéstia é o interior, e no qual se deve trabalhar com prioridade. Mas isso não quer dizer que, enquanto não é alcançada a modéstia interior, deve-se descuidar do exterior. Pelo contrário, sabendo que ainda não alcancei a modéstia interior, devo me vigiar duplamente, para que a minha forma de vestir, falar e agir não escandalize os demais. Isto será melhor analisado a seguir.


O CARÁTER PÚBLICO DA VIDA DO CRISTÃO. VIGIAR PARA NÃO ESCANDALIZAR OS OUTROS: A MODÉSTIA EXTERNA

Todo católico, todo cristão, deve sempre ter em mente que não existe de forma isolada. Não existe por si mesma, mas é parte de um grupo, é parte de uma família, que é a Igreja.

A ação de uma pessoa reconhecida como católica, seja para o bem, seja para o mal, influi na reputação de toda a Igreja. Quando nós, católicos, estamos em algum ambiente público, estamos sendo observados pelas pessoas ao nosso redor. Somos como Nosso Senhor quando estava presente à sinagoga, e “todos tinham os olhos fixos Nele”.

Essas pessoas, sem dúvida alguma, estarão a nos vigiar, esperando que lhes demos qualquer oportunidade de nos criticar, de falar mal de nós, e portanto, uma desculpa para permanecerem longe da Igreja e do Senhor Jesus. Não podemos nos permitir dar a essas pessoas a desculpa que tanto procuram. Devemos vigiar o tempo todo nosso comportamento. Somos embaixadores de Cristo, como diz São Paulo. Devemos transmitir Cristo para as pessoas. Isso significa transmitir dignidade, distinção, pureza de costumes, moralidade, piedade, moderação, discrição honra, enfim, tudo que compõe essa importante virtude que é a modéstia.

Podemos perceber, nessa linha de pensamento, a importância que a Igreja sempre deu ao tema. Por exemplo, o seguinte enxerto, retirado de um discurso de Pio XII às garotas da Ação Católica, a 22 maio 1941: “Enquanto certos modos provocantes de vestir permanecem como triste privilégio de mulheres de reputação duvidosa e são quase um sinal que as faz reconhecer, não se ousará, pois, usá-los para si; mas no dia em que aparecerem como ornamentos de pessoas acima de quaisquer suspeita, não se duvidará mais de seguir tal corrente, corrente que arrastará talvez para dolorosas quedas”.

Ou seja, aqui Sua Santidade nos alertava exatamente sobre nossa posição, enquanto católicos, enquanto cristãos. Devemos ser o diferencial na sociedade. Não podemos correr o risco de deixarmos nossos modos, nossos costumes, nossos hábitos, serem contaminados pelo mundo, pois, como nos diz Jesus Cristo, somos o sal da terra e a luz do mundo. Devemos ser os guias da humanidade rumo á perfeita virtude que se encontra na Igreja do Senhor. Se nós, ao contrário, permitimos que os costumes mundanos sejam adotados até mesmo na Igreja, então o mundo perderá esse referencial tão necessário, que devemos ser nós. Então, novamente entra em cena o Senhor: 

“Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com o que o salgaremos? Para nada mais serve, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens.” (Mt 5, 13)

Um outro exemplo da preocupação com o modo de se portar, e este revestido com toda a autoridade de um apóstolo do Cordeiro, pode ser encontrado nos escritos de São Paulo, homem que se notabilizou no início do cristianismo por ter sido um grande regulador dos costumes entre nós, cristãos: “Quero que as mulheres de vistam de maneira decente, com simplicidade e bom sendo. Elas não devem se enfeitar com penteados exagerados, com ouros, com pérolas, nem com vestidos caros. Porém, devem se enfeitar com boas ações, como é próprio às mulheres que são reverentes a Deus” (1 Timóteo 2, 9).

Fica claro, portanto, que, se você é cristão, o modo de se portar, de se vestir, deve ser uma das suas preocupações mais importantes. É algo importante para os papas. É algo importante para São Paulo. Deveria ser importante para nós, também.

Penso ser uma boa hora para recordar os ensinamentos do Senhor Jesus a respeito dos escândalos. O que acontece quando um cristão escandaliza os outros? O que acontece quando aquele que deveria dar o exemplo é o primeiro a se permitir igualar em termos de costumes aos que ainda não conheceram o Senhor? Ou quando escandaliza ou tenta os próprios irmãos, ainda que não de propósito? Vamos à leitura do Evangelho:

“Ai do mundo por causa dos escândalos! É necessário que haja escândalos, mais ai do homem pelo qual o escândalo vem!” (Mt 18, 7)

Aqui, Jesus faz um grande alerta a nós, que somos seus discípulos. Não devemos ser causa de escândalo, ou seja, de que queda, de espanto ímpio, de alvoroço mundano para os outros. Se o formos, Ele mesmo afirma, as conseqüências serão desastrosas para nós mesmos. E o Mestre continua, sempre com palavras fortes:

“Se tua mão ou o teu pé te escandalizam, corta-os e atira para longe de ti. Melhor é que entres mutilado ou manco para a Vida, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres atirado no fogo eterno” (Mt 18, 8).

Ora, se Jesus fala assim de nossos próprios membros, que não dirá Ele de certos hábitos e costumes nocivos que nós temos para nós mesmos e para os outros? Não será Ele muito mais incisivo em dizer a cada um de nós para nos livrarmos dessas condutas, e assim evitarmos a perdição da própria alma, e das almas de outras pessoas?

Em outro ponto do Evangelho de São Mateus, anterior, Jesus deixa tudo ainda mais explícito:

“O Filho do Homem enviará seus anjos e eles apanharão do seu Reino todos os escândalos [ou seja, todos que levam os outros a pecar] e os que praticam a iniqüidade e os lançarão na fornalha ardente. Ali haverá choro e ranger de dentes.” (Mt 13, 41 – 42).

Portanto, todo cuidado que tenhamos nesse particular, ainda será pouco. Pensemos nisso da próxima vez que estivermos nos arrumando para sair de casa, pensemos nisso em nossas conversas em público, enquanto caminhamos na rua. Pensemos o que Jesus faria, lembremo-nos dos Seus sentimentos, e procuremos guiar nossa conduta de acordo com as conclusões que tirarmos, após invocar o Espírito Santo para que ilumine nossos raciocínios. Às mulheres, o exemplo de Nossa Senhora, a Virgem do silêncio, também é muito útil.


A SOLIDARIEDADE CRISTÃ COMO FATOR-CHAVE PARA A PRÁTICA DA MODÉSTIA

É bem verdade que tanto homem quanto mulher devem se precaver de todas as formas para não olharem com maldade os corpos dos outros. Mas também é verdade que cada cristão deve cuidar para não fazer de seu corpo uma tentação para os irmãos. É uma questão de solidariedade. Se eu sei que somos todos pecadores, que todos tendemos para o mal, é óbvio que isso exige de mim uma preocupação em evitar ser uma ocasião de pecado para os outros. É uma atitude virtuosa, que demonstra que a pessoa já está avançada no seguimento de Jesus, a ponto de renunciar a si mesma pela salvação dos irmãos.

Claro, podemos nos esconder atrás de inúmeras desculpas, e frases feitas como “a maldade está nos olhos de quem vê”. Mas Deus nos convida, em todos os tempos, a reconhecer, antes da maldade que está no outro, a maldade que está em mim. Eu e você também não somos lá essas coisas. Sempre há algo de mal em nossas ações, mesmo que muitas vezes não percebamos. Isso também passa por querer estar bonito, por querer aparecer, especialmente quando estamos escolhendo nossas roupas. É claro que uma mulher, ao escolher tal ou qual vestido, pensa, mesmo que por breves momentos, até que ponto ele realça suas formas. O mesmo se dirá de um homem que sai com aquelas blusas apertadas, que dão a impressão de seu braço ser maior. É preciso que o cristão pare de dar desculpas e comece a fazer esforços sinceros na direção da santidade.


A RECUSA EM PRATICAR A MODÉSTIA: IGNORÂNCIA DOS PRECEITOS BÍBLICOS E SINTOMA DE UMA PERSONALIDADE ARROGANTE

Não levar a virtude da modéstia a sério e não se esforçar em praticá-la é ignorar por completo os apelos bíblicos fortíssimos nesse sentido. Não podemos nos permitir esse luxo, de abandonar a Palavra de Deus para seguirmos nossas próprias concepções. Deus nos conhece melhor do que nós a nós mesmos. E não devemos pensar que essa preocupação toda com a modéstia é algo novo. Já no Antigo Testamento, podemos encontrar, nos livros que recolheram a sabedoria do judaísmo antigo, como é o caso do Livro dos Provérbios. Vejamos o conteúdo do versículo 22 do Capítulo 11: “Como ia de ouro em focinho de porca, assim é a mulher formosa que se aparta da discrição”. Igualmente, podemos contemplar, no versículo 30 do Capítulo 31: “Enganosa é a graça, e vã é a formosura; mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada”.

Ou seja, a primeira preocupação da mulher cristã (e do homem também) não deve ser a formosura, a beleza, o exibicionismo, o protagonismo, mas deve ser a condição de ser humano agradável diante do Senhor. 

Isto fica ainda mais claro quando meditamos um pouco a respeito de certos versículos contidos no livro anterior a Provérbios, o Livro dos Salmos.Vejamos o Salmo 147 (Hino ao Onipotente), versículos 10 e 11: “Ele não se compraz com o vigor do cavalo, nem aprecia os músculos do homem; Iahweh aprecia aqueles que O temem, aqueles que esperam Seu amor.”

Qual diferente da mensagem destes escritos sagrados é a conduta de tantos rapazes e moças, de tantos homens e mulheres, que se dizem cristãos, que se dizem católicos, e passam horas e horas em academias, ou em rituais sociais exibicionistas, tudo isso apenas para agradar aos homens e a si mesmos, tão preocupados com a própria imagem que acabam incorrendo em idolatria, onde a própria pessoa é o seu deus.

Não é isso que Deus quer que façamos com nossos corpos. É claro que não é pecado ir à academia, ou a um baile e querer estar elegante, mas tenhamos bom senso, tenhamos recato, tenhamos modéstia em nossas atividades. Já diziam os antigos, tudo demais é veneno. Também não é obrigatório que se saia por aí vestindo trapos, ou nunca mais se escove os dentes, ou algo assim. O que se quer deixar claro aqui é que todo cristão deve ter em mente sempre que seu corpo é algo sagrado.

Novamente, é de São Paulo que nos vem o socorro nesta linha de pensamento: “Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que está em vós e que recebestes de Deus? E que, portanto, não pertenceis a vós mesmos? Alguém pagou alto preço pelo vosso resgate. Glorificai, portanto, a Deus em vosso corpo” (1 Cor 6, 19-20).

Mas voltemos a analisar os textos do Antigo Testamento. O Livro do Eclesiástico (este aqui mais caro e familiar aos católicos, já que os protestantes não o consideram divinamente inspirado) também nos dá alguns importantes conselhos relacionados com a modéstia. Vale a pena nos debruçarmos sobre eles:

“Ouve em silêncio, e tua modéstia provocará a benevolência” (Eclesiástico 32, 9). E ainda: “Não te afastes da mulher sensata e virtuosa que te foi concedida no temor do Senhor; pois a graça de sua modéstia vale mais do que o ouro” (Ecleciástico 7, 21).

Muitas vezes, o que nos falta para que possamos ser pessoas verdadeiramente modestas é outra virtude, que é a da humildade. Apenas a pessoa que se reconhece pequena diante de Deus e que se julga menos importante do que os outros poderá progredir verdadeiramente na virtude da modéstia. Pessoas arrogantes, muito preocupadas com a própria glória, com o próprio destaque, prestígio ou mesmo felicidade, dificilmente conseguirão se tornar pessoas modestas.

Ao contrário, o mais provável é que, fechadas em seu próprio orgulho, se tornem pessoas exibicionistas, e que mesmo eventuais práticas de modéstia exterior nada mais sejam em suas vidas do que hipocrisia e sede de aparecer diante dos homens. Contudo, bem ensina Jesus Cristo, essas pessoas “já receberam a sua recompensa”.


OUTRAS FORMAS DE PRATICAR A VIRTUDE DA MODÉSTIA

Já vimos que a modéstia deve se manifestar tanto em nossa vida íntima quanto em nossa vida pública, especialmente no que diz respeito à forma como nos portamos e nos vestimos.

Mas não somente a pureza na forma de se portar, de se vestir. O cristão deve buscar, deve ter a santa pretensão de ser perfeito em tudo, puro em tudo, como um perfeito sacrifício de louvor que é colocado no Altar do Senhor. O próprio Rei dos reis não deixa barato em suas considerações sobre a pureza, e não se limita a exigir uma pureza de ações. Exige até mesmo a pureza do pensamento, e nos adverte que um pensamento impuro causa tanto estrago que a materialização ou não do pecado imaginado acaba sendo irrelevante. Para Ele, o estrago já está feito: “Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela” (Mateus 5, 28).

Isso é extremamente importante no que diz respeito à modéstia, tanto do homem quanto da mulher. E também com a virtude maior que orienta a modéstia em todos os seus momentos, da qual já falamos no começo de nosso estudo: a temperança.

Em outras palavras, isso quer dizer que eu devo procurar a sobriedade e a discrição em todas as áreas da minha vida. Devo vigiar as minhas leituras, as minhas refeições, os programas que assisto, os assuntos que costumo conversar, e até mesmo com quem costumo conversar ou me relacionar. A escolha de um namorado ou namorada também não deve ser feita sem considerarmos tudo com equilíbrio, calma, discrição, piedade.

Especialmente a forma como cultuamos ao Senhor deve ser repleta de piedade, pureza e graça na forma como nos expressamos, seja em atos, seja em palavras, seja por meio de nossa postura. A oração não deve ser apenas uma repetição de palavras, mas um ato que envolve o ser inteiro, a mente, o coração e o corpo. Como está sendo nossa participação nas missas? Estamos nos portanto de forma adequada diante do Senhor que está presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade? É uma pergunta de cuja resposta depende a nossa salvação. Creia nisso.

Também nas relações com o próximo, com meu irmão, a modéstia deve se fazer presente. A começar na família, que é a Igreja doméstica. De que forma me relaciono com meus familiares? Aliás, eu ao menos me relaciono com eles, ou passo a maior parte do tempo vendo televisão, ou usando o celular, enfim, me isolando em meu mundinho ao invés de aproveitar as pessoas que Deus me deu para serem íntimas de mim?

Devemos nos recordar que a modéstia é uma virtude do dia-a-dia. Diz respeito a tudo que fazemos. Tudo deve ser executado com ponderação, discrição, sensatez. Enfim, equilíbrio. Aqui novamente, ninguém está dizendo que não se deve mais ver televisão, especialmente junto com a família, ou que não se deve mais usar o celular. Mas é imodesto permitir-se dominar por essas atividades:

“Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas não me deixarei escravizar por coisa alguma” (1 Cor 6, 12).

Aqui me permito uma pausa, com o objetivo de dar tanto a mim quanto ao leitor um momento de descanso. Mas não paramos por aqui. Ainda quero publicar algumas outras pequenas coisinhas que acho relevantes sobre o tema. Mas isso fica para outro post.

Por hora, glória a Jesus na Hóstia Santa, e Salve Maria Santíssima!