Em raras ocasiões, porém, somos invadidos por uma súbita percepção, diante de algum acontecimento, de que estamos diante de um presente diferente. Em raras ocasiões, quando entramos no facebook e vemos todo mundo falando sobre o mesmo tema, jantamos com a família e todos estão falando sobre o mesmo tema, vamos à Igreja e todos estão falando sobre o mesmo tema, conseguimos um passe VIP pra dar uma volta na Estação Espacial Internacional e, chegando lá em cima, todos estão falando sobre o mesmo tema, então a gente percebe que a História, essa linda, não está mais longe, no passado, ou escondida nas páginas de um livro empoeirado. Percebemos que ela está ao nosso redor, nos envolvendo. Percebemos que estamos vivendo a História.
A última vez que havia me sentido assim foi dia 11/11/01. Quem estava vivo e com um mínimo de congnição mental e memória com certeza vai se lembrar. É impressionante como, entrevistando, por assim dizer, as pessoas que Deus colocou em minha vida, todos se lembram exatamente onde estavam naquele dia, lembram do trajeto que fizeram, das coisas que sentiram. Eu, por exemplo, lembro que me acordei normalmente e então fui direto para a sala. Antes mesmo de lavar o rosto e escovar os dentes, liguei a televisão. Simplesmente peguei aquele controle universal (quem dera...) e apertei o botãozinho vermelho escrito "power"em cima (ou embaixo, dependendo do modelo).
Nunca vou me esquecer daquilo. Liguei exatamente na hora que o segundo avião batia numa das torres. Exatamente. Só deu tempo de ver aquele objeto preto batendo na torre e a bola de fogo enorme causada pela combustão súbita dos milhares de litros de combustível.
Eu estou falando dessa experiência porque creio que muita gente vai se identificar com essa sensação que eu tive, já que foi a mesma que muitos tiveram. E quero que vocês se identifiquem com essa cena pelo simples fato de que compreendam como estou me sentindo ao longo desses dois últimos dias. E estou me sentindo, guardadas as devidas proporções, como me senti naquele dia triste para a humanidade, mais de dez anos.
Não sei como a população geral está encarando os fatos, honestamente esperava mais repercussão no seio da sociedade, mas quem é da comunidade jurídica ou da comunidade religiosa não fala em outra coisa a não ser do bendito julgamento da ADPF 54. Como membro assíduo desses dois seguimentos da sociedade, e conhecedor de algumas mulheres que já passaram pela experiência abortiva, me é impossível não voltar constantemente o pensamento para aqueles onze seres humanos cuja missão eu honestamente não desejaria ao meu pior inimigo.
Há muita coisa em jogo, muito mais do que a simples interpretação de um dispositivo jurídico que entrou em vigor ainda no andamento da II Guerra Mundial, por sinal outro dos grandes "top hits" do álbum da História. Conforme "exauriu" a ministra Rosa Weber, trata-se inclusive de traçar os limites e os poderes de cada ciência e a influência de umas sobres as outras. Tudo muito bem fundamentado, tudo muito bem explicado. Mas será que bem fundamentado e correto necessariamente são a mesma coisa?
A perseguição nazista aos judeus, a inquisição, Hiroshima e Nagasaki, tudo foi fundamentado. Temos livros e mais livros argumentando a favor de todos os episódios que acabei de citar, com argumentos tão bons ou até melhores que os levantados pela ministra ontem. Mas será que lá no fundo a argumentação não é apenas uma forma de mascarar a verdade de um fato ou simplesmente adequà-lo aos nossos próprios objetivos, crenças e paixões?
Será mesmo possível a um homem abdicar de si mesmo, para personificar um ente quem em verdade sequer existe, como é o caso do Estado, ou da Igreja? Será possível que ele consiga se esvaziar, se desumanizar de tal maneira que já não seja ele ou aquilo em que acredita, mas apenas uma engrenagem girando conforme os ditames de alguma portaria, ideologia ou outro conjunto de normas qualquer?
Disse anteriormente que os últimos dias tem sido históricos, e são mesmo. Reafirmo: hoje é um dia que entrará para a História desta nação. Não apenas pela inevitável permissão para que as mulheres possam escolher se querem ou não ter um bebê anencéfalo, este nem é o foco deste texto, já que seria chover no molhado, e considerando que eu mesmo não tenho uma opinião plenamente formada sobre o assunto.
O que quero focar é algo muito mais amplo, quem sabe até amplo demais? Quero chamar atenção aqui para o fenômeno da Democracia no osso país, e como o dia de é vital para a sua verdadeira implementação no nosso País. Escrevi propositadamente Democracia e País porque de fato a única coisa que sei é que hoje me orgulho um pouco mais desse regime, embora ainda não a ponto de abraçá-lo (continuo achando que a melhor forma de governo é a que se dá no Estado Pontifício), e porque vejo no dia de hoje que, a despeito de todos os problemas, esse País parece estar aprendendo, finalmente, a lidar com a própria liberdade, com o próprio poder de decidir o seu rumo.
Só espero que possamos continuar a caminhar dessa forma, com bom senso. Com sabedoria e com respeito. Especialmente respeito. Sou católico e a Igreja me ordena, e eu obedeço, a não concordar com a interrupção da gravidez mesmo nos casos de anencefalia.. Mas não sou mulher. Não posso dizer o que faria se fosse uma mulher nessa situação. Só posso dizer que, como certa vez já falou Dom Odílio Scherer (Cardeal de São Paulo), "os anjos não vão descer para governar". Cade, portanto, aos homens, escolher o seu próprio caminho. Se certo ou errada é a escolha, só Deus é que pode saber, e só o Tempo, através da História, é que poderá revelar.
Que o Senhor tenha piedade de todos nós. Amém.
Eu tenho uma certa opinião a respeito de aborto e outros assuntos ligados. Creio que uma sociedade muito liberal acaba trazendo males que poderiam ser evitados com regras básicas. Sou contra a legalização do aborto em termos. Se uma mulher engravidar em decorrência de um estupro, creio que poderia ser ofertada essa opção a mulher, assim como ela fazer a gestação completa e depois dar para adoção, pois poucas seriam as mulheres que conseguiriam amar esses filhos que serão uma eterna lembrança do que ocorreu com elas. Agora, se uma mulher/garota engravida por descuido no seu relacionamento, sou totalmente contra, pois a responsabilidade foi dela e do parceiro. Se não tem condições emocionais e financeiras para suportar tal responsabilidade, cuide-se ou se abstenha.
ResponderExcluirGostei muito do texto Carlos : ) E acho que j'a sei o que sao as chaves..haha
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