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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Cristianismofobia na ADPF 54: a ignorância dos que nos julgam ignorantes

Desde as primeiras aulas de redação, nossas professoras são unânimes em nos recomendar que deixemos o título de nossos textos apenas para o final, quando então efetivamente sabemos sobre o que estamos falando e podemos limitar a temática textual em uma única frase. Com isso, evita-se que o título dê ao leitor entender que o texto fala de uma coisa apenas para, enquanto lê, descobri que ou não se trata daquilo, ou, em se tratando, é apenas parcialmente, misturado com temas outros que não são de seu interesse.

Hoje, no entanto, resolvi desobedecer a essa recomendação das grandes professoras que tive (a saber: professoras Neide, Alcione e Meire, todas excelentes) e começar o texto exatamente pelo título, sofrendo, então, com a dura missão de me manter atento a ele ao longo de todo o texto. Julgo, porém, que não será tal tarefa assim tão complicada, visto que meus pensamentos estão totalmente focados na temática que trago à discussão.

Feitas estas observações preliminares sempre necessárias e características de como gosto de escrever, passemos ao corpo de ideias propriamente subordinado ao título. Desde ontem sinto meu coração pesado. Uma tristeza considerável se abate sobre meu coração. Ontem, uma vez mais, pude sentir, de minha parte, o preconceito das pessoas para com as classes, por falta de palavra melhor, "religiosas".

Ontem, em todos os grupos de discussão dos quais participei, procurando levar à frente minha filosofia de diálogo e construção de um saber e entendimento comum por meio da construção de conhecimento que o velho Sócrates chamava de MAIÊUTICA, impressionou-me como, todas as vezes em que se falava sobre a questão do aborto de anencéfalos, os defensores de sua permissão apelavam para o caráter religioso da questão.

Comumente, diziam os nobres debatedores adversários que a questão de abortar ou não o anencéfalo era basicamente uma batalha entre o Estado Laico e a Igreja (Cristã em geral). Não poucos, na noite de ontem, foram dormir felizes depois do que consideraram uma vitória do bom senso contra os "fundamentalistas ignorantes da religião".

Ao mesmo tempo, ignoravam que a questão do aborto dos anencéfalos nada tem a ver com a Igreja, com O Estado, com a associação das amantes de tricô de Sorocaba, enfim. Tem a ver apenas com decidir o que deve prevalecer. A vida intra-uterina do anencéfalo ou a integridade psicológica e sentimental da grávida. Simples assim. Mas não, tem sempre que haver aquele caráter antirreligioso no meio. "Precisamos impedir que a Igreja tenha o poder de impor sua crueldade", é o que mais se diz por aí. Inclusive, se alguém vier me dizer que não ouviu outrem dizer isso, se é que você mesmo não disse isso, peço venha para dizer desde já que, ou não acreditarei em você, ou terei imediatamente que começar outra reflexão, desta feita sobre até onde por chegar a alienação do ser humano.

Sobre este argumento  carregado de sentimentos negativos, quero dizer apenas duas coisas antes de prosseguir. Primeiro: a Igreja Católica (única da qual posso falar porque é  a que sigo e sobre a qual dedico meus estudos) pode ser muitas coisas, mas não é de forma alguma cruel em sua doutrina, muito menos no que tange à essa questão  sobre o aborto, seja com relação aos bebês sem  um cérebro sequer quanto seria em relação aos que porventura viessem a ter dois!

Longe de estar ignorando o sofrimento da mãe, com o qual a Igreja sempre foi e sempre será solidária, a Igreja apenas está defendendo a vida em todas as suas formas, tamanhos e graus de complexidade. Na visão cristã de mundo, toda a vida merece ser defendida a todo custo, não importa o qual ínfima, simples e efêmera possa ser. Com efeito, será assim tão irracional ter a opinião de ser a vida algo tão preciso que mesmo uma simples célula deva ser protegida, quanto mais um corpo inteiro, ainda que lhe falte o que entendemos como vida em sentido propriamente humano?

Com efeito, crê firmemente a Igreja que qualquer dispositivo de proteção à vida deve ser interpretado da forma mais ampla possível, justamente por ser a vida o bem mais precioso que qualquer um de nós pode imaginar. Oras, por um acaso o mandamento "NÃO MATARÁS" previu alguma exceção? Não me lembro de abrir minha Bíblia e ler que "não matarás, exceto nos seguintes casos..."

Do que se vê facilmente que, ainda que a Igreja quisesse tomar outro posicionamento, isto não lhe seria possível. Em verdade, longe de ignorar a Bíblia, como argumentam em outra discussão algumas pessoas, a Igreja Católica a leva a sério em sua plenitude.

Também o sofrimento da mulher é levado em consideração, e sobre isso falar-se-á mais detalhadamente a seguir. Antes porém, quero de cara responder sobre o que deve prevalecer. A integridade da saúde psicológica e sentimental da mulher ou a vida da criança anencéfala? Oras, o Texto Sagrado também respondeu a essa pergunta! Basta olhar o que está escrito no Livro do Deuteronômio, que é justamente um livro de caráter normativo:

"Escolhe, pois, a vida, para que vivas tu e teus descendentes"... (Dt, Capítulo 30, versículo 15)
Fica óbvio, portanto, que entre a vida e qualquer outro bem, aquela deve prevalecer, eis que é como ordenado pelo Senhor. Isto posto, pergunta-se: como alguém pode exigir da Igreja que se ponha contra a vida, quando o próprio Deus deixou bem claro que ela é o bem mais precioso e primário, devendo prevalecer sobre todos os outros? Traindo esse princípio básico, a Igreja estaria traindo o próprio Deus. Impensável, portanto, que a mesma tome atitude diferente da que vem tomando no caso em tela.

Assim, descaracterizado é o argumento de que a Igreja é cruel ao se posicionar contra a atitude de abortar o anencéfalo. Descaracterizado, também, o argumento de que a mesma estaria querendo IMPOR a sua vontade. Ao contrário, apenas manifesta-se no sentido tomar uma posição firme. Oras, evidentemente inapropriado a própria palavra de que se valem meus tão aguerridos adversários. A Igreja estaria impondo alguma coisa se invadisse o Plenário do STF com a Guarda suíça e coagisse os ministros a votarem da forma como ela quisesse. A Igreja estaria impondo alguma coisa se o Papa baixasse um decreto ordenando que os católicos brasileiros marchassem em uma Cruzada contra o Aborto ou algo assim, tomando Brasília e iniciando sangrenta guerra civil nessa terra que nos sustenta. As pessoas estão confundindo efetiva imposição com mera manifestação de opinião, isso, sim!

Imposição foi, ao contrário, o que eu pude experimentar nos debates sobre o assunto, mas não de minha parte, e sim dos que se puseram frente a frente comigo para o que eu, ingenuamente, acreditava ser um diálogo. Lembro-me especialmente de um debate com uma pessoa que obviamente não citarei, a qual, afoita em cuspir sua torrente de argumentos, sequer dava-me espaço para elencar os meus próprios postulados. Mais de uma vez precisei pedir, primeiro de forma gentil e depois de forma mais enérgica, que pelo menos me deixasse terminar de expressar meu ponto de vista, antes  que ela pudesse, justamente, voltar a falar. Conversa civilizada é isso, até onde eu sei, ou será que as regras mudaram tanto assim e eu é que estou vivendo uma ilusão na minha cabeça?

Já houve um tempo em que eu imaginava que, quando fosse ensinar aos meus filhos sobre preconceito, iria dizer-lhes que é o que sofrem os homossexuais, os negros, os índios...Ledo engano de minha parte. Vejo, infelizmente, que pelo andar da carruagem, quando ele finalmente me fizer essa pergunta, verei-me na obrigação de responder: "'é o que fazem com os cristãos, meu filho. O que fazem com os cristãos."

Disse e ontem e digo hoje de novo. Que Deus tenha PIEDADE de todos nós. Amém.

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