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terça-feira, 10 de abril de 2012

Dependência: sumário da condição humana - parte 1.

Um dos piores aspectos da existência humana é, sem dúvida nenhuma, a dependência. Não me refiro àquela dependência sadia, pura e benéfica, que é a dependência de Deus. Não, não, falo das dependências outras todas, cuja principal característica é competir para ver qual dentre elas consegue nos decepcionar, magoar ou atrasar mais.

Comecemos pela dependência que primeiro motivou-me a escrever esse texto: dependência do transporte coletivo. Se você é um dos patrícios de nossa sociedade, para quem os ônibus não passam de um objeto grande e barulhento que ocasionalmente tenta fechar o seu possante, pule este parágrafo: você não entenderá o seu sentido. Aliás, se você é um patrício, provavelmente não entenderá nada do texto, e nesse caso convido-o do fundo do meu coração a parar a leitura como um todo nesse exato momento. Saia do computador, vá gastar seu dinheiro. De preferência, com generosas doações para mim (atente bem para o vocábulo GENEROSAS).

Retomando: dependência do transporte coletivo. Se você é brasileiro de uma grande cidade, irá me entender. Se for londrino, suíço ou estadunidense, use a imaginação. É simplesmente desumano depender, todo santo dia, de um paralelepípedo metálico para locomover-se no meio urbano. As passagens são caras, os horários são malucos e a companhia é a pior possível. Imagine ter que ME suportar ao seu lado no ônibus, por exemplo. Eu não aguentaria.

E olhe que eu ainda sou um dos melhores, daí tu tira. Porque tem gente que quando entra no ônibus, vishe, as outras pessoas trocam olhares solidários entre si, antevendo o sofrimento que aquela pessoa irá causar. Isso acontece especialmente no início da manhã, quando entram aquelas pessoas que fedem desde o nascer do sol, e no final da tarde, quando aí, não tem jeito, tirando uma amiga super cheirosa que eu tenho, todos fedem.

Quer dizer, é um verdadeiro martírio. Uma coisa horrível, uma verdadeira penitência. Se eu me tornar padre um dia, mandarei os que se confessarem comigo pegarem as linhas de ônibus mais longas da cidade, no horário de pico. Se a pessoa não re reconciliar com Deus ali, não se reconcilia em lugar nenhum.

A única coisa pior que ter que fazer isso todo dia é NÃO PODER fazer isso todo dia. Hoje, por exemplo, não pude ir ao trabalho, pelo simples fato de que os rodoviários da gloriosa terra que me sustenta decidiram pregar uma peça na população, fazendo uma "greve-surpresa". Sem aviso prévio, sem divulgação. Nem mesmo boatos. Nada. Simplesmente, ás 4 da manhã, decidiram que iam parar. E pararam, e a cidade parou com eles. Simples assim.

Muitas pessoas ficaram furiosas, algumas deprimidas, receosas. O teu chefe não quer saber se os ônibus estão em greve, ele quer você ali bonitinho no seu posto de trabalho, colocando o capitalismo para funcionar.  Graças a Deus não tenho esse problema, meu chefe é um amor de pessoa (pro caso de ele ler o blog), podendo, portanto, ao invés de ficar furioso, receoso e outros sentimentos dessa estirpe, sentar minha bunda na cadeira e refletir sobre a miséria da condição humana.

Falando sério, agora. A situação que eu trouxe aqui é conhecida de muita gente. pode não ser nesses moldes, mas todo mundo sabe o que é depender de algo, ou de alguém, pra viver, pra fazer algo essencial ou não. Todo mundo sabe o que é dependência. Faz parte da condição humana, faz parte do que a gente é. Eu quis ilustrar de uma forma bem humorada, na medida do possível, com a situação acima, mas a verdade é que esse é um grandes calcanhares-de-Aquiles da nossa existência.

Nos próximos posts sobre o tema, buscarei discorrer sobre o tema com calma e seriedade, expondo minha opinião sobre o tema, e tentando resumir, através desse aspecto, um pouco do que penso acerca do espírito humano. Sem mais, desejo que o Senhor se digne a volver Seu olhar para nós, e nos dê a Sua paz. Amém.

2 comentários:

  1. Eu sou cheirosa! hahaha
    De fato, esses motoristas não tem consciência mesmo dos seus atos, como se todos eles tivessem carro pra levar seus filhos pra escola. ¬¬ E suas esposas não tivessem que ir trabalhar

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  2. Talvez tudo melhore um dia (ou piore de vez). Depender do transporte coletivo para ir em qualquer lugar é horrível no aspecto da dependência mesmo e por não ser totalmente imprevisível o tipo de companhia que vamos achar, afinal é COLETIVO/PÚBLICO. Há benefícios em andar com o transporte público, mas esses benefícios são vistos desse modo por aqueles com uma consciência mais verde (entendeu né?) ou simplesmente capitalista. Maiores detalhes dessa discussão, farei ao vivo e a cores contigo.

    Jennifer Salgado

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