A metáfora é tão antiga que corro o risco de ser repetitivo e medíocre já na ideia do texto. De fato, os filósofos gregos, o Apóstolo São Paulo e o próprio Charles Darwin tinham firme em suas mentes a ideia de que a vida do homem pode ser resumida como uma corrida. Não sei para vocês, mas a mim, tirando um ou outro defeito de teoria aqui e ali, faz todo o sentido. Senão vejamos:
A própria vida do homem começa em uma corrida, não é mesmo? Quando a unidade progenitora masculina (para os íntimos, "papai") secreta seu material reprodutor dentro do átrio de prazer da unidade progenitora feminina (dependendo do caso, pode ser um átrio de dor, como no caso do estupro e de certas tribos africanas), começa aquela corridinha de três ou quatro dias de que todos somos conhecedores, ao menos teoricamente.
Ao vencedor, o direito de participar de outra corrida, essa mais complicada. Depois de um pit-stop de nove meses, o carro-homem irrompe dos boxes uterinos e se lança na louca corrida da vida. Ás vezes voluntariamente, ás vezes nitidamente forçado a isso.
Nunca vou entender o que é que há com essa sociedade que está sempre nos empurrando para frente, sempre querendo que a gente seja o melhor, sempre exigindo 100% da gente, como se pudéssemos ser reduzidos a essa metáfora ridícula que estou usando ao longo de todo o texto.
Na verdade, é um grande perigo estarmos todos, por conta dessa padronização da sociedade, estarmos correndo todos mais ou menos na mesma direção. Porque, assim como naquela primeira corrida, os concorrentes são milhões, bilhões, mas o óvulo, a vitória, a glória, permanece apenas uma só. E há cada vez mais espermatozóides crescidos por aí, de terno e gravata, competindo pelos mesmos óvulos de sempre.
Não é a toa que temos assistido, ao longo dos anos, o crescimento de teorias eugênicas, o barrismo etnocêntrico europeu e a divisão de classes cada vez maior da sociedade. No final, tudo se resume a eliminar concorrência, a estabelecer padrões, a tirar o máximo possível de gente da pista, para que os vencedores sejam sempre os mesmos. Isso não importanto a sua ideologia, visão de mundo, filosofia...não, não, no fim tudo são apenas fórmulas para vencer.
Quando os comunistas tomaram o poder na Rússia (o que na verdade foi um enorme erro, mas isto é assunto para outro post), cadê que eles fizeram metade do que prometeram? A única parte do plano deles que deu certo e que até hoje dá frutos malignos foi a criação de uma cultura de ateísmo materialista que dizimou a religiosidade dos povos do leste europeu. Convenhamos, um fiasco para quem se propunha a consertar todos os males da sociedade.
Quando o cristianismo tomou conta de Roma, era a chance de iniciar uma era de prosperidade, paz e proximidade com Deus para toda a humanidade. Mil anos depois, o Papa era um homem rico acumulando fortunas no Vaticano. Quando a democracia se tornou a forma de governo dos povos, todos pensávamos que finalmente era o fim da tirania e liberdade plena da humanidade. Hoje, cada vez mais os Estados ditos democráticos se esquecem do povo e pensam apenas na própria sobrevivência e enriquecimento.
O que eu estou querendo dizer é que a ideologia, a forma como eu me apresento, as coisas que eu digo...infelizmente para a maioria da humanidade isso tudo é figurativo, é secundário. É instrumental, e se é instrumental, não é o fim último, mas apenas uma maneira de chegar a ele, qual seja: vencer.
Parece que continuamos com a mesma mentalidade de quando era apenas minúsculas cabecinhas munidas de flagelos, sem ver, ouvir, falar, ou nada que faça a vida ser efetivamente plena. Continuamos prisioneiros daquela filosofia instintiva, simplista e amoral. Saímos do corpo de nossas mães, mas esquecemos nossa humanidade por lá.
A corrida continua. E nós continuamos nela, mesmo que não queiramos admitir isso. Pode ser que você não corra por dinheiro, por fama ou por glória. Mas efetivamente todos correm por alguma coisa, mesmo que alguns não corram, apenas andem ou rastejem, e mesmo que se corra apenas pelo direito de ficar parado.
Por mais que eu me decepcione e me entristeça com isso, o fato é que também estou correndo. Também estou buscando meu lugar ao sol, e sei que isto está errado! Enquanto os homens continuarem fazendo as coisas funcionar dessa forma, a verdade pura e simples é que a coisa não vai funcionar!
Quisera eu que a humanidade tivesse uma enorme epifania, que os corações se voltassem para Deus e buscassem a solidariedade, a fraternidade e o espírito cívico. Com efeito, penso que ao final todos gostaríamos que fosse assim, o difícil é você parar de correr pra começar a falar isso pros outros competidos com a certeza de que eles não vão simplesmente te ignorar e continuar correndo, e antes que perceba você estará em último e além de qualquer chance de sucesso.
O fato é que o homem corre, e corre em tantos sentidos que não seria viável ou razoável me debruçar sobre todos eles. Corre em busca de uma chegada que ele não vê, em busca de uma realidade que não existe. Corre às chegas, corre solto, corre com fé, contra a maré.
O homem corre. E pra quê?
Rapaz, eu tabém corro, sabe lá Deus porquê...rs
ResponderExcluirO homem é curioso e competitivo por natureza. Temos uma sede de saber e descobrir o mundo a nossa volta desde o momento que saímos do ventre da nossa mãe, pois tudo o que fazemos e descobrimos pode impulsionar a sociedade para um nível maior de esclarecimento (ou não). Mesmo aquele que se chama de preguiçoso, tem alguma coisa que pode despertar a curiosidade dele de tal forma que ele começa a mostrar um lado que muitos não conhecem, as vezes nem mesmo a pessoa. Nossa sociedade atual não aceita muito bem os ditos na média (muito menos os abaixo da média), sempre esperando que todos sempre se superem para conquistar aquela vaga na empresa mais TOP que área, conseguir realizar seus desejos e sonhos e por ai vai. Nós corremos para satisfazer nossa curiosidade e as expectativas da sociedade, além de atender aos nossos desejos que podem ou não nos levar a um bom lugar.
ResponderExcluirEntão no fim tudo se resume na nossa curiosidade potencializada pelo meio em que vivemos, é isso?
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