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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Considerações sobre uma espécie de paixão

Preliminar: hoje, especificamente, não tem nada de científico, filosófico, religioso, político nem nada aqui. Caramba, é sexta-feira, estou cansado. É uma falta de caridade exigir da minha pessoa qualquer erudição nesse momento. Sócrates também amava, Karl Marx de vez em quando dava uma bebidinha no bar com os amigos comunistas e até Jesus Cristo de vem em quando era convidado prum bom banquete. Então minha dica é: quer intelectualidade agora, vai ler a Barsa ou ver TV Cultura. Que por sinal, já foi melhor...

Isto posto, vamos lá. Antes de chegar onde eu quero, preciso dar algumas informações preliminares. Existem basicamente, segundo correntes da Psicologia do Temperamento, quatro tipos básicos de orientação de personalidade: O colérico, o sanguíneo, o fleumático e o melancólico. Ainda segundo essa mesma corrente científica, todos possuímos traços desses quatro tipos de temperamento, porém, em geral, dois são dominantes e dois são recessivos, ou seja, dois nos governam, por assim dizer, e os dois últimos meio que estão ali apenas pra compor elenco.

Oras, isto posto, logo percebemos que há uma quantidade infinita de possibilidades temperamentais, se considerarmos combinações desses tipos, mais as porcentagens de cada tipo e o modo como lidamos com isso no dia-a-dia. Uma das combinações que mais me fascina, especialmente por ser a minha, é a combinação melancólico-fleumático. E agora, chegamos, finalmente, onde eu queria chegar.

Não tem jeito. O fleumático, em seu racionalismo, tenta sempre evitar o envolvimento emocional, tenta sempre explicar, valorar, dissecar e esquematizar tudo e todos á sua volta. Sua dificuldade de se entregar ao mundo das emoções faz com que as mesmas sejam para ele muito raras e, por vezes, estranhas.

Já tem termos de melancolia, temos o o problema da pessoa que está sempre desconfiada, pronta a pensar que as coisas vão dar errado e tendente aos pensamentos de depressividade e crítica cruel de si mesmo, sem contar a extrema sensibilidade que é tão característica desse tipo de gente, e que só faz as coisas piorarem mais ainda!

Outro dia desses conversava justamente com uma amiga minha (aquela, a cheirosa), por sinal também melancólica-fleumática, embora em proporção bem mais equilibrada do que a minha, e com um terceiro temperamento bem forte, também, uma coisa incomum e que origina personalidades riquíssimas, poços de mistério e encantamento para quem tem paciência e disposição para encarar as várias faces do ser humano.

Bom, mas por qual motivo estou dizendo tudo isso? Muito simples, e na verdade até bem óbvio. Pra mim pelo menos é. Sei lá. O fato é que quando uma pessoa dessas se apaixona, cara, isso é algo que merece destaque. Merece publicidade. Merece notoriedade, divulgação, publicação, noticiamento, espalhamento, holofotes, e por aí vai.

Claro que estou dando definições extremamente superficiais, mesmo porque não sou profissional nem estudioso da área, apenas um amador que gosta de ler sobre o assunto, e dar, claro, seus pitacos. Afinal, se quem pergunta quer saber, quem sabe quer mostrar que sabe, mesmo que saiba muito pouco.

Enfim, eu dizia que quando uma pessoa dessas se apaixona, quando ela decide admitir para si mesma que está apaixonada, isso é motivo de orgulho, isso é um pico no padrão energético do universo, ou alguma coisa muito louca mais ou menos nessa escala, resguardadas as devidas proporções, que eu sou dramático, mas não sensacionalista.

O que ocorre é o seguinte: quando uma pessoa melancólica-fleumática ou fleumática-melancólica se apaixona, isso quer dizer que ela REALMENTE se apaixonou. Não apenas de corpo nem apenas de mente, como sói muito ocorrer com outras combinações de temperamentos. Aqui, não. Aqui a junção de racionalidade com sentimentalismo, mentalidade sonhadora com tendências pessimistas, crítica assaz exigente com seleção cuidadosa, garantem que ao final a escolha seja sempre boa, sempre adequada. E o sentimento, para passar por tantas peneiras, só pode ser verdadeiro.

E, sendo verdadeiro, é genuíno. E, sendo genuíno, é autêntico. E, sendo autêntico, é poderoso, admirável, mágico, mesmo. Simplesmente pode ser resumido como muito bom, como bom demais, bom em si, bom rapaz. Sendo tudo isso, tem o condão de empolgar quem dele se alimenta, quem o cultiva, tem a força para despertar na pessoa coisas novas, desconhecidas, e coisas velhas que já vinham deixando saudade.

Não importa se as coisas dão certo ou não, não importa se a outra pessoa sente isso de volta, também, não importa nem mesmo se ela tem essa capacidade. Quem alcança esse estágio simplesmente não está nem aí pra essas coisas, só quer saber de continuar nesse estado tão bom, tão sereno, tão humano. Ou divino. Bom, em Jesus o divino e o humano se confundem, e sendo Deus amor, quem sabe há muito as fronteiras entre o humano e o divino não sejam essa coisa rígida que a gente costuma imaginar?

Como eu disse anteriormente, não importa se as coisas deem certo ou não. Para o plano material isto é fundamental, claro. Mas não para o plano dos sentimentos, não para o potencial para a bondade desperto numa hora como essa. O bom de estar assim não é justamente esse altruísmo repentino e inflamado que nos surge, fazendo-nos esquecer de nós mesmos e voltando-nos para o bem do ser amado?

De fato, considero que a correspondência do amor, nesse caso, nada mais é do que um exaurimento do mesmo, o qual já existe, já está consumado e produz efeitos benéficos em seu portador e em sua destinatária, muito embora ela não saiba disso, e na verdade isto pouco importe.

 Bá, o sentimento é da pessoa, ou seja, ninguém tem o direito de dizer o que ela deve fazer com ele. Nem mesmo a pessoa que se ama, e isso é o grande ponto culminante da questão. A pessoa que se ama pode dar o fora, pode desprezar, pode machucar moral, sentimental e até mesmo fisicamente. O que ela não pode, de jeito nenhum, é impedir de amá-la. Isto é assunto tão somente de quem ama, pois é dessa pessoa que parte o amor, e não por nada do que o ser amado tenha feito, mas tão somente pelo que ele é.

Não fosse assim, não se poderia chamar de amor o que Cristo e seu Pai, nosso Pai, sentem por nós. É notória a desproporção entre o Amor perfeito da divindade pelos homens e o amor deficiente, egoísta e inconstante dos homens entre si mesmos e com relação à própria divindade, muitos não tendo a sensibilidade mínima sequer para sentir a presença do Criador. o que é lastimável.

No entanto, a despeito dessas deficiências de nossa parte, está Ele sempre por perto, nos ajudando, sendo paciente conosco, e pensando no nosso bem muito mais do que nós mesmos. Penso, como cristão, que tal amor é o que devemos sempre ter como exemplo, e, sendo ele impossível de se por nós alcançado em nossa ora deprimente condição humana, o jeito é o tomarmos como referência e buscarmos nos aproximar dele tanto quanto possível, mesmo que para isso tenhamos de experimentar, como Jesus experimentou, a cruz da incompreensão e da impossibilidade de retribuírem a Ele tudo quanto deu, qual seja: tudo, mesmo.

Bom, era só isso. Tratem de sair do computador e ir rezar um pouco! Faz um bem maior do que vocês imaginam! Deus me ajude, porque eu preciso muito, olha!



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