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sábado, 16 de junho de 2012

LABORE (parte 2)

Olá, senhores. Como combinado anteriormente, continuando a discorrer sobre o Trabalho em um outro post, pois o anterior ficou muito grande. Continuar a falar sobre o tema em um único post o tornaria excessivamente grande, e este é um blog razoável. Por isso dividi em dois posts, e se esse ficar muito grande, também o dividirei. Tudo para melhor atender a você, nobre leitor que encontra tempo para sorver minhas palavras como um filho que suga alegremente os seios rijos de sua mãe.

Enfim, no post passado eu ia dizendo que com a Idade Moderna (que para os fins deste blog não é a idade moderna histórica, mas sim a sociológica, incluindo, assim, a Idade Moderna e a Idade Contemporânea históricas), o trabalho passou a ser a base da sociedade, e objeto de culto de toda a humanidade, praticamente.

O advento do capitalismo fez do trabalho simplesmente a mola propulsora do mundo. Tanto é que o capitalismo se baseia na eterna luta entre o capital e a força de trabalho. Especialmente o protestantismo foi fundamental para a popularização desse modelo de pensamento, visto que vários protestantes adaptaram o capitalismo aos princípios cristãos interpretados conforme o protestantismo, especialmente em livros como A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO, do economista e filósofo alemão Max Weber.

Apenas para dar uma amostra do que o trabalho significou nessa época, trago a frase de famoso autor do período ao elaborar consideração sobre o trabalho:
"Ser obrigado a trabalhar, e obrigado a fazer o melhor possível, cria em você moderação e autocontrole, diligência e força de vontade, ânimo e satisfação, e cem outras virtudes que o preguiçoso nunca conhecerá."   (Charles Kingsley)
Claro que também há o lado totalmente negro da questão. O capitalismo do Estado Liberal aliados à ausência de uma cultura de direitos humanos foi extremamente prejudicial para os trabalhadores, que passaram, como sabemos, pelo período mais complicado de sua história desde a escravidão, na minha opinião. E isso tudo com uma certa conivência do cristianismo, notadamente do protestantismo, não se pode negar.

Não à toa Karl Marx escreveu que "a religião é o ópio do povo", pois no Ocidente cristão os pregadores apenas exaltavam como era bom trabalhar, como era enobrecedor, sem se preocuparem com as condições ou com a dignidade do trabalho. Especialmente na doutrina protestante, isso ficou mais do que evidentes, especialmente por que, como já expliquei em outros posts, o protestantismo não tem problemas com a riqueza e com o acúmulo de riquezas, diferentemente do catolicismo onde a pobreza não é obrigatória, mas fortemente encorajada.

Ou seja, tirando o ateísmo puro e simples, o que Marx queria dizer é que a religião acabava cegando os trabalhadores para o fato de estarem sendo oprimidos. Ou seja, ela era apenas uma mentira, um instrumento dos quais os poderosos se utilizavam para se manterem no poder etc etc. NESTE ponto, eu concordo com ele, que a religião acabou sendo infelizmente usada nesse sentido, e nem foi por mal. Apenas o lado social ainda não era visto como passível de sofrer influência religiosa, e até hoje os protestantes em sua maioria se mantém alheios aos acontecimentos sociais. Aliás, muitos dos mais conservadores negam até mesmo a participação da humanidade no efeito estufa. A gente tem dessas coisas, nós cristãos...

Se alguém quiser se aprofundar nessa questão, basta ler um pouco de Jack London, autor socialista que eu admiro muito. Cristão, a maioria das constatações que eu faço foram inspiradas nele, ma também no próprio Marx e em outros comunistas, inclusive alguns hereges, como comunistas convertidos ao cristianismo e adeptos da teologia da libertação, como o Frei Carlos Mestres. A despeito de ser material essencialmente herético, sobre o qual a Santa Igreja de Roma constantemente nos adverte, em meus estudos sobre tais desvios da fé isso foi o que pude extrair de verdadeiro, e o resto é realmente uma tristeza de se ler, muito equivocado, os caras começam bem mas depois enfiam os pés pelas mãos.

Dando prosseguimento, a religião estava passando por um período complicado. Voltar-se para si mesma tentando se preservar ou partir para uma aplicação prática de seus próprios ensinamentos, em uma época conturbada onde a dignidade do homem estava sendo totalmente defasada?

A resposta a essa pergunta, pelo menos em termos católicos, tem um nome: "RERUM NOVARUM: sobre a condição dos operários." Trata-se de uma encíclica simplesmente revolucionária. Para quem não sabe, uma encíclica é, basicamente, uma carta papal, onde ele trata sobre temas diversos, sempre relacionados de alguma forma à moral ou à religião. Dentro do catolicismo, é vocação do Papa unificar a Moral Cristã, dirimindo os conflitos quanto à interpretação das Sagradas Escrituras e sua aplicação na vida prática. A Encíclica difere da correspondência papal fechada, endereçada a pessoas específicas, porquanto é aberta a todo o mundo. Qualquer um pode pegar uma cópia e ler o documento.

Ah, sim, eu já ia me esquecendo. Ninguém tem obrigação de saber latim, por isso esclareço logo que RERUM NOVARUM quer dizer ao pé da letra "Das Coisas Novas". Isto posto, nesta encíclica o Papa Leão XVIII abordou basicamente (veja bem, BASICAMENTE) a questão social com relação à Igreja, ao Estado, o Socialismo e a ação conjunta dos trabalhadores e empregados.

Esta Encíclica é de suma importância para a Igreja Católica porque marca o início e também a sistematização de sua Doutrina Social, que é basicamente como a Igreja age com relação à sociedade e com relação á economia, especialmente com relação ao capital e ao trabalho. Como este é um blog razoável não vou me alongar muito neste tema. Não posso, porém, evitar citar um trecho que muito me agrada deste documento:

"Quanto aos ricos e aos patrões, não devem tratar o operário como escravo, mas respeitar nele a dignidade do homem, realçada ainda pela do Cristão. O trabalho do corpo, pelo testemunho comum da razão e da filosofia cristã, longe de ser um objecto de vergonha, honra o homem, porque lhe fornece um nobre meio de sustentar a sua vida. O que é vergonhoso e desumano é usar dos homens como de vis instrumentos de lucro, e não os estimar senão na proporção do vigor dos seus braços."
 No plano do Direito do Trabalho, essa encíclica foi fundamental para humanizar as relações de trabalho sem a necessidade de se recorrer aos sistemas econômicos alternativos, como os socialismo e o comunismo. A Igreja Católica, usando de sua influência no mundo ocidental, pontificou a favor da dignidade do home  trabalhador, e seu poder de persuasão moral, mesmo em sua decadência, ainda foi capaz de modificar de uma tal maneira as relações de trabalho que hoje qualquer aluno de cursos como Administração ou Direito debruça-se sobre este maravilhoso documento, dada sua importância no formação do próprio Direito do Trabalho.


Olhem só como era uma graça esse homem:



Apenas aproveitando que a imagem já está aqui mesmo, chamo atenção para dois aspectos da imagem, além do Papa fofinho. Primeiramente, temos o Trono papal, madeira revestida com bronze, e não ouro, como muitos erroneamente pensam.


Depois, chamo a atenção para a Tiara Papal, conhecida como "a Coroa que é adornada com três coroas", ou, em latim, TRIREGNUM. A Atual Tiara Papal geralmente é constituída de prata com três coroas de ouro, encimadas por uma ogiva encimada por uma cruz. A Tiara Papal, como tudo mais na Igreja Católica, tem uma tradição tão grande e significados tão diversos que eu nem vou falar dela nesse post, se não o tema se perderá totalmente.


Bom, gente, mais uma vez o post está tomando dimensões por demais extensas, e novamente terei que parar com esta digressão. Mas já estou terminando. Creio que mais um post apenas será suficiente para encerrar a questão. É que eu me empolgo, me desculpem. O conhecimento é simplesmente apaixonante!


DOMINUS VOBISCUM! (O Senhor esteja convosco!)










sexta-feira, 15 de junho de 2012

LABORE (parte 1)

Depois de voltar do longo feriado prolongado causado pelo fato de o Corpus Crhisti desse ano ter caído em uma quinta-feira, depois da volta ao trabalho no escritório, eu estava mais do que ansioso para escrever alguma coisa sobre como estar de volta ao trabalho. Aliás, sobre como é bom trabalhar.

Tudo bem, concedo o referido mérito aos que não gostam de trabalhar e reconheço que é bem possível que eu seja um dos poucos que fala com tanto prazer dessas coisas. Na verdade, sou das pessoas mais suspeitas do mundo para falar nisso, eu e qualquer outro cristão minimamente convicto de suas crenças na Divina Revelação.

Para o cristão, o trabalho é mais do que uma simples atividade, um desgaste de forças ou um suplício, um sofrimento, como ensina a filosofia principalmente dos gregos. É bem verdade que, de acordo com o Livro do Gênesis, inicialmente o homem não precisava do trabalho, uma vez que vivia no Jardim do Éden. Tudo estava ao alcance da mão, era uma belezura, e o trabalho surgiu, na verdade, como um castigo de Deus pela desobediência de Adão e Eva, os quais, por sua rebeldia para com o Deus Criador que havia lhes dado não só a vida como também todas as facilidades com as quais passamos a vida inteira sonhando, agora haveriam  de ter que trabalhar para viver.

Tudo bem, agora que já fui democrático, citando as fontes da filosofia e as fontes do cristianismo (por tabela, do judaísmo, também, e só não cito as fontes islâmicas por notória falta de conhecimento, mesmo), incluindo crentes, agnósticos e ateus na minha digressão, posso prosseguir com a sensação de que não deixei ninguém de fora (eu disse sensação porque é óbvio que sempre alguém ficará de fora, mas como eu já disse várias vezes, este é um blog razoável).

O que podemos perceber, logo de cara, é que no início da humanidade, ou do pensamento humano organizado o suficiente para se constituir em fonte de conhecimento (o que para os fins deste blog dá no mesmo), o trabalho era visto como algo ruim, sofrível, uma desgraça, mesmo. Não à toa, a opção que os homens criaram para não matar seus prisioneiros de guerra foi exatamente escravizá-los. Quer dizer, o trabalho era visto de uma tal forma que o camarada preferia ir pra GUERRA, se arriscando a morrer com uma flechada, machadada, espadada, apunhalada, pedrada e por aí vai, apenas para ter a boa sorte de escravizar algum infeliz e não ter que trabalhar nunca mais.

Isso vale, em gradações maiores e menores, tanto para o Oriente quando para o Ocidente. Claro que especialmente os japoneses, coreanos e chineses até hoje possuem uma visão do trabalho bem diferente da nossa, ocidentais de mentalidade européia, e é lindo quando tenho tempo para admirar os escritos asiáticos a respeito de como eles encaram o trabalho e o descanso. Sério, recomendo a leitura, ajuda bastante a entender de onde eles tiram toda aquela eficiência robótica, embora robôs eles não sejam, apenas homens com uma mentalidade diferente.

O que eu posso dizer aqui, mais uma vez tentando unificar as teorias humanas a cerca do trabalho, é que o homem só queria, e ainda hoje só quer, em termos gerais, trabalhar para recuperar aquele Éden perdido, ou, em sendo religioso que acredita em vida após a morte, conquistar o Paraíso tão sonhado. Isso vale tanto no sentido material quanto no espiritual. Queremos de volta aquilo que já tivemos, seja quando éramos bebês mimados seja quando éramos Adão e Eva andando peladões numa boa por entre os leões inofensivos e as frutas fartas. Queremos a facilidade, queremos a vida mansa e boa, queremos dormir, relaxar e ficar "de boa".

É deveras complicado encontrar alguém que pense de forma diferente, e ressalte-se que em momento algum estou dizendo que isso é errado. Na minha humilde opinião é totalmente compreensível e aceitável, o homem apenas tem a nostalgia incontrolável de recuperar aquele status de "não fazer nada" que originalmente lhe pertencia. Aquele estágio do "homem bom" De Jean Rousseau, aquela condição de pureza de Adão no Éden, enfim. Me impressiona parar para pensar e ver como as grandes correntes do pensamentos humano sempre partem da premissa de que o homem originalmente ocupada uma elevada posição mas que então decaiu dela e hoje somos esses pedaços de carne que você vê na rua, um bando de zumbis não-oficiais.

Não à toa temos as religiões fazendo tanto sucesso, afinal a proposta delas é RELIGAR o homem ao que ele já foi antes, à sua essência primeira, seja na pessoa do Criador seja na pessoa do Universo, seja na Santíssima Trindade ou seja "no deus que há em mim e no deus que há em você" (hindus).

Enfim, falando eu de coisas tão amplas aqui, acabo me empolgando es esquecendo-me de que estava falando apenas do trabalho. E voltando ao assunto do trabalho, vemos que foi apenas com advento do Cristianismo no Ocidente que o trabalho adquiriu um outro enfoque, passando a ser encarado de uma forma mais nobre, um meio para se atingir a santidade e para a realizar-se como ser humano tanto em termos materiais quanto espirituais.

Isto se traduz especialmente no fato de que a escravidão, forma padrão de trabalho no mundo antigo, foi aos poucos sendo substituída por um regime mais brando, qual seja: a servidão. Já não falávamos mais de escravos, portanto, mas de servos. Para o homem pós-moderno é complicado entender e mesmo perceber o que isso quer dizer, muito especialmente porque na prática as coisas não mudaram tanto assim do ponto de vista de nós, modernos trabalhadores assalariados protegidos por nossas Cartas Magnas.

Mas na época, por Deus! Que revolução que foi isso! O simples fato de que o trabalhador poderia, em sua gleba, tirar alguns dias da semana para trabalhar em sua própria terra, foi evolução digna de nota e elogio! Além disso, enquanto que o escravo era totalmente submisso de seu amo, sendo reduzido a mera "coisa" para todos os efeitos jurídicos, no feudalismo ele já adquiriu o "status" de pessoa, embora ainda de forma muito deficiente, faz-se mister ressaltar.

O que vale para o destaque é o seguinte: a evolução da forma como o trabalho passou a ser encarado traduziu a forma como o próprio homem passou a ser encarado, uma vez que, como filhos de Deus, todos ganharam uma importância muito maior aos olhos do ordenamento jurídico da época, o qual era todo ele sustentado pela autoridade das Sagradas Escrituras e pelos postulados a respeito de tais escrituras que vinham do Magistério da Igreja de Roma.

Nessa época, apenas para se aprofundar um pouco no assunto, o Direito Canônico foi o primeiro conjunto de Leis baseado na igualdade formal entre os seres humanos, justamente pelo fato de todos serem filhos de Deus. Hoje, chamamos isso em nossos Estados Laicos de "Princípio da Dignidade da Pessoa Humana", ou seja, o home é valioso pelo simples fato de ser homem. Sua própria essência é digna de respeito. Para os humanistas atuais, por ele ser humano. Para os religiosas da época em que tal ideia surgiu e para os atuais também, porque "foi criado à imagem e semelhança de Deus".

Para superarmos logo esse estágio e avançarmos na história, vejamos uma frase que resume bem como era encarado o Trabalho na Idade Média:

"ORA ET LABORA"

A frase acima, que significa literalmente "ora e trabalha", é a frase síntese da chamada Regra de São Bento (em latim, REGULA BENEDICTI), que originalmente servia para regular o modo de viver e agir em um monastério regido por um abade, mas que acabou se espalhando rapidamente para fora dos monastérios e logo tomou toda a Europa.

Especialmente a partir do século VIII, quando os Carolíngios ordenaram que esta fosse o único código de conduta cristão aceito em seus territórios, ela se tornou quase que um monopólio entre os cristãos católicos, e mesmo após a reforma protestante, sua essência continuou a ser muito utilizada não apenas pelos católicos, mas também pelos anglicanos de uma forma mais pura e pelos protestantes em geral de uma forma um pouco mais defasada, afinal eles na verdade usaram as ideias de São Bento como base para a criação de outras, porque jamais poderiam admitir seguir os preceitos de um santo católico.

Apenas abrindo um pequeno parênteses, eu mesmo sou uma pessoa que muito admira São Bento, homem que foi simplesmente fundamental para a Igreja primitiva. Até hoje suas tradições e ensinamentos são muito difundidos na Igreja Católica, e especialmente os exorcistas tem com ele uma relação muito especial, visto que sua vida foi fortemente marcada pela luta contra o diabo. Inclusive, isto pode ser observado pela própria oração de São Bento:

"Cruz Santa, seja a minha luz. Não seja o dragão o meu guia. Retira-te, satanás, nunca me aconselhas coisas vãs! É mal o que ofereces. Bebe tu mesmo os teus venenos. Amém."

O resumo dessa oração consta da Medalha de São Bento, que eu levo incrustada em meu crucifixo. E o mais legal de tudo é que o resumo é em latim! Muaháháháháháhá!!! Enfim, parênteses feito, sigamos. Mas primeiro, uma foto do dito cujo pra vocês sentirem o poder:

Picture

Percebam que o trabalho, então passou, por força dos estudos dos monges, a ser considerado fonte de salvação, porque combate a preguiça, que é um dos sete pecados capitais estipulados pelo Papa e posteirormente santo, Gregório, o grande. Apenas para que ninguém pense que não há embasamento bíblico, mas apenas " vãs tradições dos homens", como dizem alegremente alguns protestantes para eximirem-se da Sagrada Tradição Apostólica, segue um exemplo da importância do trabalho tanto no Antigo quanto no Novo Testamento:

" Do Trabalho de Tuas mãos hás de viver. Serás feliz. Tudo irá bem..." (Salmo 127, 2)
"Quem não trabalha não deve comer." (Segunda Carta de São Paulo aos tessalonicenses, capítulo 3, versículo 10)
Agora que estamos, acho eu, todos satisfeitos, tanto os católicos obedientes à Escritura, à Tradição e ao Magistério quanto os protestantes e seu famoso SOLA SCRIPTURA, podemos prosseguir, afinal este é, como já falei outras vezes, um blog democrático que procura reunir argumentos de todos os lados. Ateus, desculpem, os filósofos e pensadores em geral da Idade Média eram quase todos cristãos, não deu pra arranjar nada pra vocês pelo menos até agora. Foi mal, de verdade, verei o que posso fazer por vocês agora que vamos entrar na Idade Moderna e tudo o mais.

Bom, senhores, o fato é que este post está ficando grandinho, então irei dividi-lo em partes. Vai ficar melhor para todo mundo. Vou parar esse por aqui e conforme for aprontando as outra partes, publicarei. No próximo post, vou continuar a discorrer sobre o tema.


terça-feira, 12 de junho de 2012

Pequena confissão sobre a Justiça

Estou cercado de prateleiras de literatura jurídica. Livros dos mais diversos ramos do Direito, livros de cálculos trabalhistas, de verbas rescisórias, de elaboração de petições, de processos e constituições. O pesado clima do mundo da Justiça, um mundo à parte onde o que abunda não é a água, mas o papel.

Um mundo onde as plantas que existem são todas artificiais, onde o barulho do homem é incapaz de quebrar o silêncio solene que paira no ambiente. Há uma entidade que tudo preenche, nos pressionando e encolhendo e nos fazendo ou baixar a cabeça ou pior, baixar o espírito. Não há meios termos, não há suavidades. A carne é sempre cortada, às vezes com maior, às vezes com menor classe e elegância, que são palavras que usamos em nosso meio para caracterizar o que do lado de fora poderia ser melhor definido como dissimulação.

Uma crítica muda há muito apagada nos corações das pessoas, uma moralidade escondida, trancafiada em algum dos inúmeros arquivos, fragmentada em mil volumes sem sentido, nos perturba a mente lá no fundo, no porão da mente, como aquelas pessoas que passam anos trancafiadas por seus sequestradores até perderem a própria noção de humanidade.

Sim, o quadro é extremamente desanimador. Extremamente sólido, porque materialista, embora se proponha a cuidar das coisas mais abstratas e no entanto mais sensíveis ao coração do homem, que lhe pesam tanto que realmente é como se fossem feita de alguma matéria que apenas não conseguimos definir. Escapa de nós indiferente, impotentes que somos para lhe fazer frente e ao seu espírito livre. Somos prisioneiros demais de nós mesmos, materiais demais para abarcar o que é de fato a Justiça.

Inventamos símbolos, esculturas, simbolismos, apelidos. Dama Cega, Balança...entre outros, de outras culturas. "Deus ama o Direito e a Justiça", já diziam os antigos Salmos da Bíblia, e em tantos outros de seus livros o certo, o justo e o reto são elevados de forma sublime e lírica por entre os gemidos de dor de pessoas que eram tratadas com tudo menos com Justiça. "A Lei do Senhor Deus é perfeita, alegria ao coração; Os Mandamentos do Senhor são precisos, conforto para a alma." 

Por que não consigo sentir-me confortável com tudo isso? Por que fico me perguntando sempre, sem nunca ter paz? Há algo de podre no Reino da Dinamarca. E também no da Espanha, no Reino Unido, nas Repúblicas...todos temos nossos podres, todos tem alguma coisa a esconder. Ninguém está puro, imaculado, cheiroso. Todos tem seus segredos, suas vergonhas e suas desonras. O que mostramos para os outros para que nos elogiem é apenas uma máscara de bondade, como a casca fina e frágil de um ovo que impede a maldade e os instintos mais selvagens de se esparramarem como uma torrente de maledicência, egoísmo, consumismo, egoísmo e lascívia.

***

Peço desculpas a todos, sequer disse-vos bom dia ou algo assim. Nem sempre, infelizmente, é adequado começar um raciocínio dessa maneira, especialmente quando ele surge do nada, e se instala no coração e na  mente com tanta força de repente. Algumas coisas a gente sente uma vez ou outra, outras apenas uma vez na vida. Mas há coisas que sentimos todos os dias, que nos cercam como um exército invencível e inimigos vorazes, e no entanto a gente quase sempre não se dá conta dessas coisas, ou finge que não dá.

Hoje, porém, não tive como escapar. Capturado, fui torturado. E torturado, fraquejei. E, fraquejando, falei.

Até a próxima.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Católico e Cristão: para mim são a mesma coisa, pra outros,bem...

Bom dia, bom dia, bom dia...Alegria, alegria, alegria! E aí povo fiel, como é que vão? Hoje é um dia que começou muito bem! Estou contente em voltar ao trabalho, por mais incrível que possa parecer! É que sou daquelas pessoas que, se ficam muito tempo sem fazer alguma coisa, ficam agoniadas. Não me agrada sequer a ideia de ficar muito tempo parado, de modo que férias muito longas, longe de serem para mim um motivo de saúde, acabam se tornando um motivo de doença, muitas vezes.

Claro que também só fica parado quem quer, mesmo sem trabalho. O que não falta é coisa para fazer neste mundo de lutas e provações que é o nosso. Para o mal, e especialmente para o bem, sempre há muito a ser feito, e eu sou fiel testemunha disso. Pense num final de semana movimentado e cheio de altos e baixos em termos de tarefas para o bem!

Explico melhor: o Grupo de Oração do qual participo está organizando um retiro, a ser realizado nos dias 13, 14 e 15 de julho (aproveito e vou logo dando aquela divulgada na cara de pau), e, nossa, como é uma coisa para tirar esses empreendimentos do papel! Em meio a tantos problemas, alguns até divertidos e outros verdadeiramente estressantes, algumas situações merecem ser colocadas em destaque.

Por exemplo, até onde eu sei nós CRISTÃOS somos uma religião só, não é? Pelo menos nas contagens oficiais é assim que somos apresentados, com os números correspondentes a cada facção. Pois muito bem, isto é deveras consensual, ou pelo menos eu assim pensava até ontem.

Explico melhor ainda: estamos passando nas casas das pessoas perto das Igreja onde somos sediados,divulgando e convidando para o nosso retiro. Legal,que alegria, etc, etc, chegamos em frente a uma casa muito da sua bonita, com antena parabólica no telhado, jardim gramado e tudo o mais que há direito. Instintivamente tive a sensação de se tratar de uma casa protestante, devido à minha larga experiência com esse tipo de abordagem: é impressionante como, pelo menos até hoje, as casas mais bonitas que tenho a honra de visitar são casas protestantes.

Já cheguei inclusive a discorrer aqui no blog sobre algumas das razões de ser assim, protestantes são capitalistas por natureza, veem a riqueza como sinal de benção e predileção por parte do Senhor, etc, etc, ao passo que os católicos sempre foram mais afeitos ao lado social da coisa, à partilha, etc, etc. Enfim, o fato é que nós católicos (católicos de verdade, não me venha argumentar que aquele seu conhecido que SE DIZ católico e é rico serve de exemplo. E nada impede que um católico seja rico, estou apenas dizendo que  é mais difícil de se encontrar, em geral) não tendemos a ter casas com parabólicas, grama nos jardins e por aí vai.

A despeito disso, até ontem eu pensava que ainda seguíamos a mesma religião. Hoje, estou cheio de dúvidas, e percebo que terei que me aprofundar nos ensinamentos protestantes para descobrir o que é que leva aos curiosos acontecimentos de ontem.

Tocamos a campainha, batemos palmas, e eis que surge uma moça de lá de dentro que só pode ser descrita como uma personagem idealizada de um livro de temática feminina adolescente: bem vestida, toda arrumadinha, parecia, sei lá, uma atriz que acabara de se arrumar em um estúdio para a realização de uma cena de alto caráter social (entenda-se social como entendia José de Alencar, ou seja, a reunião de pessoas ricas e abastadas obcecadas pela aparência e por camadas sobrepostas de maquiagem). Ao nos apresentarmos e explicar nosso propósito, foi para dentro e chamou sua mãe. A cena que descrevo a seguir ficará em minha memória para sempre.

Colocando apenas a sua cabeça para fora, escondendo o resto de si por detrás das belas paredes de sua requintada residência, a senhora sequer nos disse oi ou qualquer outro tipo de cumprimento, foi logo perguntando, em tom até gentil: "Vocês são católicos?". Oras, prontamente eu e minha dupla respondemos que sim, nada mais natural. A resposta da mulher foi épica:

"Ah, me desculpe, MAS É QUE NÓS SOMOS CRISTÃOS . Mas Deus abençoe vocês, tá bom?"

Oras, mas que espécie de resposta é essa? Como assim, NÓS SOMOS CRISTÃOS? E nós, católicos, somo o que? Não-cristãos? Oras, se não somos cristãos, de acordo com a própria lógica do cristianismo, só podemos ser...PAGÃOS. Em uma fração de segundo, todos esses pensamentos passaram pela minha cabeça. Cheguei mesmo a me lembrar de Charles Montesquieu, simplesmente o Pai do Direito Constitucional e um dos melhores e mais fervorosos  católicos de todos os tempos (apesar de ser francês...bom, ninguém é perfeito, o que é que se pode fazer), cuja obra foi comentada por vários pensadores protestantes, que estranhamente faziam questão de lembrar sempre que ele era católico, como se isso fosse alguma coisa apartada do cristianismo.

Respondemos aquela mulher prontamente, não de forma agressiva nem deselegante, mas apenas com um lembrete gentil, porém firme, que agora me questiono se não terá sido, em verdade, um ensinamento: "Opa, a senhora é cristã? Nós também, mas tudo bem."

E saímos de lá sem maiores problemas. Depois, claro, houveram outros curiosos episódios, e encontramos mais alguns protestantes que nos deram a mesma resposta. "Nós somos cristãos". Só falta dizer algo como o que a Dona Florinda costumava dizer ao seu filho. "Vamos tesouro, não se misture com essa gentalha".

Desconfio que seja exatamente esse o tipo de coisa que muitos pastores protestantes dizem para seus rebanhos durante os cultos, não é possível! Que o "ser" católico é necessariamente mau, necessariamente impuro, necessariamente incorreto. A descarada arrogância de muitos protestantes para com o catolicismo e tudo o que ele representa me assusta e ao mesmo tempo me entristece.

Não por menos, muitos católicos tem resolvido revidar, e o que eu mais vejo hoje nas redes sociais são as duas grandes correntes do cristianismo lutando entre si, mais ou menos como os xiitas e os sunitas fazem no islamismo.

"Todo Reino dividido contra si mesmo não pode subsistir", já alertava Jesus, Messias Filho do Deus Vivo, que sempre alertou os seus seguidores para que se mantivessem firmes e unidos na fé. Para que fossem sempre um. Na comunhão dos Apóstolos e dos Santos, na hierarquia e na Tradição da Igreja Primitiva, a Unidade sempre foi o ponto-chave, em todos os sentidos. Não é por nada que sempre foram convocados Concílios para que os cristãos pudessem se fortalecer na unidade, resolvendo suas controvérsias sem a necessidade de nenhum cisma.

Infelizmente, já em Trento alguns cristãos se consideraram bons demais para seguir seus irmãos na fé, e desde ali as coisas pioraram, pioraram e pioraram até chegar ao que somos hoje, praticamente como a Alemanha na Segunda Guerra, ou seja, lutando em suas frentes. Ao mesmo tempo em que nos propomos a lutar contra o Diabo, lutamos também, por tabela, com os cristãos das outras facções. Diabo, aliás, vem de DIABOLOS, ou seja, "aquele que separa", "aquele que dispersa", ou simplesmente "o divisor".

***


Esse final de semana, levamos eu e meu amigo, nossa turma de catequese para a Igreja se São Sebastião. Para quem não sabe, esta é a Igreja mais bonita de Manaus na opinião da maioria dos fiéis do catolicismo manauara, e uma das mais amadas, por ser a sede dos Franciscanos na cidade. Os Franciscanos, cujo fundador foi simplesmente São Francisco de Assis (um dos 33 Doutores da Igreja), são das melhores ordens de que se tem notícia. Suas obras ajuda aos pobres e aos viciados os tornam estimados por todos, mesmo os indiferentes ao cristianismo.

Enfim, enquanto os levávamos, passamos pela "Marcha para Jesus", evento evangélico de grandes proporções. Uma das meninas, já com seus 13 anos, quis saber o que era aquilo. Quando explicada que se tratava de um evento protestante, disse sem titubear ao catequista que ia ao volante:"ATROPELA, ATROPELA!!"

Infelizmente tal acontecimento só chegou ao meu conhecimento muito depois do ocorrido, já que eu estava em outro veículo de transporte na hora, seguindo atrás do carro onde aconteceu o episódio. Do contrário essa criança teria sido severamente repreendida pela minha pessoa ali mesmo, mas foi até melhor assim, já que posso refletir sobre o assunto e conversar com ela de forma ainda melhor.

Também a irmã dessa menina já veio me confidenciar raiva do protestantismo. Certa vez. enquanto participava de um culto, em que compareceu obrigada por sua avó protestante, ouviu o pastor dizer (segundo ela): OS CATÓLICOS SÃO MENTIROSOS! ELES FAZEM UM SINAL DA CRUZ NA ÁGUA DE UM PRIVADA E PEDEM PRA VOCÊ MERGULHAR ALI..."

Até que ponto isto é verdade, não sei dizer ao certo. Até que ponto era verdadeiro quando lhe disse, cumprindo meu dever de ensinar no Amor e na Misericórdia de Deus, que ela não deveria se importar com aquilo, relevar e perdoar a ignorância do pastor, não sei dizer, também. Mas os eventos que conto aqui, tão poucos e até bestas comparados a outros, tão mais fortes e que a mídia não divulga, são todos parte de um algo maior. Uma cisão e um ódio, uma rivalidade e uma divisão dentro do próprio cristianismo. 

Podem dizer o que quiserem pra mim, mas tenho certeza de que não era isso que estava na cabeça de Jesus quando ele começou a pregar o Reino dos Céus...



sábado, 9 de junho de 2012

As 5 porções de frutas e o devaneio socialista

Olá, pessoalzinho bacana, tudo bem? Estou perguntando com sinceridade, embora saiba que ninguém vai responder. Seguinte, quero compartilhar com vocês uma coisa que está sendo um sofrimento pra mim, uma coisa realmente muito difícil de implantar na minha vida, que é essa questão de comer frutas.

Mamãe viu um médico falar na televisão que temos de comer 5 porções de frutas ao dia. Isto tem o maior tempão, já. Desde então, ela ficou com isso na cabeça. Aliás, não só isso. Tudo que médico fala mamãe segue. Na cabeça de minha mãe, as palavras dos médicos não perdem nem para as palavras do Papa. O qual, suspeito, teria muito mas moral com a minha mãe se fosse médico, inclusive.

Mas deixemos o pobre Sumo Pontífice de lado. Já é provação suficiente levar os títulos de Vigário de Cristo e Servo dos servos de Deus sozinho sem ter que ficar sendo macerado por não ter um diploma em medicina. Voltemos à minha mãe.

Minha mãe é de uma geração onde os médicos eram idolatrados. Impressiona-me sua reverência e admiração incontida à medicina. Quando mais moço, fez-me ler livros que mostravam como era bonito ser médico, livros de doutores famosos que contavam suas batalhas em nome da saúde. Confesso que li todos e até gostei de alguns. Mas jamais me encantei pela medicina.

Sempre soube que a área da saúde não era para mim. Me incomoda, antes da saúde do corpo, muito mais a saúde da alma imortal do ser humano. Mas claro que o corpo é importantíssimo, afinal, querendo ou não, ele leva a gente por aí, e isso tem muito valor. Enfim, não quero com isso menosprezar nenhum dos profissionais do corpo, apenas estou informando que meu foco é outro, diverso.

Enfim, meu foco sempre foram as palavras, as ideias, os pensamentos. Estou sempre com alguma ideia nova, sempre pensando, sempre buscando aprender. O debate, a busca pela conhecimento e pela Verdade (não opiniões, não ideologias: Verdade), é nessa direção que o meu coração sempre caminhou. O que faço, portanto, faço muito mais por vontade, por amor, do que por senso de idolatria ou senso de capitalismo.

Capitalismo que, aliás, é o que muito regia tudo o que os antigos faziam. Imagino que devia ser uma existência melancólica e terrível de se sonhar, porque os únicos sonhos disponíveis eram a Medicina e o Direito, especialmente no Brasil. Conversando com qualquer pessoa das gerações mais antigas, percebemos como todos eram, alguns mais, outros menos, se não forçados, pelo menos "fortemente encorajados" a seguir a Medicina e o Direito, mas não só pela beleza inata dessas duas áreas. Naquela época, se médico, ser advogado, era invariavelmente igual a ganhar dinheiro, enriquecer em pouco tempo, resolver a vida, e todos esses termos que em nossa sociedade de consumo denotam sucesso, dignidade e "status".

Graças a Deus hoje as coisas estão um pouco diferentes. Já se fala muito mais em amor ao que se faz, em realização pessoal muito mais do que em realização financeira. O que é um alívio, mas ainda não é o suficiente. Infelizmente, alguns aspectos desnecessários ainda povoam nossa vida, sobrevivendo dentro de nós como ecos de nossos pais e avós, continuando a nos mandar fazer coisas que talvez não queiramos com tanta força, ou não queiramos abertamente.

Quem sabe ainda não viverei para ver o dia em que essas coisas acabem e passemos a nos ver como seres humanos, simplesmente, nus em nossa essência do ser, sem todos os disfarces sociais que usamos para tentar passar uma imagem de respeito, uma caricatura de nós mesmos, invulnerável e cheia de títulos? Pareço um daqueles socialistas românticos falando, e na verdade, quem sabe eu não seja?

Tento ser totalmente racional, mas se assim o fosse eu seria totalmente pessimista. Meu prognóstico para a humanidade é o pior possível, mesmo porque, como cristão, sou naturalmente escatológico. Para mim, as coisas tendem a se deteriorar mais e mais até um fim inevitável. Não há como, logicamente, no meio dessa espiral de decadência, encaixar algum período de ouro, alguma utopia do Novo Éden, mas em sonhos românticos, devaneios que às vezes surgem, assim me permito.

Creio que o socialismo seja mais ou menos assim, um sonho meio oculto de cada um de nós. Mesmo o pior dos capitalistas, quero acreditar, alguma vez já parou para ao menos imaginar algo diferente. Vejam bem, socialismo e comunismo não são a mesma coisa. O socialismo é o perfeito meio termo entre os dois, e a verdade é que as modernas Constituições são todas dotadas de alto caráter socialista, como tem que ser, mesmo. O Brasil, mesmo, é exemplo do que estou falando, embora por aqui o complicado ainda seja implantar as normas.

O que não me surpreende, já que, parando para pensar, é muito mais profundo que impor leis, é mudar a mentalidade das pessoas, dar-lhes espírito cívico e noções mínimas de solidariedade. O socialismo é um devaneio, um sonho, não porque sonha com um mundo ou com um sistema político melhor. Até o mais pérfido dos homens é capaz de conceber tal ideal para si. O socialismo é um devaneio, típico de pessoas como eu, porque sonha com um SER HUMANO melhor, e sabemos que tendência do homem, infelizmente, não é melhorar. Pode até ser individualmente, mas não em termos de espécie.

Enfim, tudo isso começou por causa das benditas 5 porções de fruta, e olha só onde é que viemos parar. É realmente um mundo muito interessante, não é mesmo? Como todos os maiores raciocínios do homem começam não por algo que mexeu com a sua cabeça, mas, muito mais frequentemente, por algo que mexeu com seu estômago.

Que o Deus dos cristãos, dos judeus e dos muçulmanos ilumine a todos.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Corpus Crhisti

Bom-dia, nobres e senhores, pobres e doutores. Aqui estou, mais uma vez, feliz da vida, em festa junto com todos os católicos do mundo. Só para constar, não faço essa distinção ridícula entre católicos praticantes e católicos não-praticantes. Para mim, o raciocínio é deveras simples. Se é católico, é praticante. Se não é praticante, não é católico. Basicamente, é isso.

Enfim, eu ia dizendo que todos os católicos do mundo estão felizes. Pelo menos, deveriam estar. Hoje é um dia maravilhoso, um dia de festa, um dia de louvor, adoração, um dia para celebrar o maior presente que Deus nos dá, que é a Si, mesmo, na pessoa de Seu Filho Jesus, encarnado e sacrificado por nós na Eucaristia.

Corpus Christi. Dia de arroubo de orgulho católico, sem dó. Dia de colocar sua camiseta com motivos religiosos católicos e sair andando pela rua feliz da vida. Dia de tapetes, dia de adoração ao Santíssimo Sacramento, que os homens contemplam sem compreender a beleza.


Esta imagem aqui, que eu separei com muito carinho e que devo ao Jornal Estadão (São Paulo), retrata um trecho da festa em São Paulo. Que lindas roupas, que lindas cores! Que ordem, que organização! Deus é louvado por meio destes santos atos! Observem, na lapela das donzelas, o Santíssimo Sacramento, e as cores: o vermelho é o sangue, e o branco é o corpo, o pão. 

Para a Igreja, a Encarnação de Jesus Cristo no pão e no sangue, pela ação do Espírito Santo, sempre foi clara. Já o próprio Jesus nos dava pistas de sua divina vontade para relação à Eucaristia, quando em sua palavra falava: "Eu sou o Pão da Vida" (Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo Segundo São João, Capítulo 6, versículo 35).

Muitas outras vezes fala Jesus de sua Realidade como Corpo e Sangue, como Sacrifício a ser oferecido por nós. Mais para a frente no Evangelho, chega mesmo a afirmar categoricamente, e de modo a escandalizar os presente, todos, que:

"...Se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e se não beberdes Seu Sangue,  não tereis a vida em vós. Quem come a Minha Carne e bebe do Meu Sangue permanece em Mim e Eu nele. E Eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é Verdadeira Comida, e Meu Sangue Verdadeira Bebida. Quem come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue permanece em Mim, e Eu nele."
                                                                                    (João 6, 53 - 56)

Oras, ensina a sábia Palavra que este foi um dos mais polêmicos ensinamentos de Jesus. Lendo a passagem completa, vemos qual foi escandaloso este ensinamento, e como os próprios Apóstolos ficaram escandalizados com tais palavras, a ponto de o escritor chegar mesmo a fazer uma observação muito curiosa no versículo 59: "Tal foi o ensinamento de Jesus na sinagoga de Cafarnaum." Quer dizer, aquilo ficou gravado em sua cabeça, foi verdadeiramente algo digno de nota.

Ora, desde o início do Cristianismo essa passagem é causa de cisma entre os cristãos. Há outras, coloquei apenas esta pois isto é um blog, não uma catequese. Como eu dizia, esta é uma passagem polêmica. Há muitos que entendem que Jesus estava apenas sendo metafórico, que a tudo não passou de uma parábola.

Discordamos, porém, nós, católicos, desse entendimento. Todas as vezes na Bíblia que Jesus ia falar alguma parábola, isto ficava bem claro, seja por que o próprio Jesus falava que era uma parábola, seja porque os evangelistas, ao escrever, sempre deixavam claro que Jesus estava sendo simbólico.

De fato, poucas passagens nos Evangelhos são mais claras e incontrovertidas para os Apóstolos do que essa. Jesus realmente estava falando de COMER e BEBER sua CARNE e seu SANGUE. Jesus estava realmente sendo radical, estava realmente se propondo a superar o antigo Maná que caiu dos céus.

Isto é realmente, à primeira vista, escandaloso. Tanto é que depois deste episódio muitos dos discípulos de Jesus O abandonaram, "e já não andavam mais com Ele..." (João 6, 66). Oras, não se abandona alguém por causa se um mero simbolismo, de uma mera metáfora. O escândalo não vem da metáfora, mas da LITERALIDADE. "Este homem está nos incitando ao canibalismo!" Pensaram os ouvintes. E aquilo foi demais para eles.

Ainda assim, Jesus sempre foi insistente nesse sentido. Na última ceia, fala claramente, ao distribuir o Pão e o Vinho: "Isto É meu Corpo e Meu Sangue." (Mt 26, 26-28; Mc 14, 22-24; Lc 22, 19,20; 1 Cor 11, 23 - 28). E diz ainda: "Fazei isto em memória de mim."

Desde o início do Cristianismo, portanto, desde Jesus com os Apóstolos ali naquela Ceia, a Eucaristia sempre foi o centro e a vida da Igreja.

Já os Pais da Igreja, em sua maioria discípulos diretos dos Apóstolos e seus primeiros sucessores, nos ensinam a respeito da Eucaristia e de como ela sempre esteve presente DESDE O INÍCIO do cristianismo. Segue abaixo trecho dos escritos de um dos Pais da Igreja. Os parênteses são observações minhas:

"No dia do Sol(como era chamado o domingo), como é chamado, reúnem-se num mesmo lugar os habitantes, quer das cidades, quer dos campos.Lêem-se, na medida em que o tempo o permite, ora os comentários dos Apóstolos, ora os escritos dos profetas.Depois que o leitor terminou, o que preside toma a palavra para aconselhar e exortar à imitação de tão sublimes ensinamentos.A seguir, pomo-nos de pé e elevamos nossas preces por nós mesmos (...) e por todos os outros, onde quer que estejam, a fim de sermos de fato justos por nossa vida e por nossas ações, e fiéis aos mandamentos, para assim obtermos a salvação eterna.Quando as ações terminaram, saudamo-nos uns aos outros com um ósculo. Em seguida, leva-se àquele que preside aos irmãos pão e um cálice de água e de vinho misturados.Ele os toma e faz subir louvor e glória ao Pai do Universo, no nome do Filho e do Espírito Santo, e rende graças ("eucarísthia") pelo fato de termos sido julgados dignos destes dons.Terminadas as orações e as ações de graças, todo o povo presente prorrompe numa aclamação dizendo: Amém.Depois de o presidente ter feito a ação de graças e o povo ter respondido, os que entre nós se chamam diáconos distribuem a todos os que estão presentes o pão, vinho e água "eucaristizados" e levam também aos que estão ausentes." (São Justino, Mártir, por volta do ano 107 d.C.).

Estes escritos, considerados por muitos um dos primeiros registros escritos que se tem de uma MISSA, mostram claramente a presença da Eucaristia já no início da vida da Igreja. Ainda outro dos Pais da Igreja, o meu favorito, por sinal, Santo Inácio de Antioquia (discípulo de São Pedro, o Príncipe, e seu sucessor como Bispo em Antioquia), era defensor ferrenho da Eucaristia, bem como São Justino, e muitos outros, que chamamos carinhosamente, católicos, de PAIS DA IGREJA.

Ora, os escritos desses homens datam dos séculos I, II e III, portanto, do início da Igreja. Muitos dos Pais da Igreja foram discípulos dos próprios Apóstolos, os quais foram discípulos de Jesus em pessoa. Logo, os ensinamentos estavam ali, fresquinhos, fresquinhos!

Infelizmente, muitos cristãos ainda hoje não acreditam na Santíssima Eucaristia. Naquele tempo, também, não, e sobre eles Santo Inácio escreveu a caminho do martírio:

"Ficam longe da Eucaristia e da oração, porque não querem reconhecer que a Eucaristia é a Carne do nosso Salvador, Jesus Cristo, a qual padeceu pelos nossos pecados e a qual o Pai, na Sua bondade, ressuscitou. Estes, que negam o dom de Deus, encontram a morte na mesma contestação deles." (Santo Inácio de Antioquia, final do século I ou início do século II - há controvérsias).

Enfim, eu poderia me estender aqui por horas, talvez dias, citando Pais da Igreja, trechos do Evangelho, milagres Eucarísticos. Deus sabe que o faria com o maior prazer, pois me apraz guardar e divulgar a verdeira fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas isto é um blog razoável. Não vou inundar os leitores com todas as maravilhas da Igreja. Dou o gostinho e quem quiser que vá atrás por sua própria conta.

 Encerro com imagem medieval retratando a procissão de Corpus Crhisti no Vaticano recém-inaugurado:


E encerro derradeiramente: GRAÇAS E LOUVORES SEJAM DADAS A TODO MOMENTO! AO SANTÍSSIMO E DIGNÍSSIMO SACRAMENTO! GRAÇAS E LOUVORES SEJAM DADAS  A TODO MOMENTO! AO SANTÍSSIMO E DIGNÍSSIMO SACRAMENTO! GRAÇAS E LOUVORES SEJAM DADAS A TODO MOMENTO! AO SANTÍSSIMO E DIGNÍSSIMO SACRAMENTO!

Amém. Feliz Corpus Christi aos católicos, e feliz feriadão aos evangélicos, muçulmanos, judeus, budistas, taoístas, xintoístas, ateus e outras denominações...abraço.