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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Renúncia papal e a imprensa: cuidado para não ser enganado!

Acompanhando os noticiários ultimamente, senti que era minha obrigação, ainda que os frutos provavelmente sejam muito poucos, tecer urgentes comentários a respeito do que a imprensa e os teólogos e religiosos que ela convida, em sua quase totalidade, tem falado a respeito do contexto da renúncia do meu amado Papa Bento XVI.

O texto a seguir não é o único que pretendo escrever a respeito desse tema, nem o mais completo. Entendam-no mais como uma resposta aos leitores que me pedem um pronunciamento do que um parecer definitivo. Em se tratando de Igreja Católica, a verdade é um novelo sempre muito maior do que aparenta a início, especialmente se levarmos em consideração que estamos falando de uma verdade de 2.000 anos.


Em se tratando de Roma, nunca haverá conclusão definitiva. Todas as conclusões são precipitadas por natureza, quando falamos de uma instituição que não é somente imensa, mas também divina.


***

Primeiramente, é preciso prevenir-se contra os inimigos da Igreja, tanto internos quanto externos. Não se pode ouvidar para o fato de que, especialmente no Brasil, a Igreja é atacada de dentro para fora, como um corpo que padecesse de uma doença. Ataca-se o vínculo com Roma, ataca-se a fidelidade à tradição e ataca-se a espiritualidade tipicamente católica, e isto vindo da parte exatamente daqueles que deveriam ter por principal missão de conservais tais aspectos da fé apostólica, ou seja, os próprios clérigos, teólogos, religiosos, seminaristas.

Acolhe-se, promove-se, ensina-se, defende-se ensandecidamente uma teologia absurda, insustentável ao ponto de ser risível, alimentada por um homem excomungado e suas estranhas afinidades com Gaia e Tupã. Ávido por inovar a Lei de Deus, a Lei Eterna, exatamente aquela que por definição não precisa de inovação, exatamente aquela que é perfeita desde o princípio e será perfeita até o fim, mergulha a Igreja Católica no Brasil em uma cisão, uma confusão onde só quem sai perdendo é a Verdade.

Não se pode ainda ignorar outro fato: em se tratando de Igreja Católica, a opinião da imprensa não serve para nada, salvo raras exceções. E aqui não pretendo de modo algum dizer que só é válida a opinião dos jornalistas que bajulam a Igreja, que só falam bem dela e se cegam aos defeitos que sabemos que estão presentes em seus membros. A problemática aqui gira em torno da missão do jornalista, que é a busca da verdade, e não simplesmente a submissão ao que as massas desejam ouvir, ou pior ainda, a manipulação destas por aqueles a quem se deu o poder de falar...


Infelizmente, deixa-se o julgamento sobre a renúncia de Bento XVI nas mãos daqueles menos qualificados para a  tarefa.

Escrevo de forma especial buscando prevenir, não aos meus companheiros da defesa da tradição e da ortodoxia católicas, mas aos meus leitores leigos, especialmente aqueles que solicitaram este parecer que ora escrevo. É preciso muito cuidado com o que diz a imprensa. Tem-se a tendência, em se tratando da palavra da Igreja versus a palavra da imprensa, de se presumir manipulados e mentirosos todos os fatos alegados por aquela, e verdadeiros e dignos de crédito tudo o que a imprensa diz. Um típico caso da aplicação de dois pesos e duas medidas que pode levar a conclusões totalmente errôneas e a uma compreensão totalmente deturpada dos fatos, exatamente como quer a grande mídia, a quem absolutamente não interessa que a palavra de qualquer organização conservadora, notadamente a Igreja Católica, por sua decadente porém ainda enorme influência, possua credibilidade no imaginário popular.

Não podemos nunca perder de vista que sempre estamos diante de discursos ideológicos, e cada grupo da imprensa dá a opinião que quer a respeito do assunto. Quem acompanhou a cobertura da renúncia do Papa pelas organizações Globo teve uma impressão a respeito do Papa totalmente distinta de quem preferiu orientar-se pelo Grupo Bandeirantes, por exemplo. É óbvio que cada grupo noticiou o fato da forma como melhor lhe conveio, da forma que mais se coaduna com seus interesses. É preciso estar atento para isso.

Todos sabem que a imprensa deste país é parcial ao extremo, e que , em se tratando de Igreja Católica, quase tudo é opinião e especulação ao bel-prazer do jornalista, e quase nada fato concreto. Entretanto- aceita-se sem questionar os "acontecimentos" espalhados pela mídia. Uma verdadeiras lástima.


Sem entrar no mérito do modo como as grandes emissoras abordaram a questão, quero frisar apenas o ponto comum a todas elas: o desencontro de informações. Notório o fato de que ninguém sabia exatamente do que estava falando. Toda espécie de absurdo foi dita, a respeito do Papa, a respeito do Conclave, a respeito da pedofilia, enfim. De certa forma, foi até meio cômico. Não fosse pela gravidade e solenidade da renúncia do Sumo Pontífice, creio que poderia ter dado muitas gargalhadas tal foi o número de disparates dito no dia do acontecimento histórico, disparates esses que continuam sendo ditos até hoje.

O que deve ficar bem claro é que não se pode em absoluto considerar-se bem informado sobre o que acontece em Roma apenas assistindo aos noticiários e lendo as colunas dos jornalistas brasileiros, os quais em sua maioria, verdade seja dita, não saberiam nem diferenciar um monsenhor de um bispo, e pelo simples fato de que a Igreja Católica não é sua área nem de ocupação, nem de preocupação. Isto é óbvio. Da mesma forma como eu não tenho autoridade para falar, por exemplo, sobre o BBB ou sobre o andamento das principais novelas nacionais, e justamente por isso fico de boca fechada com relação a esses assuntos, os jornalistas deveriam pensar duas vezes antes de falar daquilo que desconhecem. Mas não o fazem, obviamente.

Digo obviamente porque é mais que óbvio que a grande mídia não iria perder mais uma oportunidade de abrir a boca para falar mal da Igreja Católica. Seja a época que for, falar mal da Igreja sempre está na moda. Denunciar as "flagrantes" sujeiras de uma instituição podre e ultrapassada, à beira do colapso, sempre rende admiração e respeito por parte da maioria das pessoas. Pregadores protestantes fazem isso, comunistas fazem isso, ativistas de vários movimentos fazem isso, reiteradamente, como forma de aumentar a popularidade. Não é segredo de ninguém que a Igreja Católica tem muitos inimigos, muitas pessoas que não perdem a oportunidade de bradar aos quatro cantos como ela está em crise, como é só uma questão de tempo até ela desaparecer.

Engraçado que nessa história de crise e iminente desaparecimento, já se vão dois mil e anos e ainda continuamos aqui, para a tristeza e ódio de muitos, mas, graças a Deus, para a alegria e salvação de tantos outros. Só isto já serviria para derrubar todos os argumentos dos jornalistas, teólogos e até mesmo religiosos liberais, que juram de pés juntos que a Igreja irá adotar uma postura mais "liberal" com um novo Papa na linha de sucessão. Por liberal, obviamente querem dizer um Papa que libere o casamento dos padres, mas também o casamento gay, o divórcio, o aborto, a camisinha, a eutanásia e o sacerdócio de mulheres.

Esquecem-se que nem mesmo o Sucessor de Pedro tem o poder para fazer isso, esquecem-se de que a Igreja não é dos homens, é de Deus, é de Cristo, e que se Ele quisesse que as coisas fossem assim, Ele mesmo teria dito e nem precisaríamos estar tendo essa discussão. Muitas coisas que vigoravam no Antigo Testamento, Cristo as modificou por meio de Sua autoridade divina. Se não mudou, é porque era para permanecer dessa forma. O que a imprensa não compreende, e o mundo de uma forma geral também não entende, é que nem mesmo a Igreja tem o poder para mudar as Leis do próprio Deus. Como católicos, somos ao mesmo tempo aderentes e prisioneiros de nossa própria fé. Algo totalmente incompreensível no mundo de hoje, especialmente porque ninguém faz força para entender.


Em um mundo secularizado, onde imperam o relativismo e o empirismo imanentista,  é cada vez mais difícil compreender que as normas da Igreja Católica, os famosos "dogmas", não podem ser mudados ao bel-prazer do Papa ou de quem quer que seja, como acontece nas chamadas "igrejas de mercado", mas são os mesmos que sempre foram desde o começo do cristianismo, e perdurarão até o fim dos tempos. Se a Lei de Deus é perfeita por natureza, por óbvio não precisa de mudança nem de aperfeiçoamento. Uma das características do que é eterno é ser atemporal, válido e perfeitamente aplicável em qualquer época. Essa compreensão jurídica da norma divina é fundamental para entendermos os motivos que levam a Igreja Católica a adotar posições tidas como rígidas e ultrapassadas pelos seus críticos.


Pelo contrário, uma vez mais os inimigos de Roma rujem, uns alegres, outros furiosos, com a renúncia de Bento XVI. Não é para menos. Tudo era apenas uma questão de oportunidade. Com o gesto histórico, sem igual em mais de 600 anos, o mundo inteiro voltou-se para um Papa e subitamente deu-se conta de que sabia muito pouco ou mesmo nada a respeito dele, nem mesmo entre aqueles que se dizem católicos. E seus inimigos não perderam tempo em dar ao povo exatamente o que eles queriam: conhecimento, ainda que deturpado ou abertamente mentiroso. Não é para menos que Hitler possuía um Ministério inteiro de seu governo inteiramente dedicado à propaganda. E Bento XVI foi a vítima perfeita para uma imprensa que teve de esperar anos em relativo silêncio. E tome relativo nisso.

Acontece que não era possível falar mal da Igreja tanto assim nos tempos de João Paulo II. Seu enorme carisma e simpatia populares tornavam arriscado demais posicionar-se tão claramente contra o Sucessor de São Pedro. Além disso, o Brasil ainda não era governado pelo PT, a pressão política em cima das emissoras de televisão ainda não era tão forte, e o número de evangélicos, ateus e agnósticos não era tão grande, nem a coragem dos inimigos do catolicismo, que aumenta a cada ano. Que o digam os recentes acontecimentos que se seguiram à renúncia de Sua Santidade (desarmamento de explosivos em uma Catedral na Espanha e invasão da própria Notre Dame de Paris - um das pérolas preciosas do catolicismo - pelo movimento feminista FEMEN).


Número do ocorrências no Vaticano esse ano preocupa o mundo católico: Mais de uma vez, a Guarda Suíça e a Gendarmeria tiveram de controlar tumultos provocados por grupos hostis à Igreja, e, especialmente, ao Santo Padre. FEMEN liderou o número de ocorrências, em uma série de protestos cujas imagens, por óbvio, não publicarei aqui.


Hoje, criticar a Igreja Católica é, além de tudo, uma excelente forma de estreitar as relações com um Estado cujo programa de governo inclui no topo de sua agenda exatamente o aborto e o casamento gay, e ganhar a simpatia de uma crescente parcela da população que adota uma postura totalmente hostil à fé dos apóstolos. Os tempos, de fato, são outros, as tendências são outras, e a imprensa, que sempre soube dizer ao povo exatamente o que o povo quer ouvir, não está fazendo nada a não ser perpetuar-se no poder. De fato, pelo menos nesse sentido, não podemos exatamente culpá-la pelo que faz. Ela está no seu papel.

Papel de servir como termômetro da ignorância de cada um de nós, papel de servir como medidor do nível de informação da população em geral. Pois, se a imprensa deveria ser a nossa salvação do monopólio da informação por parte do governo e dos poderes constituídos, o que fazer quando ela mesma se associa a esse poder, ávida por "pegar a sua fatia do bolo"?

Resta saber, desta feita, qual será o papel que cada um de nós irá ocupar nessa história toda. Se de meros ouvintes, satisfeitos e conformados em novamente engolir tudo o que a mídia nos empurra goela abaixo, ou se teremos a coragem de estudar as questões que nos rodeiam de uma maneira mais profunda, em busca da verdade dos fatos e não simplesmente de opiniões carregadas de cunho ideológico. O cristão é chamado a ser, antes de servo de qualquer outra coisa, a ser servo da Verdade. Afinal, Ele mesmo afirma:"eu sou o caminho, a verdade e a vida".

Devemos ter cuidado para nunca nos esquecermos disso.



sábado, 9 de fevereiro de 2013

Belíssimo Esposo, fonte da verdadeira felicidade




Que triste é quando os que não entendem das coisas da fé nos desafiam com arguições do tipo: “se você é cristão, porque é que está triste? Não deveria estar sempre feliz, já que supostamente o seu Deus é felicidade, e blábláblá?”

Primeiramente, vê-se logo que as pessoas que nos fazem tais perguntas de modo algum sabe o que é a felicidade, do contrário jamais fariam essa pergunta. Também não entendem nada de cristianismo nem do próprio Cristo, do contrário saberiam que Ele, mesmo chorou e sofreu, muito, e que conosco não pode ser diferente, se somos seus discípulos.

Ele chorou quando Lázaro morreu, Ele suou sangue no Getsêmani, ele suplicou ao Pai na agonia da cruz...no entanto, Cristo humano foi feliz a tal ponto de poder contagiar os outros com a sua felicidade, com a sua paz, como o seu amor.

O fato de sermos cristãos, para nós que somos cristãos, não quer dizer que nós nunca iremos ficar tristes. Alguém mais sábio do que eu disse que ter Jesus em nossas vidas não quer dizer que nós nunca iremos passar por tempestades. Quer dizer que, nas tempestades pelas quais passarmos, poderemos ter a certeza de que jamais iremos naufragar.

Muitas vezes nós estamos tristes, não porque a carga sobre os nossos ombros é pesada ou porque nos faltam bens ou comodidades. Na verdade, não raras vezes a tristeza em nosso coração decorre da nossa falta de virtude e da nossa ingratidão. Exageramos o peso que carregamos, atribuindo a ele um valor desproporcionalmente maior do que ele de fato possui, e, por outro lado, esquecemo-nos de dar valor àquilo que possuímos.

Outras vezes nos desesperamos, temos crises de fé. Deixamos nossa visão das coisas ficam embaçada por temores, por preocupações, e esquecemos de quanta coisa boa nos tem acontecido, e então realmente estamos em uma situação complicada. E nos cercamos de situações de euforia, de euforia e loucura, para tentar esquecer o qual somos infelizes nessas horas.

Apenas um coração em paz, apenas uma mente serena e um sublime estado de espírito são capazes de fazer surgir em nós as condições apropriadas para escapar dessa realidade nada chamativa aos corações dos homens. Apenas um ser humano livre das amarras deste mundo, ainda que por breves e diminutos instantes, pode entender a pretensão significativa deste parágrafo. Apenas um coração nessas condições pode distinguir a felicidade de verdade da mera euforia, e, assim prevenido, voltar-se para aquela e fugir desta como o diabo foge da cruz (ou de um bom e santo exorcista).

E o que vem a ser as amarras deste mundo, que nos impedem de esta alegres, contentes, felizes, serenos e em paz? Vem a ser tudo quanto nos afaste de Deus. Tudo quanto se possa chamar de pecado. O pecado devasta a vida do homem, o entristece, rouba as forças e por fim o mata, porque o afasta de sua vocação última, que é o próprio Criador. É como se o homem fosse uma árvore, e Deus fosse a terra. O pecado ataca as raízes do homem, ataca a sua ligação com o solo, ataca a sua comunhão com Deus. Sem Deus, o homem seca e morre...

***

“O pecado é o motivo da tua tristeza. Deixa que a santidade seja o motivo da tua alegria”.

(João Paulo II)

Sem dúvida, nada entristece mais o homem do que o pecado, ainda que ele não tenha consciência disso. Mais do que apenas deixá-lo triste, ilude-o e o deixa cego para as coisas que realmente importam, para as coisas que realmente fazem feliz, as coisas que não perecem, que não passam, que não se perdem, que são eternas.

As pessoas parecem, hoje em dia, simplesmente tão ocupadas em busca da felicidade que simplesmente não tem mais tempo para serem felizes. Lembro-me do que disse a esse respeito o apologista protestante C.S. Lewis: “nada do que não eterno terá valor na eternidade”.

Infelizmente, desde sempre o homem tem escolhido por valorizar demais as coisas que passam, as coisas imperfeitas, incompletas e limitadas, a tal ponto que já não conseguem encontrar em seu coração espaço para acolher o que é eterno. Então, ser fútil deixa de ser motivo de vergonha, mas de orgulho, então o egoísmo, a luxúria e a gula são celebrados publicamente, incentivamos e vendidos como se fossem a solução definitiva para o enorme vazio que todos sentem, mas ninguém quer admitir...



Por causa de pequenos prazeres fúteis, por causa de pequenas alegrias efêmeras, vive-se uma vida de migalhas, sendo obrigado a supervalorizar alegrias tão pequenas diante da necessidade de amor e de compreensão que sentem os homens, muitas vezes tendo-se que abrir mãos dos mais lindos e líricos sonhos de criança em prol de uma realidade imoral, insatisfatória, a ponto de violar a própria natureza do ser, e para que? Para jamais saciar-se, para estar sempre em busca de mais, de mais e de mais, numa corrida louca por um prazer que nunca será pleno, e depois a morte sem jamais ter experimentado o que quer dizer, de fato, estar vivo.

“Por causa de pequenos prazeres passageiros, sofrem-se grandes tormentos eternos”.

(São João da Cruz)

Os grandes Santos da Igreja Católica teceram a respeito disso muitos pensamentos. O homem busca a verdade, busca a felicidade, busca algo para lhe preencher as carências e misérias. Mas se perde no caminho, como alguém que estivesse à, noite, na beira de um lago e visse a Lua cheia refletida nesse lago, e, na ânsia de aproximar-se da Lua, acaba-se confundindo-a com seu reflexo refletido no lago. 

E assim, iludido, troca a contemplação do que desejava de verdade por uma mera imagem, um mero reflexo de seu objetivo...e acaba se afogando no lago. Assim mesmo é a vida do homem, quando se deixa iludir pelas coisas que o mundo oferece e perde o rumo, trocando Deus pelas outras coisas.

Assim, o homem nunca chega ao conhecimento da verdade, porque nunca transcende. Vive apenas em função das aparências, vive apenas em função do imanente, do dinheiro, do poder, do “status”. Assim, nunca chega ao céu, porque seu espírito não é um com Deus.

É uma realidade muito profunda, que só pode compreender quem já encontrou a Deus verdadeiramente. Enquanto não se tem Deus, enquanto não se entrou na verdadeira intimidade de Deus, não é possível compreender a magnitude das palavras desse texto. Somente quem já conhece a Deus pode compreender as minhas palavras. Conhecer aqui é um verbo especial, que vai muito além de ter ouvido falar, muito além de atitudes simples, de ocasiões esporádicas.



O Deus cristão é um Deus Pessoal. É um Deus que se encontra da mesma forma como se encontra uma pessoa. Uma pessoa que muda toda a nossa vida, muda todo o sentido das coisas. Parece bagunçar tudo...na verdade está pondo tudo no lugar. Só Deus coloca sentido nas coisas e faz o homem, enfim, feliz.

“O homem tem um vazio tão grande que somente Deus pode preencher”.

(Bento XVI)

***

A história da Igreja, a história da Família de Cristo, está repleta de homens e mulheres que tiveram suas vidas totalmente transformadas por Deus, por pessoas que ousaram querer mais da vida, mais do mundo, e acabaram dessa forma encontrando finalmente o que buscavam, no momento em que descobriram Deus:

“A busca por Deus é a busca da felicidade. O encontro com Deus é a própria felicidade.”

(Santo Agostinho)



Quando me debruço sobre os escritos de Santo Agostinho, fico impressionado com o seu fascínio por Deus, impressionado com o seu encantamento pelo Criador. Ele lamenta profundamente como demorou para encontrar Deus, como demorou para encontrar o seu Amado. Santo Agostinho amava muito Deus, amava o tesouro que havia encontrado.

"A paz que eu dou não é a paz que o mundo dá"...

(Evangelho de São João, Capítulo 14, versículo 27)

Só Deus, só Deus pode satisfazer os desejos e aspirações do coração humano. Só Deus pode fazer o homem feliz, porque só Deus pode realizá-lo. O mundo não é o suficiente para o coração humano. É preciso algo maior que o mundo, é preciso algo maior tudo. O homem é faminto pelo infinito, e o seu espírito anseia pelo que não tem limites. Anseia por Deus, em outras palavras, ainda que não se dê conta disso.

“Lembrai-vos de fazer escala, frequentemente, no porto do silêncio interior onde podeis encontrar a resposta a todas as vossas aspirações mais íntimas: Deus. Este é o caminho da paz, da alegria, da felicidade; ancorar nossa fragilidade humana na força de Deus...Fazer repousar o barco da existência, assiduamente, no misterioso e pacífico porto da vida interior e da oração: aí encontrareis a força para continuar navegando e também o próprio rumo da navegação”.

(Papa Pio XII a um grupo de oficiais da Marinha brasileira em Castelo Gandolfo)

Vede os sacerdotes, vede as freiras. Vede aqueles que deixaram tudo para servir sem reservas a Deus, vede os homens e mulheres que mergulharam no Amor de Deus inteiramente. Veja se são infelizes. Eu vos digo que nunca conheci homens mais felizes do que os bons sacerdotes que tive a honra de conhecer ao longo da minha vida.




Nenhum deles é ou foi homem poderoso, ou cheio de títulos, ou cheio de poder. É ou foi nesta terra cheio de Deus, e isto foi o suficiente! Não pode haver infelicidade quando se está perto de Deus!

***

Em Deus eu encontrei tudo o que precisava e queria desde o princípio. O Amor, a Paz e a Felicidade. Em Deus, minha ansiedade passa, minha melancolia e inquietação dão lugar à serenidade e à contemplação sorridente. Muitas pessoas chegam comigo dizendo que sou tão bom, mas isso nem de longe é verdade. Eu me conheço, sei que não valho nada. É Deus, é Deus quem me faz bom, e quieto, e sereno. Sem Deus, sou um ser humano realmente digno de pena.

“Fizeste-nos, Senhor, para Ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não repousar em Ti.”

(Santo Agostinho)



Depois que se experimenta Deus, não há mais volta. Não há mais paz, não há mais descanso, porque então você encontrou uma coisa tão sensacionalmente boa que você quer sempre voltar a ela, você quer sempre aquela sensação única, aquele amor tão intenso e enorme que você sente como se fosse explodir de felicidade. Deus é maravilhoso, nunca enjoa, nunca abandona, nunca decepciona, nunca entristece.

Nos Evangelhos, vemos a figura do Cristo que passa mudando a vida das pessoas. Pessoas desesperadas, pessoas abandonadas, pessoas que não tinham mais a quem recorrer, e que encontraram em Nosso Senhor a resposta para suas angústias, e o refúgio seguro pelo qual ansiavam. Cristo não se contentava em simplesmente entrar na vida das pessoas, antes Ele mesmo se tornava a própria vida daqueles que cativava.


Quando vejo o que Jesus fez na vida daquela samaritana, quando vejo o que Ele fez com Zaqueu, com Pedro, com Maria Madalena, quando vejo o que ele fez com aquelas pessoas todas...como não se fascinar por esse homem, esse ser fantástico, apaixonante...

"Ele passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demônio"... 

(Atos dos Apóstolos, Capítulo 10, versículo 34)

***

A alegria nas coisas de Deus é, em última análise, o próprio Deus. Ele é a nossa vocação final, ele é a nossa Eternidade. Fala-se muito da santidade como vocação primordial, mas eu gostaria de ir um pouco além aqui, e dizer que a santidade é instrumento que realiza a vocação última que é Deus. Nós somos vocacionados para Deus, e a santidade é como iremos viver essa vocação!

"Fica comigo, Senhor, pois tenho necessidade de Ti".

(trecho da oração de São Pio de Pietrelcina)


***

Enquanto o mundo mergulha em uma confusão crescente, enquanto o pecado de multiplica, cabe àqueles que encontraram o Senhor a missão de manter viva a esperança, de guardar a fé! De dizer às pessoas que é possível ser feliz, é possível encontrar motivos para sorrir e querer bem a si mesmo e aos outros em a necessidade de trapaças, sem a necessidade de futilidades e de safadezas, e de desmandos e de corrupção.

É preciso manter firmemente hasteada a bandeira da honestidade, é preciso lutar e derramar o sangue pelo Direito e pela Justiça, é preciso combater ferrenhamente toda e qualquer mentalidade maquiavélica que busca instrumentalizar os homens e a dignidade da pessoa humana.

É de uma extrema incongruência que alguém tenha se encontrado com Deus e continue a adotar uma postura relativista, uma postura de conivência com o mau e com tudo o que há de torto neste mundo. Se alguém tem o Amor de Deus dentro de si, então não lhe será possível ficar parado: certamente será compelido a fazer alguma coisa.

É preciso perguntar-se, afinal de contas, o que é que se quer da vida. Queremos o dinheiro, queremos o status, queremos o poder? Então continuemos a levar as vidas que levamos, e certamente conseguiremos o que buscamos. Mas se queremos, se ousamos querer mais, então precisamos mudar radicalmente nossas atitudes.

Aos que compreendem minhas palavras, nenhuma outra atitude será suficiente, a não ser a da heroica defesa do nome de Nosso Senhor, a não carregar corajosamente Seu glorioso estandarte no campo de batalha. A não ser perseverar até a morte. 

Porque para o cristão nada pode ser melhor que a morte por Nosso Senhor. Morrer por Ele, para encontrar-se com Ele.



“A felicidade tem um nome e tem um rosto: o de Nosso Senhor Jesus Cristo”.

(Bento XVI)



segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Rabiscos bipolares

Preliminarmente: o autor, pensando em melhorar a interação com seus leitores, criou uma conta no Ask. Aos interessados: http://ask.fm/CarlosAndreAlencarAssumpcao





Uma voz doce, e um ritmo alegre. A tristeza não consegue acompanhar a música e, derrotada, vai sentar-se em um canto e se embebedar. Quanto a mim, continuo no salão, dançando e sorrindo, saboreando o meu triunfo.

Você deixaria que eu me alegrasse com você? Deixaria-se ser totalmente minha, sem restrições, sem horários, sem compromissos e sem preocupações? Simplesmente se deixaria viver um momento bom comigo, sem todas aquelas perguntas e medos que não levam a canto nenhum?

Dançaria comigo, até ambos ficarmos suados, grudados um ao outro? Deixaria eu sentir vosso cheiro, deixaria eu me perder nos aromas da tua mocidade? Serias minha companheira em uma dança só nossa, em um ritmo exclusivo, secreto?



Serias minha musa, serias o motivo de eu me alegrar enquanto caminho olhando os outros casais e penso: "não se compara ao que possuo"?

Serias uma melodia doce que me temperasse a falta de sabor do passar lacônico das horas que sempre diminuem enquanto a morte se aproxima no futuro incerto, mas inexorável?

Mais do que tudo, serias qualquer dessas coisas, antes de seres mais que apenas um conjunto de palavras que o homem escreve indeciso entre o desejo e a desesperança?

***

Homem andando no escuro. Minto. Na penumbra. Uma penumbra azulada, uma penumbra muito esquisita, sem dúvida. O homem combina com ela, é esquisito, também. Incompreensível, perturbador, hediondo para os demais. Seu sorriso inexplicavelmente feliz aterrorizaria toda uma multidão de passantes, mas não há uma viva alma a fazer companhia ao caminhante.

***

Sabe do que eu sinto falta? De estar com você. Estar com você, só você. Não com você e o receio da prova de logo mais. Não com você e os compromissos do dia seguinte. Não com você e o horário de ir embora. Não, nada dessas coisas que te deixam tensa, que te deixam arisca, e tão difícil de contentar.



Sabe do que eu também sinto falta? De respostas. Não sinto a menor falta dos teus silêncios constrangidos, não sinto falta de tuas feições esquivas. Deteste os teus "ais", especialmente quando eles veem aos pares. Se fôssemos um par semelhante a esses teus "ais", seríamos um casal simplesmente inseparável.

Mais do que tudo, sinto falta daquela única tarde, daquela única tarde que vai se apagando da lembrança. Sinto falta daquele único momento, sinto falta de algo tão lindo e tão precioso...e você não faz ideia do que estou falando.

***

Enquanto isso, tenho de me ver ficar sem palavras diante de pessoas que se preocupam, preocupam demais com bobagem. Preocupam-se demais comigo, quando deviam estar preocupando-se com coisas mais importantes. Deviam estar se preocupando com aumentar os seios, com comer chocolate até não aguentar mais, com ficar com o bonitão ou bonitona que se mudou para o condomínio semana passada...era com isso que deviam estar se preocupando.



Deveriam estar se preocupando em tirar uma, duas, trezentas fotos, até finalmente aparecer não como você é, mas como gostaria de ser para se sentir bem consigo mesmo, e aí sim poderia então se preocupar em publicar a bendita foto em uma rede social qualquer, quem sabe usá-la em um encontro virtual, ou até mesmo em uma orgia virtual, e todos nos lambuzaríamos em um gozo de pixels e de mentira.

***

Que palíndromo desgraçado! É como um espelho invertido onde a minha felicidade e a minha tristeza se refletissem mutuamente. Uma vive em função da outra, e ambas vivem nos teus olhos, e nessa tua cara de peixe-morto que me consome de uma vontade crescente de te dinamitar do mundo dos vivos e jogar teus pedaços dentro de buracos-negros vorazes que te devorassem até o último átomo.

***

Grite comigo. Urre comigo. Ponha esses monstros para fora. Deixe de medo besta, deixe de frescura, deixe dessas bobagens que só estão te atravancando. Os espinhos são para proteger a rosa do carneiro, do carneiro e das pessoas grandes. Não tem utilidade com relação ao jardineiro que só vem regar, e podar, e admirar. Você tem que se despir, se despir dessas dúvidas, se despir desse receio que está lhe sufocando, lhe matando as raízes...



Quantas vezes já lhe disse, quantas mais tenho que dizer? Não se ganha nada com o medo, ao contrário, se perde tudo. O medo é devorador de sonhos, ele os engole sem mastigar, e nunca se sacia. Vejo o medo em seu rosto. Ele desfigura sua beleza, sobrecarrega suas feições, endurece todo o teu corpo. Como o hálito frio do Crocito, ele lhe envolve em um inverno dos infernos, e o diabo se alegra, sabendo que lhe roubou a felicidade ainda mais um dia. E a minha também, porque meu coração sofre junto ao teu.

***



O castelo é enorme, imponente, e acabado como o rosto de uma velha amargurada. A luz, a luz se foi há tempos, todas as tochas se apagaram, todos os vitrais se estilhaçaram...tudo que era casto, e puro, e inocente, foi corrompido pelo fel de uma vida de ilusões, de meias verdades, e de noites em claro, noites de remorso e pensamentos mórbidos.

A princesa cresceu, preparando-se para um príncipe que nunca chegou, porque não existe, é só uma história criada para justificar você ficar com essa pose na janela, esperando, esperando e esperando, e deixando passar o tempo, as oportunidades...e a felicidade. E ficou velha, encurvada, e com um coração de pedra, de uma pedra afiada que rasga a carne e faz escorrer um sangue pastoso, um sangue insalubre.

Como me lamentarei nesse dia, minha cara! Não por mim, não pelos que se foram. Não pelos mortos, mas pelos vivos. É pelos vivos que se chora, meu amor, é por esta vida desgraçada que lhe rouba o teu sorriso, e de quebra o meu...

***

Quantas vezes, quantas vezes eu quis reunir tuas confusões debaixo dos meus braços, quantas vezes quis acalmar esse coração que bate acelerado? Quantas vezes eu vi a confusão no teu caminhar, quantas vezes vislumbrei a falta de rumo em teus passos apressados e quis gritar para você...

 ...quis remendar com minhas ações, endireitar teus caminhos
 e consertar, e te podar, aparar os teus espinhos
quis te ajudar, quis amparar, tantas vezes corrigir
e em meio aos vossos desaforos e desfeitas persistir...

Mas só ficarás feliz quando me vires desistir.












sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Panis Angelicus



Panis Angelicus
Fit panis hominum
Dat panis coelicus figuris terminum.

O res mirabilis!
Manducat Dominum,
Pauper, pauper servus et humilis!

***

O Pão dos Anjos
Torna-se o pão dos homens
E o pão dos céus dá fim aos velhos símbolos.

Ó coisa admirável!
Deus é o alimento
do pobre, pobre e humilde servidor

***

Ataque. Toda a companhia lança-se ao ataque, desesperadamente. A essa altura do campeonato, nada mais importa. A batalha já está praticamente perdida, só resta a honra dos homens a ser salva. Ou isso, ou virar as costas e bater em retirada rumo a uma vida de misérias. Mais vale um covarde vivo do que um corajoso morto? Mas, afinal de contas, quanto vale a vida de um covarde?

Pessoas que desperdiçam suas oportunidades. Deixam passar a graça, deixam passar as bençãos, as oportunidades. E assim não sabem nada da vida, a não ser acumular derrotas e enumerar os vários motivos para estar sempre com a cabeça baixa.




"O medo de perder tira a vontade de ganhar", já dizia Wanderley Luxemburgo. Conservar, defender, ter cuidado, para não deixar acontecer nada. E, de fato, não acontece nada. Apenas um dia após o outro, enquanto a felicidade escorre pelo ralo. Nada que uma tarde de compras não resolva, é o que eles dizem. As famosas aventuras do homem assalariado.

Que é que há, pessoal? A carga não é tão pesada, assim. Sabemos disso, temos consciência de quantos vivem pior do que nós, de quantos sofrem mais, muito mais. E mesmo assim nos lamentamos, não é mesmo?  Nossos fardos parecem tão grandes, tão monumentais. Somados ao peso de nossos pecados, realmente são quase insuportáveis, nos entristecem.

"O pecado é o motivo da tua tristeza. Deixa que a santidade seja o motivo da tua alegria".

(João Paulo II)

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Quem disse que amar é fácil, né? Que é uma sucessão de sorrisos, de bem querer? Os momentos de maior amor da humanidade foram passados entre prantos e entre lágrimas. Ninguém amou mais os homens do que aquele Deus crucificado um belo dia. E ninguém entre os homens O amou mais do que uma certa Maria, sua mãe. Ali não havia sorrisos, não havia pôr-do-sol romântico. Não havia violinos, nem paisagens aprazíveis. Só a poeira do deserto, e o único tinto não era vinho, era sangue. Mas ninguém duvida que havia muito amor ali. Todo o amor do mundo.




Você que fala de amor, e muda de calçada para não cruzar com um mendigo. Você que comenta como é um absurdo o mundo estar desse jeito, sentado confortavelmente em seu sofá enquanto o próximo sofre sem esperança de ser ajudado. Você fala o que todo mundo quer ouvir, e faz o que todo mundo aprova. 

Você que fala em encontrar alguém decente, e rejeita as melhores pessoas do mundo, talvez porque elas não tenham carro, talvez porque elas não sejam de parar o trânsito. Talvez porque elas achem mais importante fazer o certo do que simplesmente se dar bem. Você, em resumo, que me entristece, que me aborrece, que me faz acordar às vezes sem vontade de olhar pra ninguém na face da terra.

Não são as cargas que são pesadas demais. Você que é fraco, inconstante, peixe grande no lago pequeno. Mas não o culpo, porque somos todos assim. Eu sou horrível. Quase um monstro. E insuportável logo nos primeiros quinze minutos.

É Deus, é Deus quem salva da miséria. É Deus quem acode, Deus quem abraça. É Deus quem consola, e me segura quando eu quero me jogar dos prédios da vida. Algumas pessoas não se aguentam, não estendem a mão, não se deixam segurar por Deus. E se jogam, e voam para a morte, para se espatifar no chão e uma vez na vida que seja, "pararem o trânsito".

Ah, as almas! Se soubessem o quanto valem as almas, se soubessem do que o homem é capaz, quando se deixa amar e ser amado. Se soubessem o que é estar perto de Deus, se soubessem o que é estar em paz, não a paz do mundo, não a paz do poder, a paz armada, a paz que mata, mas a paz de verdade, a paz que dá a vida! Então não perderiam mais seu tempo, pensando em outras coisas.

Infelizes, quase todos. Porque caíram na armadilha de quererem algo que não lhes pode saciar. E nem a todos. Todos querem ser ricos. Não há riqueza para todos. Logo, por uma simples questão de estatística, nem todos podem ser felizes. Será? Quem padronizou a felicidade? Quem acordou um belo dia e escreveu "a felicidade é isso e ponto", e quem eram os babacas que estavam lá na hora e concordaram?

Solidão. Silêncio. Concentração. Só a brisa suave, só o barulho da existência. Nada mais. Sem gritarias, sem perturbações, sem compromissos estúpidos: Aonde você vai? A uma festa. E você quer mesmo ir? Não, só vou parar fazer um social.




Todos dizem querer a paz. Ninguém move um dedo por ela. Estão todos ocupados demais, movendo os dedos por si, mesmos. Estão todos ocupados demais promovendo a guerra, sem saber. Ou pior, sabendo, e não se importando, porque o egoísmo é mais forte. Tudo é mais importante do que o outro, especialmente se for eu mesmo.

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Não, eu não tenho a pretensão de converter ninguém com esse texto. Não, eu não estou revoltadinho, nem cuspindo fogo, nem agindo como um adolescente mimado que solta seus venenos na internet. Só estou sentado, em meu pequeno canto de estudos, desenho e escrita depois de um dia bastante complicado, chateado pelo modo como as coisas são. Todo mundo se sente assim de vez em quando, não é mesmo?

E no entanto, basta um olhar do Mestre, e todo o pranto se converteria em alegria.

Quando se encontrou algo tão maravilhoso como eu encontrei, quando se tem a graça totalmente imerecida de esbarrar com um tal de Jesus Cristo, ao mesmo tempo em que se ganha um motivo perene para sorrir, ganha-se um motivo perene para preocupar-se, e inquietar-se. Inquietar-se por quem ainda não teve essa experiência, entristecer-se por quem ainda não teve o mais delicioso e sublime dos encontros, que faz todos os outros encontros perderem a importância.




É preciso, porém, continuar, e alegrar-se. Há muitos motivos para se alegrar, em verdade, e, se não os percebemos, isso se deve antes de qualquer outra coisa à nossa falta de virtude. Ninguém jamais carregou um fardo mais pesado do que Nosso Senhor Jesus Cristo, e no entanto ele ainda encontrava forças para chamar a si os cansados e os abatidos. Apenas uma virtude muito grande, apenas um amor imenso, é capaz de gerar no coração humano esse tipo de atitude.

Sim, o amor é, sem dúvida, o que há de mais desafiador em qualquer época da história. E o que há, também, de mais divino. Só se chega ao conhecimento de Deus e de sua verdadeira natureza a alma dotada de um grande amor. Sem amor, Deus se torna incompreensível e assustador aos olhos dos homens. O amor é a lente através da qual é possível ao coração do homem focalizar a Deus.

Apenas um coração repleto de amor estará disposto a lutar a favor da vida, mesmo da vida que não tem voz. Apenas um amor tenaz, persistente, que supere o entendimento e o egoísmo humanos, será capaz de fazer frente a esse império da morte que os governos ao redor do mundo tem se esforçado tão acirradamente em implementar.

Como Madre Tereza disse: "Se nós somos capazes de aceitar que uma mãe mate o seu próprio filho, como é que vamos dizer às outras pessoas para não se matarem?" Infelizmente, vivemos em uma cultura de repúdio ao sofrimento, de repúdio à dificuldade, ao inconveniente. Nesse sentido, até mesmo o amor tem se tornado um inconveniente. Porque, para aquele que ama, tudo é válido, até mesmo o sofrimento. Para quem ama, sofrer não é um fardo, mas uma honra.




Para quem ama, o casamento indissolúvel já não é loucura e atentado contra a liberdade, mas compromisso que se quer honrar até o fim. Para quem ama, a virtude já não é uma prisão e um dever pesado, mas justamente o contrário, é a leveza de estar de acordo com as diretrizes do mais nobre e puro de todos os sentimentos. Quem ama não se importa com essa tal de "busca pela felicidade". O amor é feliz em si mesmo.




Enfim, eu quis falar de amor. Quis falar de vida. Quis falar Daquele que dá a Vida. Daquele que me dá forças para defender, com Ele, a vida. Eu poderia ter falado do amor de namorados, como venho falando, embora de uma forma no mínimo heterodoxa. Poderia, mas não quis, porque às vezes o homem deve ser fiel aos anseios do seu coração. Em verdade, o deve ser sempre, o "às vezes" é uma forma de denunciar a própria inconstância e humanidade imperfeita deste que escreve. Mas meu coração ansiava por escrever para Aquele que me amou primeiro.




Pois qualquer um que O encontrou sabe do que eu estou falando. Qualquer um que cruzou com aquele Amor, sabe que não há outro igual. Sabe que nada se compara, sabe que nada pode superar. Quem encontrou Jesus, encontrou o Amor Perfeito.






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Meu Senhor e meu Deus!
Quem fará por mim mais do que Vós?
E quem me amará mais do que meu Deus e meu amado?
Ninguém, meu Senhor, pode comparar-se a Vós
Vosso imenso Amor salvou-me dos estertores da morte
Meu coração infla-se de felicidade junto de Ti!
Para sempre, meu Senhor, Vos serei grato
Junto de ti, já não sentirei vergonha.

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"Jesus, manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao Vosso".

(trecho da oração de consagração ao Sagrado Coração de Jesus, devoção tipicamente católica)