Acompanhando os noticiários ultimamente, senti que era minha obrigação, ainda que os frutos provavelmente sejam muito poucos, tecer urgentes comentários a respeito do que a imprensa e os teólogos e religiosos que ela convida, em sua quase totalidade, tem falado a respeito do contexto da renúncia do meu amado Papa Bento XVI.
O texto a seguir não é o único que pretendo escrever a respeito desse tema, nem o mais completo. Entendam-no mais como uma resposta aos leitores que me pedem um pronunciamento do que um parecer definitivo. Em se tratando de Igreja Católica, a verdade é um novelo sempre muito maior do que aparenta a início, especialmente se levarmos em consideração que estamos falando de uma verdade de 2.000 anos.
![]() |
Em se tratando de Roma, nunca haverá conclusão definitiva. Todas as conclusões são precipitadas por natureza, quando falamos de uma instituição que não é somente imensa, mas também divina. |
Primeiramente, é preciso prevenir-se contra os inimigos da Igreja, tanto internos quanto externos. Não se pode ouvidar para o fato de que, especialmente no Brasil, a Igreja é atacada de dentro para fora, como um corpo que padecesse de uma doença. Ataca-se o vínculo com Roma, ataca-se a fidelidade à tradição e ataca-se a espiritualidade tipicamente católica, e isto vindo da parte exatamente daqueles que deveriam ter por principal missão de conservais tais aspectos da fé apostólica, ou seja, os próprios clérigos, teólogos, religiosos, seminaristas.
Acolhe-se, promove-se, ensina-se, defende-se ensandecidamente uma teologia absurda, insustentável ao ponto de ser risível, alimentada por um homem excomungado e suas estranhas afinidades com Gaia e Tupã. Ávido por inovar a Lei de Deus, a Lei Eterna, exatamente aquela que por definição não precisa de inovação, exatamente aquela que é perfeita desde o princípio e será perfeita até o fim, mergulha a Igreja Católica no Brasil em uma cisão, uma confusão onde só quem sai perdendo é a Verdade.
Não se pode ainda ignorar outro fato: em se tratando de Igreja Católica, a opinião da imprensa não serve para nada, salvo raras exceções. E aqui não pretendo de modo algum dizer que só é válida a opinião dos jornalistas que bajulam a Igreja, que só falam bem dela e se cegam aos defeitos que sabemos que estão presentes em seus membros. A problemática aqui gira em torno da missão do jornalista, que é a busca da verdade, e não simplesmente a submissão ao que as massas desejam ouvir, ou pior ainda, a manipulação destas por aqueles a quem se deu o poder de falar...
![]() |
Infelizmente, deixa-se o julgamento sobre a renúncia de Bento XVI nas mãos daqueles menos qualificados para a tarefa. |
Escrevo de forma especial buscando prevenir, não aos meus companheiros da defesa da tradição e da ortodoxia católicas, mas aos meus leitores leigos, especialmente aqueles que solicitaram este parecer que ora escrevo. É preciso muito cuidado com o que diz a imprensa. Tem-se a tendência, em se tratando da palavra da Igreja versus a palavra da imprensa, de se presumir manipulados e mentirosos todos os fatos alegados por aquela, e verdadeiros e dignos de crédito tudo o que a imprensa diz. Um típico caso da aplicação de dois pesos e duas medidas que pode levar a conclusões totalmente errôneas e a uma compreensão totalmente deturpada dos fatos, exatamente como quer a grande mídia, a quem absolutamente não interessa que a palavra de qualquer organização conservadora, notadamente a Igreja Católica, por sua decadente porém ainda enorme influência, possua credibilidade no imaginário popular.
Não podemos nunca perder de vista que sempre estamos diante de discursos ideológicos, e cada grupo da imprensa dá a opinião que quer a respeito do assunto. Quem acompanhou a cobertura da renúncia do Papa pelas organizações Globo teve uma impressão a respeito do Papa totalmente distinta de quem preferiu orientar-se pelo Grupo Bandeirantes, por exemplo. É óbvio que cada grupo noticiou o fato da forma como melhor lhe conveio, da forma que mais se coaduna com seus interesses. É preciso estar atento para isso.
Sem entrar no mérito do modo como as grandes emissoras abordaram a questão, quero frisar apenas o ponto comum a todas elas: o desencontro de informações. Notório o fato de que ninguém sabia exatamente do que estava falando. Toda espécie de absurdo foi dita, a respeito do Papa, a respeito do Conclave, a respeito da pedofilia, enfim. De certa forma, foi até meio cômico. Não fosse pela gravidade e solenidade da renúncia do Sumo Pontífice, creio que poderia ter dado muitas gargalhadas tal foi o número de disparates dito no dia do acontecimento histórico, disparates esses que continuam sendo ditos até hoje.
O que deve ficar bem claro é que não se pode em absoluto considerar-se bem informado sobre o que acontece em Roma apenas assistindo aos noticiários e lendo as colunas dos jornalistas brasileiros, os quais em sua maioria, verdade seja dita, não saberiam nem diferenciar um monsenhor de um bispo, e pelo simples fato de que a Igreja Católica não é sua área nem de ocupação, nem de preocupação. Isto é óbvio. Da mesma forma como eu não tenho autoridade para falar, por exemplo, sobre o BBB ou sobre o andamento das principais novelas nacionais, e justamente por isso fico de boca fechada com relação a esses assuntos, os jornalistas deveriam pensar duas vezes antes de falar daquilo que desconhecem. Mas não o fazem, obviamente.
Digo obviamente porque é mais que óbvio que a grande mídia não iria perder mais uma oportunidade de abrir a boca para falar mal da Igreja Católica. Seja a época que for, falar mal da Igreja sempre está na moda. Denunciar as "flagrantes" sujeiras de uma instituição podre e ultrapassada, à beira do colapso, sempre rende admiração e respeito por parte da maioria das pessoas. Pregadores protestantes fazem isso, comunistas fazem isso, ativistas de vários movimentos fazem isso, reiteradamente, como forma de aumentar a popularidade. Não é segredo de ninguém que a Igreja Católica tem muitos inimigos, muitas pessoas que não perdem a oportunidade de bradar aos quatro cantos como ela está em crise, como é só uma questão de tempo até ela desaparecer.
Engraçado que nessa história de crise e iminente desaparecimento, já se vão dois mil e anos e ainda continuamos aqui, para a tristeza e ódio de muitos, mas, graças a Deus, para a alegria e salvação de tantos outros. Só isto já serviria para derrubar todos os argumentos dos jornalistas, teólogos e até mesmo religiosos liberais, que juram de pés juntos que a Igreja irá adotar uma postura mais "liberal" com um novo Papa na linha de sucessão. Por liberal, obviamente querem dizer um Papa que libere o casamento dos padres, mas também o casamento gay, o divórcio, o aborto, a camisinha, a eutanásia e o sacerdócio de mulheres.
Esquecem-se que nem mesmo o Sucessor de Pedro tem o poder para fazer isso, esquecem-se de que a Igreja não é dos homens, é de Deus, é de Cristo, e que se Ele quisesse que as coisas fossem assim, Ele mesmo teria dito e nem precisaríamos estar tendo essa discussão. Muitas coisas que vigoravam no Antigo Testamento, Cristo as modificou por meio de Sua autoridade divina. Se não mudou, é porque era para permanecer dessa forma. O que a imprensa não compreende, e o mundo de uma forma geral também não entende, é que nem mesmo a Igreja tem o poder para mudar as Leis do próprio Deus. Como católicos, somos ao mesmo tempo aderentes e prisioneiros de nossa própria fé. Algo totalmente incompreensível no mundo de hoje, especialmente porque ninguém faz força para entender.
Pelo contrário, uma vez mais os inimigos de Roma rujem, uns alegres, outros furiosos, com a renúncia de Bento XVI. Não é para menos. Tudo era apenas uma questão de oportunidade. Com o gesto histórico, sem igual em mais de 600 anos, o mundo inteiro voltou-se para um Papa e subitamente deu-se conta de que sabia muito pouco ou mesmo nada a respeito dele, nem mesmo entre aqueles que se dizem católicos. E seus inimigos não perderam tempo em dar ao povo exatamente o que eles queriam: conhecimento, ainda que deturpado ou abertamente mentiroso. Não é para menos que Hitler possuía um Ministério inteiro de seu governo inteiramente dedicado à propaganda. E Bento XVI foi a vítima perfeita para uma imprensa que teve de esperar anos em relativo silêncio. E tome relativo nisso.
Acontece que não era possível falar mal da Igreja tanto assim nos tempos de João Paulo II. Seu enorme carisma e simpatia populares tornavam arriscado demais posicionar-se tão claramente contra o Sucessor de São Pedro. Além disso, o Brasil ainda não era governado pelo PT, a pressão política em cima das emissoras de televisão ainda não era tão forte, e o número de evangélicos, ateus e agnósticos não era tão grande, nem a coragem dos inimigos do catolicismo, que aumenta a cada ano. Que o digam os recentes acontecimentos que se seguiram à renúncia de Sua Santidade (desarmamento de explosivos em uma Catedral na Espanha e invasão da própria Notre Dame de Paris - um das pérolas preciosas do catolicismo - pelo movimento feminista FEMEN).
Hoje, criticar a Igreja Católica é, além de tudo, uma excelente forma de estreitar as relações com um Estado cujo programa de governo inclui no topo de sua agenda exatamente o aborto e o casamento gay, e ganhar a simpatia de uma crescente parcela da população que adota uma postura totalmente hostil à fé dos apóstolos. Os tempos, de fato, são outros, as tendências são outras, e a imprensa, que sempre soube dizer ao povo exatamente o que o povo quer ouvir, não está fazendo nada a não ser perpetuar-se no poder. De fato, pelo menos nesse sentido, não podemos exatamente culpá-la pelo que faz. Ela está no seu papel.
Papel de servir como termômetro da ignorância de cada um de nós, papel de servir como medidor do nível de informação da população em geral. Pois, se a imprensa deveria ser a nossa salvação do monopólio da informação por parte do governo e dos poderes constituídos, o que fazer quando ela mesma se associa a esse poder, ávida por "pegar a sua fatia do bolo"?
Resta saber, desta feita, qual será o papel que cada um de nós irá ocupar nessa história toda. Se de meros ouvintes, satisfeitos e conformados em novamente engolir tudo o que a mídia nos empurra goela abaixo, ou se teremos a coragem de estudar as questões que nos rodeiam de uma maneira mais profunda, em busca da verdade dos fatos e não simplesmente de opiniões carregadas de cunho ideológico. O cristão é chamado a ser, antes de servo de qualquer outra coisa, a ser servo da Verdade. Afinal, Ele mesmo afirma:"eu sou o caminho, a verdade e a vida".
Devemos ter cuidado para nunca nos esquecermos disso.