Um dos grandes pontos de discordância entre a fé católica e a fé protestante, muito embora seja impossível, com tantas denominações diferentes, usar esse termo de forma satisfatória hoje em dia, tem a ver com a relação com as imagens.
Umas das acusações mais comuns dos evangélicos com relação ao catolicismo é com relação ao uso de imagens em nossos templos, casas, seja da Virgem Maria, seja dos santos, seja dos anjos.
Os ortodoxos não tem tanto esse "problema", uma vez que eles não tem imagens, mas apenas ícones: quadros, pinturas, etc. Um templo ortodoxo é sempre uma profusão de cores, pinturas, quadros, mas nunca estátuas ou esculturas.
O importante é que tanto ortodoxos quanto evangélicos entendem que não há que se falar em imagens, que a confecção de uma imagem redunda em idolatria, ou seja, em adorar uma coisa no lugar de Deus.
Assim, ambas as correntes cristãs acusam a Igreja Católica de ser idólatra, ou seja, de prestar culto não somente a Deus, mas de dirigir a adoração que é devida somente a ele a outros seres, portanto, meras criaturas, indignas dessa conduta.
Esses católicos idólatras!Vão todos para o inferno! - disse o anjinho protestante... |
Aos olhos protestantes, portanto, e aos olhos ortodoxos também, a Igreja peca duplamente nesse particular. Primeiro, peca ao praticar a idolatria, ou seja, adorar falsos deuses (neste post falarei apenas das imagens, mas podemos citar Maria, os santos, etc...); e peca também [assumindo por um momento que a posição protestante esteja certa] ao ensinar que seus fiéis façam a mesma coisa.
Seria, então, um típico caso de UM CEGO GUIANDO OUTRO CEGO, e nesse ponto a Bíblia é bem clara: vão ambos para o abismo. Tal seria o destino da Igreja Católica e de todos os seus fiéis, pois. A Igreja Católica desobedeceria a bíblia, portanto desobedeceria a Deus, uma vez que as Sagradas Escrituras contém a Lei divina.
Estabelecidas essas premissas, com as quais estou certo estão os protestantes de acordo pelo menos em grande parte, vamos às considerações. Primeiramente, a Igreja Católica não apenas não está cometendo qualquer idolatria quando confecciona e coloca imagens nos seus templos, como não assiste razão aos que pensam de forma diversa. Vejamos:
Primeiramente, a confecção de imagens já foi ordenada em mais de uma ocasião pelo próprio Deus, com o objetivo de adornar o Seu Templo. Podemos encontrar o exemplo desta prática, portanto, BÍBLICA, já no segundo livro da mesma:
"Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório." (Ex 25,18)
Aqui podemos observar de forma muito clara que ninguém menos que o próprio TODO-PODEROSO está ordenando que sejam construídas as imagens de dois querubins.
A fórmula lingüística, no presente do indicativo, não deixa sequer espaço para pensarmos que se trate, talvez, de uma mera sugestão ou conselho. O Senhor é bem claro. As imagens DEVEM ser confeccionadas.
Claro, os protestantes não estão de todo incoerentes em seu posicionamento. Como seguidores da SOLA ESCRIPTURA, retiram todos os seus comandos e práticas da Bíblia. Pois bem, adotemos então, nesse post, pelo menos quanto me seja possível, igualmente apenas a Escritura Sagrada para argumentar. Assim ficamos em pé de igualdade, e acho que todos podem enxergar que estou sendo justo aqui.
Os protestantes, totalmente bem-intencionados, é bom que se diga desde já, se opõem a qualquer forma de uso de imagens (esse QUALQUER FORMA deve ser recordado pelo leitor) baseados em um versículo que aparece no Livro do Êxodo pouco antes do citado anteriormente. Trata-se de Ex, 20,4, o qual possui o seguinte teor:
“Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.”
(Aqui é preciso ficar claro outro ponto: todas as citações bíblicas que estou fazendo são retiradas de uma bíblia protestante. Quando e se, ao longo deste post, surgir a citação de uma bíblia católica – o que quer dizer que citarei um livro que não consta na bíblia protestante – eu farei o devido aviso).
Muito bem. Assim, aparentemente, A Igreja Católica estaria claramente desobedecendo a um comando divino. De maneira consciente. Portanto, atraindo sobre si a condenação do Senhor. Contudo, as coisas não são tão simples assim, como passamos a demonstrar.
Ante de continuar, quero novamente ressaltar as boas intenções protestantes. Eles agem assim buscando, de forma zelosa e louvável, impedir o que julgar ser atos que redundam em diminuir a glória de Deus.
Encaram a questão das imagens como uma cruzada para impedir o que julgam ser "dividir a glória de Deus com os homens", no que se refere às imagens dos Santos e da Virgem Maria, dos anjos, etc.
Não se trata o presente post, portanto, de demonizar o protestantismo, mas apenas de procurar mostrar porque, do ponto de vista católico, os mesmos incorrem em equívoco, em se tratado dessa questão (e de quase todas, mas isso fica para depois)
Sem entrar no mérito católico de que, como Igreja instituída pelo próprio Cristo e perpetuamente assistida pelo Espírito Santo, a mesma não tem a capacidade de errar na fé (a mesma é infalível em matéria de fé, pois a promessa de Cristo foi que mesma seria assistida sempre pelo Espírito Santo, o qual, sendo Deus, é perfeito e infalível.
Mesmo que queira, portanto, a Igreja não pode errar, não tem essa capacidade, mas não pelos próprios méritos, e sim promessa de Cristo). Não se trata de uma postura arrogante, como querem parecer alguns, mas de simples coerência com as palavras do próprio Cristo.
Portanto, catolicamente falando, pelo simples fato de ela, Igreja Católica, ter adotado o posicionamento de que não há problema com as imagens, as mesmas já estão automaticamente liberadas. para o católico, confiar na Igreja é, antes de mais nada, confiar no próprio Deus.
Procurarei demonstrar porém, também para o não católico, e portanto alguém para quem os últimos parágrafos são uma autêntica sucessão de absurdos, a razão da Igreja usando meramente a lógica.
Primeiramente, a questão das imagens é antiqüíssima na história da Igreja. Não é uma questão levantada por Lutero e seus companheiros, mas vem desde os primeiros desgastes entre a Igreja do Ocidente e a Igreja do Oriente.
Allan Massie, romancista histórico Membro da Real Sociedade de Literatura (organização britânica), em seu livro CARLOS MAGNO – A VIDA DO IMPERADOR DO SACRO IMPÉRIO ROMANO, já deixa bem claro que essa celeuma foi um dos casos que levou Roma a “perder moral” com os ortodoxos.
Estou citando isso para derrubar desde já uma acusação secundária levantada por conspiracionistas, de que a Igreja Católica, de que a Igreja teria alterado o texto das Escrituras Sagradas pra lhe favorecer.
O cuidado com os conspiracionistas se justifica porque infelizmente a reputação de Igreja é muito difamada por essas pessoas, algumas das quais ousam dizer até mesmo que ela é a prostituta de Apocalipse. O tipo de coisa que acontece quando pessoas podem ler a bíblia e concluir o que quiserem...
Oras, se assim o fosse, se a Igreja fosse mesmo uma alteradora dos textos sagrados, tudo o que a mesma deveria ter feito era omitir esse versículo de Êxodo, que a contradiz (na visão protestante da coisa), e feito o mesmo com tantos outros versículos “problemáticos”. Não o fez. Pelo contrário. Quem trouxe modificações à bíblia atende pelo nome de Martinho Lutero.
Além disso, se a Igreja adulterou a bíblia, ela fez um trabalho muito porco. Passagens enaltecendo a pobreza, o celibato, e outras tantas coisas inconvenientes à "prostituta romana" ainda estão lá. Se ela quisesse mesmo se prevenir contra supostas revelações futuras, o mínimo que se pode esperar é que tivesse feito um trabalho menor.
Quer dizer, em nome de difamar a Igreja vale tudo, até atentar contra a lógica e a razoabilidade. Mas prossigamos com a questão das imagens.
O blog Católico JESUS BOM PASTOR, em post sobre o mesmo assunto, se pronuncia de forma sintética e completa:
“Se ela [Igreja Católica] quisesse mesmo agir contra a ordem divina, teria adulterado a Bíblia nas passagens em que há a condenação das imagens.”
Outro ponto importante citado nesse post, é com relação ao Livro da Sabedoria de Salomão, livro esse que não consta da bíblia protestante, e que é marcado por um forte combate à idolatria.
Achei por bem separar alguns trechos do capítulo 13, que deixam bem clara a questão. Os versículos a seguir foram retirados de uma bíblia católica versão AVE MARIA (estou com preguiça de me levantar para pegar a DE JERUSALÉM):
“São insensatos por natureza todos os que desconheceram a Deus, e, através dos bens visíveis, não souberam conhecer Aquele que é, nem reconhecer o Artista, considerando suas obras.
Tomaram o fogo, ou o vento, ou o ar agitável, ou a esfera estrelada, ou a água impetuosa, ou os astros dos céus, por deuses, regentes do mundo.
Se tomaram essas coisas por deuses, encantados pela sua beleza, saibam, então, quanto seu Senhor prevalece sobre elas, porque é o criador da beleza que fez estas coisas.”
(Sabedoria de Samoção, Capítulo 13, Versículos de 1 a 3)
E ainda:
"Mas são desgraçados e esperam em mortos, aqueles que chamaram de deuses a obras de mãos humanas: o ouro, a prata, artisticamente trabalhados, figuras de animais, alguma pedra inútil, a que, outrora, certa mão deu forma.
Assim, um lenhador cortou e serrou uma árvore fácil de manejar. Habilmente ele lhe tirou toda a casca, e com a habilidade do seu ofício, fez dela um móvel útil para seu uso.
Com as sobras de seu trabalho, cozinhou comida, com que se saciou.
O que ainda lhe restava, não era bom para nada, não passando de madeira torcida e toda cheia de nós; contudo, ele a tomou e consagrou suas horas de lazer a talhá-la.
Ele a trabalhou com toda a arte que adquirira, e lhe deu a semelhança de um homem, ou o aspecto de algum vil animal. Pôs-lhe vermelhão, uma demão de uma tinta encarnada, e encobriu-lhe cuidadosamente todo defeito.
Em seguida, preparou-lhe um nicho digno dele. e o fixou à parede, segurando-o com um prego: foi por medo que caísse, que tomou este cuidado, porque sabe muito bem que ele não pode ajudar-se a si mesmo, pois não passa de uma estátua que tem necessidade de um apoio.
Mas quando lhe implora por seus bens, seus casamentos, seus filhos, não se envergonha de falar ao que é inanimado, e pede saúde ao que é desprezível.
Reclama a vida ao que é morto, e procura socorro no que é débil; e para uma viagem, invoca o que não pode andar; para um lucro, um trabalho, o bom êxito de uma obra de suas mãos, pede a força ao que nem é capaz de mover as mãos."
(Sabedoria 13, 11 a 19)
Assim, a pergunta que surge, óbvia é: como pode s Igreja Católica e seus fiéis, lendo essas passagens, exclusivas de sua bíblia, por sinal, não jogarem foram imediatamente suas imagens profanas, ou repudiar esse livro, como fizeram os protestantes?Será isso tudo rebeldia à vontade de Deus ou simplesmente cegueira?
Nenhum dos dois, eu vos asseguro. Muito pelo contrário. A Igreja Católica simplesmente faz uma coisa muito simples, mas muito útil e recomendável a todos. Algo que somos, ou pelo menos deveríamos ser ensinados a fazer, desde as nossas primeiras aulas de interpretação de texto.
Ela interpreta o texto por inteiro, e não as frases isoladamente. Em outras palavras, a Igreja Católica vê a bíblia de forma holística, ou seja, COMO UM TODO, como uma unidade, e não como textos ou frases, ou mesmo sentenças separadas entre si. E assim, de aparentes contradições, ela sabe retirar o REAL sentido das Sagradas Escrituras. Prossigamos.
É bem verdade, não negarei, que muitos maus católicos, agindo de forma TOTALMENTE CONTRÁRIA AO ENSINAMENTO DA IGREJA, realmente idolatram imagens, infelizmente. Realmente oram para elas, e não para Deus, realmente esperam milagres delas, e não de Deus, e quando alcançam uma graça, a atribuem diretamente a Maria, ou a algum santo, e não a Deus.
Idolatria absoluta, concedo. E totalmente errado, não somente aos olhos dos protestantes, mas também da doutrina católica!
Isto deve ficar bem claro!Ninguém que se der o trabalho de ler o catecismo romano encontrará linhas onde a Igreja aprova esse tipo de conduta. Ao contrário, tudo está devidamente condenado nos capítulo que trata da superstição e da idolatria.
Mas não é a conduta dessas pessoas que invalida, nem a doutrina católica, nem a existência de imagens. Como dito no post anterior, é preciso ter o discernimento, é preciso separar a doutrina católica dos que se dizem católicos e fazem muitas vezes coisas que são tudo, menos católicas...
Continua o post do blog JESUS O BOM PASTOR, no mesmo post “linkado” acima:
“Na Sagrada Escritura há outras passagens que condenam a confecção de imagens como por exemplo: Lv 26,1; Dt 7,25; Sl 97,7 e etc. Mas também há outras passagens que defendem sua confecção como: Ex 25,17-22; 37,7-9; 41,18; Nm 21,8-9; 1Rs 6,23-29.32; 7,26-29.36; 8,7; 1Cr 28,18-19; 2Cr 3,7,10-14; 5,8; 1Sm 4,4 e etc.
Pode Deus infinitamente perfeito entrar em contradição consigo mesmo? É claro que não. E como podemos explicar esta aparente contradição na Bíblia?
Isto é muito simples de ser explicado. Deus condena a idolatria e não a confecção de imagens. Quando o objetivo da imagem é representar, ou ser um ídolo que vai roubar a adoração devida a somente a Deus, ela é abominável. Porém quando é utilizada ao serviço de Deus, no auxílio à adoração a Deus, ela é uma benção.”
Vejamos os textos abaixo:
"Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem embaixo da terra, nem nas àguas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque Eu, o Senhor teu Deus, sou zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até a terceira geração daqueles que me aborrecem."(Ex 20,4-5)
Note que nesta passagem a função da imagem é roubar a adoração devida somente a Deus. O texto bíblico condena a confecção da imagem porque ela está roubando o culto de adoração ao Senhor.
A existência deste mandamento se deve pelo fato do povo judeu ser inclinado à idolatria, por ter vivido no Egito que era uma nação idólatra e por estar cercado de nações pagãs, que não adoravam a Deus, e que construíam seus próprios deuses. Deus quer dizer aqui "não construam deuses para vocês, pois Eu Sou o Deus Único e Verdadeiro".
Nesse sentido, volto a tecer alguns comentários que julgo oportunos. Primeiro, tal visão das coisas é muito mais adequada ao Deus cristão, o qual é um professor muito mais do que um ditador, muito mais do que um chato.
Com todo o respeito, a interpretação protestante das coisas transforma Deus em um “fresco” [preciso beirar a blasfêmia para me fazer entender] que não tem nada melhor para fazer do que ficar se preocupando com normas ridículas e sem nenhuma aplicação prática.
Oras, Deus não dá nenhum comando ao homem se não tiver nenhum bom motivo para isso. Pensar o contrário é dar munição para os ateus que argumentam que não querem seguir a um Deus pernóstico e maníaco, e, cá para nós, se fosse esse mesmo o caso, eu seria o primeiro a carregar a causa ateísta nas costas. Mas esse não é o caso.
Em segundo lugar, a interpretação protestante das coisas tem o condão de tornar TODOS os escultores hereges ao mesmo tempo, não importa o que eles esculpam, pois o Todo-Poderoso, por alguma razão, parece não gostar das imagens em si mesmas.
Já imagino a cena em um jantar em uma casa protestante:
FILHO: mamãe, papai, já sei o que quero ser quando crescer!
PAI: Que legal, filhão, e o que é que é?Médico?Advogado?
FILHO: Não, não. Eu quero ser escultor!
PAI E MÃE, EM POLVOROSA: NUNCA!JAMAIS!LARGUE DESSAS IDOLATRIAS!
Perceberam o absurdo do pensamento?Lamento ter de recorrer a essa forma deselegante de me expressar, mas é preciso para que fique bem claro como a coisa toda é meio sem sentido, se você parar para pensar.
Pensar dessa forma é o mesmo que tornar Deus um legislador arbitrário, que dá as ordens, e, ao ser questionado sobre porque deveríamos obedecê-las, simplesmente responde: PORQUE EU QUIS. Oras, Esse não é o Deus cristão.
Conquanto Ele possa, realmente, fazer isso, sendo Deus, Ele, por opção própria e consideração aos homens, sempre explica os motivos de Seus comandos, os quais sempre são muito mais razoáveis do que simplesmente PORQUE SOU UM DEUS CIUMENTO. MORRAM DE MEDO. BU (e aí joga um raio, só pra fazer terror...).
Vamos a outro caso em que Deus explicitamente ordena a confecção de uma imagem:
"E disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente ardente e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo mordido que olhar para ela. E Moisés fez uma serpente de metal e pô-la sobre uma haste; e era que, mordendo alguma serpente a alguém, olhava para a serpente de metal e ficava vivo."
(Nm 21,8-9)
Aqui, novamente, Deus, que havia proibido a confecção de imagens (segundo os protestantes) ordena novamente a confecção de uma! Pô, Deus, se decida!Afinal como é que o Senhor fica mudando de idéia toda hora?
Sou um Deus perfeito e em MIM não há contradição, mas fico dando ordens confusas e contraditórias. Será? |
E a coisa fica ainda pior!Em outro texto da bíblia, a mesma nos informa da destruição daquela imagem:
"Este [Ezequias] tirou os altos, e quebrou as estátuas, e deitou abaixo os bosques e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera, porquanto até aquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso e lhe chamavam Neustã."(2Rs 18,4)
Afinal de contas, o que quer o Senhor com tudo isso?Qual o sentido dessa sequência de eventos? Novamente, socorro-me das palavras do blog JESUS O BOM PASTOR:
“Note que no primeiro texto de Nm 21,8-9, Deus não só permitiu o uso da imagem, como também a utiliza para o seu serviço; e a transforma em objeto de benção para seu povo, sinal de Seu amor por Israel.
E no segundo texto de 2Rs 18,4 a mesma serpente de metal que outrora foi construída por Moisés, é repudiada por Deus. Tornou-se objeto de adoração pois "os filhos de Israel lhe queimavam insenso". Deram a ela o culto devido somente a Deus.
A Serpente de metal perdeu como nos mostra o texto, o seu sentido original, porque os filhos de Israel "não obedeceram à voz do Senhor, seu Deus; antes, tranpassaram seu concerto; e tudo quanto Moisés, servo do Senhor, tinha ordenado, nem o ouviram nem o fizeram."(2Rs 18,12)
Aí fica mais que claro que Deus não condena o uso das imagens sacras e sim a idolatria. É importante lembrarmos que há muitas outras formas de idolatria, como o amor ao dinheiro, aos bens materias, etc; que substituem o amor que devemos ter somente por Deus.”
Para finalizar, encerro com alguns comentários. Nós, católicos, diferenciamos entre ÍDOLOS e ÍCONES. Um ídolo é um falso Deus. Não pode, isso não se discute. Mas e um ícone, o que é?É um objeto que, ao invés de tomar o lugar de Deus, me REMETE A DEUS.
O próprio Salomão, no tão revelador Capítulo 13 de Sabedoria, nos esclarece isso de forma categórica:
“Tomaram o fogo, ou o vento, ou o ar agitável, ou a esfera estrelada, ou a água impetuosa, ou os astros dos céus, por deuses, regentes do mundo.
Se tomaram essas coisas por deuses, encantados pela sua beleza, saibam, então, quanto seu Senhor prevalece sobre elas, porque é o criador da beleza que fez estas coisas.
Se o que os impressionou é a sua força e o seu poder, que eles compreendam, por meio delas, que seu criador é mais forte; pois é a partir da grandeza e da beleza das criaturas que, por analogia, se conhece o seu autor.”
(Sabedoria 13, 2 a 4)
Aqui fica muito claro, que quando um objeto, quando algo do universo, é usado não para tomar o lugar de Deus, mas para nos remeter a Ele, então o Senhor não reprova seu uso.
Pelo contrário, Ele aprova a conduta de quem age dessa maneira. O Pecado é confundir a criatura com Seu Criador. Mas, mantida a diferenciação intelectual na mente do fiel, não há qualquer problema.
O próprio homem, segundo o Gênesis, é “imagem e semelhança de Deus”, ou seja, ele mesmo é um ícone de Deus. Olhar para o homem deve me remeter, ao menos de alguma forma, ao Criador. Isso é louvável.
Quando eu contemplo uma imagem da Virgem Maria, ou uma imagem de um santo, ou de um anjo, eu os devo contemplar não em si mesmos, mas como imagens de Deus, como servos de Deus, que me servem de exemplo e incentivo para ser um cristão cada vez mais fiel e coerente à vontade de Deus.
Porque eles insistem em dizer que os católicos me adoram, meu Filho?Tudo o que eu faço é recordar aos cristãos: "Fazei tudo o que Ele vos disser." Que mal há nisso, eu me pergunto? |
O mesmo se dá quando contemplo qualquer outra coisa da criação. Se uma árvore que eu contemplo que faz louvar Deus, que em Sua bondade e senso artístico criaram aquela árvore linda, ótimo!
Se eu, porém, começo adorar a árvore como se ela mesma fosse Deus, se eu a faço, em meu coração, mais importante do que Deus, então eu estou cometendo o pecado da idolatria, mas a árvore não tem nada a ver com isso, coitada. Você não vê Deus te mandando destruir as árvores porque alguém pode, de repente, começar a adorá-las. Isso seria simplesmente maluquice.
O problema nasce se, e somente se, eu passo a olhar para qualquer coisa, até mesmo para o homem, com olhos idólatras, e nesse caso , tal qual no da árvore, o que eu teria de fazer?Matar todos os homens, porque então eles seriam imagens?O problema, muito antes de estar na imagem, está em nós mesmos.
Com isso não estou querendo dizer que os protestantes não estão bem intencionados. Estou querendo dizer que o pensamento deles não resolve a questão. Elimina o problema externo, quando o problema, ao contrário, está dentro do coração do homem.
Eis aí, como já disse várias vezes, a beleza do catolicismo. Podemos não concordar com as normas e dogmas católicos. Podemos dizer que são muito duros, muito exigentes, muito ultrapassados. Mas jamais podemos dizer que os mesmos são incoerentes, que são “invenções dos homens”.
Os textos bíblicos, antes de demolir a posição da Igreja, a sustentam, o que, conquanto seja surpreendente para alguém de fora, ao católico é a coisa mais natural do mundo. Como católico, não sou instado a ser um cego, ou um robô. Sou simplesmente instado a ser uma pessoa de bom senso.
Deus abençoe a todos. Glória a Jesus na Hóstia Santa!Salve Maria Santíssima!
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