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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Catolicismo e os estrangeiros: rejeitar ou acolher?


Em minha cidade, que é uma das grandes metrópoles do Brasil, é comum vermos pessoas reclamando dos estrangeiros, dos imigrantes que aparecem "vindos sabe-se lá de onde" e então "tomam os postos de trabalho da população local".

É comum ouvirmos dizer que essas pessoas "deveriam voltar para o lugar de onde vieram", isso quando estamos diante de alguém apenas levemente extremista nesse aspecto. Se a conversa for com alguém da extrema-direita (tal qual a idealiza o professor Olavo de Carvalho), os termos serão ainda menos elegantes.

Nunca é demais lembrar, desde já, que esse é o tipo de discurso que faz ascender ao poder figuras como Mussolini, Hitler e mesmo, ainda que pela via indireta, Fidel Castro e outros extremistas.

O estrangeiro sempre aparece como um inimigo, como uma ameaça, pronto para "contaminar" a cultura, a tradição e os bons costumes da pátria que "tão generosamente os acolhe". Eu, pelo menos, dispenso uma generosidade dessas, e o estrangeiro certamente o faria, se pudesse.

Vejam, em momento algum estou dizendo que o estrangeiro seja um elemento acima de qualquer suspeita, acima do bem e do mal, o próprio Cristo encarnado vindo nos visitar. Em muitos casos, de fato, ele o é. Em muitos casos, igualmente, não o é. Mas uma postura de hostilidade prima facie não é nem de longe a opção mais cristã.

É preciso, verdeiramente, portanto, se perguntar até que ponto essas práticas são - ou melhor, não são - cristãs ou mesmo humanas, dignas de um ser humano, independente de ser ele cristão ou não. Tentemos fazer isso de maneira rápida.

Em primeiro lugar, é preciso estar atento ao discurso tão oportuno do Papa Francisco, que vem valorizando tanto essa questão da indiferença ao tema dos imigrantes, mesmo por parte de tantos que se dizem cristãos. 

Como disse Sua Santidade em mais de uma ocasião, realmente, em muitos casos realmente impera, senão a hostilidade, ao menos a indiferença. Esquecemos os imigrantes, como se realmente fossem apenas estatísticas.

Muitas vezes esquecemos que estamos lidando com pessoas muitas vezes fugindo de um país que amam, mas que não é capaz de lhes prover o mínimo que merecem enquanto seres humanos pelos quais Nosso Senhor Jesus Cristo derramou Seu Preciosíssimo Sangue.

Nesse sentido, acho que seria muito adequado nos debruçarmos um pouco sobre as palavras do próprio Senhor a respeito desse tema:

***

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus, Capítulo 25, versículos de 33 a 46:

..."E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda.

Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;

Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; ERA ESTRANGEIRO, e hospedastes-me;

Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver.

Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? Ou com sede, e te demos de beber?

E QUANDO TE VIMOS ESTRANGEIRO, E TE HOSPEDAMOS? Ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?

E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.

Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;

Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; SENDO ESTRANGEIRO, NÃO ME RECOLHESTES; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes.

Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, OU ESTRANGEIRO, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?

Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, todas as vezes que não o fizestes a um destes pequeninos, FOI A MIM QUE NÃO O FIZESTES.

E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna."

***

Sem dúvida uma passagem muito reveladora, que nos começa a revelar, já de forma bem clara, qual deve ser a postura do verdadeiro cristão para com o estrangeiro.

Jesus Cristo é muito enfático nesse aspecto, e claramente condiciona a prometida salvação ao acolhimento sincero, por parte de nós, cristãos, a diversos categorias, entre as quais o estrangeiro figura expressamente.

E isto não é uma invenção de Jesus Cristo, somente. O filho de Deus não acordou um belo dia e disse: "VOU REVOLUCIONAR". Nada disso.

Mesmo antes da doutrina cristã, o judaísmo também possuía traços fortes de bons modos no trato aos que não são da pátria, e não podemos jamais nos esquecer que Jesus, considerado enquanto ser humano, era judeu, e portanto estrangeiro a mim, e muito provavelmente a você também.

 Vejamos um pouco da Torá:

***

"Quando também fizerdes a colheita da vossa terra, o canto do teu campo não segarás totalmente, nem as espigas caídas colherás da tua sega.

Semelhantemente não rabiscarás a tua vinha, nem colherás os bagos caídos da tua vinha; deixá-los-ás ao pobre E AO ESTRANGEIRO. Eu sou o Senhor vosso Deus."

Livro do Levítico, Capítulo 19, versículos 9 e 10.

***

Podemos ainda perceber a preocupação com a temática em momentos posteriores da história do povo da Antiga Aliança:

***

"O Senhor protege o estrangeiro, e sustém o órfão e a viúva, mas frustra o propósito dos ímpios."

Salmo 146, versículo 9.

***

Saiamos agora um pouco da recorrência às Escrituras. O próximo elemento de convencimento que coleciono, como católico, é um documento recolhido de nossa Sagrada Tradição. Vamos dar uma olhada em um trecho pertinente ao tema:

***

"Os cristãos não se distinguem das outras pessoas nem pela pátria, nem pela língua, nem por um género de vida especial; seguem os costumes da terra, quer no modo de vestir, quer nos alimentos que tomam, quer noutros usos; mas a sua maneira de viver é sempre admirável aos olhos de todos.

Habitam a sua pátria, mas vivem como que de passagem; em tudo participam como os outros cidadãos, mas tudo suportam como se não tivessem pátria. 

TODA TERRA ESTRANGEIRA É SUA PÁTRIA E TODA A PÁTRIA LHES É ESTRANGEIRA. Obedecem às leis estabelecidas, mas pelo seu modo de vida superam as leis."

Epístola a Diocleto, século II, Coletânea dos Padres da Igreja.

***

Aqui, quero comentar de forma, espero, oportuna. Vemos claramente que ao princípio do cristianismo a questão da pátria não era da importância que hoje muitos que se dizem cristãos atribuem.

Isto, de fato, afirmo sem medo de errar, não é cristianismo genuíno, mas nacionalismo, é uma ideologia venenosa que infelizmente se imiscuiu no meio cristão em muitos casos.

Penso que devemos ter muito cuidado para não nos deixarmos contaminar por certos pensamentos extremistas, seja da direita, seja da esquerda, que muitas vezes acabam por deturpar o real sentido das palavras de Jesus, dos Apóstolos e dos Padres da Igreja.

Com isso não quero dizer que não temos pátria, que não devemos dar importância ao nosso país, e tudo o mais. Quero apenas recordar que a verdadeira pátria do cristão não é outra que não a PÁTRIA CELESTE, e se a minha preocupação com as tantas pátrias terrestres, por mais lícita que seja, superar a preocupação com aquela, então Jesus Cristo não é verdadeiramente o centro da minha existência.

Ora, o próprio cristianismo em seu início sofreu com esses problemas nacionalistas, conquanto as Leis de Moisés impediam os judeus cristãos de se misturarem com os pagãos, com os gentios, com os estrangeiros, com os impuros.

Não admira que muitos dos cismas que a Igreja de Cristo enfrentou ao longo dos séculos tenham sido motivados por razões nacionalistas, sendo o caso mais notório o da criação da chamada Igreja Anglicana. 

Quer dizer, essas pessoas estavam dando prova de que não entenderam a mensagem de Cristo. E o mesmo se faz hoje ao querer falar em termos como "igreja do Brasil", ou "igreja da Amazônia".

Igreja, Igreja, mesmo, com a graça de Deus, só existe uma, e ela não tem pátria, não tem fronteiras, porque católica, isto é, universal, para todos.

A coisa era tão grave no começo da religião de Jesus que foi preciso que São Pedro, o primeiro Papa, iluminado pelo Espírito Santo, pusesse fim à questão:

***

"E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas;

Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo."

Livro dos Atos dos Apóstolos, Capítulo 10, versículos 34 e 35.

***

Podemos ver, ao longo da história de toda a humanidade, como muitas vezes um pretenso zelo nacionalista acabou sendo ponto de apoio para inúmeros genocídios e para a legitimação de atitudes xenofóbicas muitas vezes trágicas para povos inteiros.

Nem mesmo no tempo dos profetas, nem mesmo no tempo do Salmista, se estava livre desse tipo de atitude. Hoje, também não é diferente:

***

Matam a viúva E O ESTRANGEIRO, e tiram a vida ao órfão. E dizem: O Senhor não vê; o Deus de Jacó não o percebe. Atendei, ó néscios, dentre o povo; e vós, insensatos, quando haveis de ser sábios? 

Aquele que fez ouvido, não ouvirá? ou aquele que formou o olho, não verá? Porventura aquele que disciplina as nações, não corrigirá? Aquele que instrui o homem no conhecimento, o Senhor, conhece os pensamentos do homem, que são vaidade.

Salmo 94, versúculos de 6 a 11

***

Eu fico aqui, pois, me perguntando, o que se passa na cabeça de uma pessoa assim, que procura qualquer desculpa para não acolher o próximo, ansioso por encontrar nele qualquer diferença que permita não o amar, ou o amar menos que o da esma pátria, por exemplo, como se todos não fossem filhos do mesmo Deus.

Felizmente, isso jamais fez parte da doutrina católica, conquanto, infelizmente, muitos membros da Igreja do passado e de hoje não se apercebam disso, e queiram sequestrar a doutrina de Cristo para si, buscando justificar seus próprios costumes torpes.

Por um acaso Cristo não está presente no pobre, no excluído, no necessitado? E isto não é discurso de um liberteiro ou de um comunista, são palavras do próprio Cristo, juntadas no início deste post!

Santo Tomás de Aquino disse que "todos são filhos de Deus, ainda que por vestígio". Mesmo um não batizado traz em si algo de divino. Ou será que o relato do Gênesis, "Deus criou o homem à SUA IMAGEM E SEMELHANÇA" perdeu a validade, ou apenas se aplica a certas pessoas, e a outras não?

Todo ser humano, independente da pátria a que pertença, de alguma forma reflete a glória e a majestade de nosso Deus. Merece ser acolhido como tal, e respeitado como tal. Aqui recorro novamente a Santo Tomás de Aquino:

"Aquele que zomba da criatura, zomba do Criador".

***

Finalmente, para coroar a exposição dos motivos católicos a respeito da matéria, tomemos as palavras do Catecismo:

***

"As nações mais favorecidas devem acolher, na medida do possível, o estrangeiro em busca da segurança e dos recursos vitais que não pode encontrar em seu país de origem."

Os poderes públicos zelarão pelo respeito do direito natural que põe o hóspede sob a proteção daqueles que o recebem.

Em vista do bem comum de que estão encarregadas, as autoridades políticas podem subordinar o exercício do direito de imigração a diversas condições jurídicas, principalmente com respeito aos deveres dos migrantes para com o país de adoção.

O migrante é obrigado a respeitar com gratidão o patrimônio material e espiritual do país que o acolhe, a obedecer às suas leis e a dar sua contribuição financeira."

§2241 do Catecismo da Igreja Católica, edição típica vaticana.

***

Em suma, para o bom católico, e para o bom cristão em geral, o estrangeiro é Cristo, merece ser acolhido, auxiliado, respeitado e amado.

E o migrante, igualmente, deve ser grato pelo acolhimento e hospitalidade que lhes sejam deferidos, respeitando as leis e costumes do local que o acolhe, e buscando dar, ele, também, a sua justa contribuição.

Podemos perceber, na linha de equilíbrio e ponderação que é característica do catolicismo, como o mesmo procura equilibrar de forma justa e cristã os dois lados da questão, não nos tornando nem escravos nem algozes do estrangeiro, mas seus colaboradores enquanto seres humanos, iguais perante o mesmo Deus e Senhor.

O que passar disso deixa de ser cristianismo e se torna mera ideologia, deixa de ser o encontro submisso com a pessoa do Salvador, e se torna apenas palanque de politicagem, ou manipulação das palavras do Filho de Deus em prol de interesses egoístas e amalucados.

***

"Um só é o vosso mestre, e todos sois irmãos."

Jesus Cristo.


Glória a Jesus na Hóstia Santa. Salve Maria Santíssima!


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Considerações sobre o SOLA SCRIPTURA

Caros leitores, antes de mais nada cumpre informá-los de que ultimamente tenho estado profundamente envolvido em projetos de cunho altamente apologético. Como católico que sou, e não escondo de forma alguma - pelo contrário, quem me conhece pessoalmente sabe que até ostento essa característica - que o sou, confesso que muito me agrada escrever sobre a Sã Doutrina, que tanto amo.

Alguns, porém, podem acabar não gostando dos textos, e até se sentindo profundamente ofendidos. Não é a intenção. Meu único desejo é promover minha fé, da qual estou plenamente convencido e que muito me faz feliz. Se publico e defendo, e divulgo e sugiro a outros que a sigam também, é para que experimentem a mesma felicidade que eu mesmo vivo. Isto posto, vamos em frente.

O texto a seguir foi retirados do blog VISÃO CRISTÃ, cujo autor é simplesmente o Bispo Auxiliar de Aracaju, Dom Henrique Soares da Costa. 

Na visão do autor, o mesmo é um dos melhores bispos em atividade no Brasil, e suas palavras representam a exposição segura da doutrina católica.

Não é, portanto, um post em que eu mesmo vá ter um papel de destaque. O objetivo é divulgar a obra do Bispo, e ao mesmo tempo introduzir o tema do presente post.

Lamentavelmente, o blog de Sua Excelência, que era hospedado nos servidores do UOL, teve problemas e teve de ser desativado. Por isso, o mesmo está começando praticamente do zero, em novo endereço, que segue abaixo:


Feita a devida e salutar divulgação do blog desse homem maravilhoso, que é uma referência de fé católica para o autor, prossigo com o pequeno texto escrito pelo mesmo:

***

"Quando a Palavra se faz confusão!

Só para que compreenda bem, meu Leitor: Quando alguém aparecer a você argumentando contra algum ponto da fé da Igreja com esta expressão "isto não é bíblico" ou "onde está na Bíblia?", já esteja certo: este tipo de raciocínio é viciado pelo erro interpretativo (= hemenêutico, se diz) protestante! A própria pergunta, o próprio modo de argumentar já está errado, é míope e foge à fé dos cristãos!

Onde está o erro, a ilusão, a armadilha? Ei-la: todo texto, sem exceção alguma - inclusive os textos da Escritura Sagrada - é sempre interpretado a partir de uma determinada visão. Qual visão? A visão de quem o lê, de quem o interpreta.

Essa visão pode ser chamada "tradição", isto é, toda aquela mentalidade, cultura, sensibilidade, nas quais o leitor lê e interpreta o texto...

Ora, no caso da Escritura, só há duas possibilidades:

(1) Lê-la na Tradição da Igreja, que é a Tradição Apostólica e orientada pelo Santo Espírito, como Cristo garantiu no Evangelho e os Apóstolos recomendaram e testemunharam.

(2) Lê-la com as tradições humanas, dos vários fundadores de denominações cristãs, que deformaram e parcializaram a Escritura, exagerando ou negando, sempre desequilibrando algum aspecto dela, impondo-lhes sua própria tradição humana.

Dois exemplos disso:

1. Na Escritura nunca se ensinou ou afirmou o princípio protestante da "sola Scriptura" (só a Bíblia é norma de fé). Isto é uma tradição humana criada erradamente por Lutero.

Então, os católicos estejam atentos para não engolirem esse princípio, que não é bíblico nem pertence à reta Tradição da Igreja. Nunca, em 1500 anos de cristianismo, foi ensinado isto! Foi invenção dos reformadores protestantes! E o resultado foi uma catástrofe!

2. Eis a catástrofe: cada fundador de denominação, inventa sua tradição humana de interpretação e a considera a única interpretação literal da Escritura! E, na verdade, nenhuma dessas tradições tem autoridade alguma, pois se separam da verdadeira Tradição Apostólica, a única na qual a Escritura pode ser retamente interpretada, pois transmitida ininterruptamente pela Igreja com a assistência do Espírito Santo.

Releia bem o que escrevi e compreenda, para não cair na armadilha argumentativa dos enganados e enganadores biblicistas ou bibliomonistas que, erradamente, reduzem o cristianismo à Bíblia!

Escrevo estas coisas para esclarecer os filhos da Igreja, meus irmãos, aos quais devo o serviço da pregação da nossa santa fé católica.

***

Já avisei lá em cima que eu mesmo escreverei pouco nesse post. Farei apenas intervenções pontuais para "linkar" as citações que separei para publicar aqui.

Peço a atenção do leitor para a "catástrofe" da interpretação pessoal apontada por Sua Excelência o Bispo: a interpretação pessoal das Sagradas Escrituras.

Sempre gosto de dizer que o protestantismo é um movimento anti-Pentecostes. Contra a descida do Espírito Santo, do Espírito de Unidade, de entendimento, de concordância.

O protestantismo teve o condão de trazer ao seio cristão a discórdia em níveis nunca antes experimentados, multiplicando as doutrinas e desfigurando as verdades cristãs, que agora estão diluídas em meio a um mar de heresias.



Em sua própria base, em seu próprio começo, o postulado de que qualquer um pode ler a bíblia e então, a partir dela, criar sua própria doutrina, não poderia servir para outra coisa que não tornar um homem, por mais ignorante que seja, subitamente capaz de se opor a todo o entendimento que a Igreja sempre teve.

Tudo, é claro, sob o argumento de que o mesmo está "assistido" pelo Espírito Santo, e portanto não pode errar. O problema é que esse negócio de dizer que está assistido pelo Espírito Santo se tornou tipo o preso dizer que é inocente. Todos o dizem, mas quantos o são realmente?Deixo a pergunta no ar...

Para demonstrar de forma exemplar onde esse tipo de pensamento pode nos levar, vejamos um pouco da fala de um homem muito famoso na história ocidental:

"Io non ammetto che la mia dottrina possa
essere giudicata da alcuno, neanche dagli Angeli.
Chi non riceve la mia dottrina non può giungere alla salvezza".

(Martinho Lutero, Weim., X, P. II, 107, 8-11)

traduzindo:

"Eu não admito que a minha doutrina pode ser julgado por ninguém , até mesmo pelos anjos . Quem não receber a minha doutrina não pode alcançar a salvação . "

(Martinho Lutero, Weim., X, P. II, 107, 8-11)

***

Sensacional, não acham?Um único homem, de repente, apregoa a si mesmo o conhecimento e autoridade para negar todo o ensinamento de 1.500 anos da Igreja, e ainda nos afirma que a SUA doutrina é que é a correta. 

E isso é apenas o pioneirismo nesse tipo de atitude! A partir desse marco inicial, o que passaremos a ver na história será uma sucessão desses "iluminados", cada um afirmando categoricamente que foi "iluminado" pelo Espírito Santo, e que em sua doutrina reside o cristianismo verdadeiro.

Seria tudo muito lindo, se cada um desses homens não dissesse algo diferente do outro...

(pausa dramática)

Quero dizer, fica claro desde já que tem alguma coisa errada nisso tudo. Na verdade, algumas coisas, TUDO, enfim. Como já nos alertou lá em cima Dom Henrique, o raciocínio está ferido de morte já em seu início.



Para reiterar esse posicionamento e procurar tornar as coisas mais claras, vejamos o que tem a dizer sobre o tema uma figura muito famosa no contexto cultural brasileiro, que recentemente lançou um livro muito bom que o autor recomenda a todos: O MÍNIMO QUE VOCÊ PRECISA SABER PARA NÃO SER UM IDIOTA:

"Acerca do SOLA SCRIPTURA:

Vamos largar a confusão teológica e voltar à questão histórica básica. Mateus, Marcos, Lucas e João escreveram os Evangelhos como simples autores independentes, ou como membros e representantes da Igreja? Como membros e representantes da Igreja. 

Foi portanto a Igreja que, neles, recebeu a inspiração divina para escrever os Evangelhos. A Igreja escreveu os Evangelhos e ela é não só a autora do texto e a garantidora da sua autenticidade, mas o canal pelo qual a inspiração divina se materializou em texto. A inspiração vem antes da redação ou depois?

Necessariamente antes. É a inspiração divina que garante a sacralidade do texto ou, ao contrário, o texto que garante a inspiração divina que o antecede? Evidentemente, a inspiração origina, precede e garante o texto e não ao inverso. 

Os Evangelhos são portanto a expressão textual que traz a nós, sob a forma de texto, a verdade dada anteriormente à Igreja como inspiração. A mera existência física dos Evangelhos prova a origem da sua autoridade: a Igreja, portadora da inspiração divina que os produziu."

Olavo de Carvalho.

***

Fica bem claro, portanto, que é extremamente arriscado, para não dizer tolo, querer interpretar as escrituras de maneira pessoal, individual, dissociada da Tradição e do magistério da Igreja.

As Escrituras foram escritas pela Igreja, e quem melhor para dizer o sentido de um texto do que quem o escreveu?Notem que aqui nem estou apelando para o Espírito Santo, pois acredito que, antes de ser uma questão de fé, isto é uma questão de lógica.

Oras, se eu escrever um texto, eu mesmo que vos falo, é óbvio que a pessoa mais capacitada para dizer o sentido desse texto sou eu mesmo. O mesmo sucede com a Igreja. 



Note-se que aqui não estou em momento algum dizendo que um protestante, ao ler as Escrituras, não poderá lhes encontrar o real sentido.

Não estou dizendo que um protestante, nesse particular. Estou dizendo que a Igreja não pode errar. E já escrevi acerca dos motivos.

A Igreja é assistida pelo Espírito Santo, e na Igreja Romana governa o sucessor legítimo de São Pedro, aquele a quem Jesus Cristo prometeu o "poder das chaves". Agora, sim, estou entrando na questão da fé, mas ainda assim guardando a lógica com os textos sagrados.

Nesse sentido, convém citar trecho particularmente didático da Profissão de fé do Concílio de Trento:

"Reconheço a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, como Mestra e Mãe de todas as Igrejas. Prometo e juro prestar verdadeira obediência ao Romano Pontífice, Sucessor de São Pedro, Príncipe dos Apóstolos e Vigário de Jesus Cristo."

***

Ainda no que diz respeito a esta questão, se alguém quiser se aprofundar mais nos últimos argumentos que acabei de expor, recomendo o link abaixo, que apresenta o tema de forma muito didática e prática. Menção honrosa ao excelente trabalho executado pelo blog VERITATIS SPLENDOR:


Apenas para dar um gostinho ao leitor, encerro esta parte com o trecho inicial da argumentação exposta no link acima:

"Desde o princípio, Deus fala com sua Igreja através da Bíblia e da Sagrada Tradição. Para garantir que sejam compreendidas por nós, Deus guia a autoridade de ensino da Igreja - o Magistério - para que esta possa interpretar perfeitamente a Bíblia e a Sagrada Tradição.

Eis a dádivá da infalibilidade! Esses três elementos - a Bíblia, a Sagrada Tradição e o Magistério - são todos necessários para que haja a estabilidade da Igreja e para garantir a segurança da doutrina."

***

Mas tudo bem, estes são argumentos genuinamente católicos, alguém poderá dizer. E onde posso encontrar referências bíblicas de que a Igreja de Roma é assim tão especial como os católicos querem fazer parecer?Oras, eu responderia ao protestante que em nenhum outro lugar fora a própria bíblia.


O ex-pastor protestante Paulo Leitão, hoje um dos grandes pregadores católicos em atividade nesse país, fez questão de separar alguns trechos particularmente reveladores da Carta de São Paulo aos ROMANOS, em que o Apóstolo deixa escapar algumas frases interessantes. Vejamos:

"Em primeiro lugar, dou graças ao meu Deus mediante Jesus Cristo por todos vós, PORQUE VOSSA FÉ É CELEBRADA EM TODO O MUNDO."

(São Paulo, Carta aos ROMANOS, Capítulo 1, Versículo 8.)

***

"Pessoalmente, estou convencido, irmãos, de que estais cheios de bondade e REPLETOS DE TODO O CONHECIMENTO E EM GRAU DE VOS PODER DESADMOESTAR MUTUAMENTE."

(São Paulo, carta aos ROMANOS, Capítulo 15, versículo 14.)

***

" Saudai-vos uns aos outros com o ósculo santo. TODAS AS IGREJAS DE CRISTO VOS SAÚDAM."

Rogo-vos, entretanto, irmãos que estejais alertas CONTRA OS PROVOCADORES DE DISSENSÕES E ESCÂNDALOS CONTRÁRIOS AO ENSINAMENTO QUE RECEBESTE. EVITAI-OS. Porque estes não servem a Cristo, nosso Senhor, mas ao próprio ventre, e com palavras melífluas e lisonjeira seduzem os corações simples.

VOSSA OBEDIÊNCIA TORNOU-SE CONHECIDA DE TODOS E SOIS PARA MIM MOTIVO DE ALEGRIA. Mas desejo que sejais sábios para o bem e sem malícia para o mal.

Pois o Deus da paz não tardará em esmagar satanás debaixo de VOSSOS PÉS. Que a graça do Senhor Jesus Cristo esteja convosco!

(São Paulo, Carta aos Romanos, Capítulo 16, versículos 16 a 20)

***



Observem, eu poderia ter separada várias outras passagens aqui, a respeito de São Pedro, por exemplo. Já o fiz, porém, em outro post recente.

A leitura cumulativa das passagens acostadas aqui com as referentes ao PAPADO no post de minha autoria que linkarei logo abaixo deverá, julgo eu, ser suficiente para dar a um biblista muito em que pensar:


***

Tendo em vista tudo o que foi dito, julgo deveras conveniente elencar aqui mais um escrito de um filósofo famoso a respeito do tema:

'Qual o fundamento evangélico da "Sola scriptura"?

Mostre-me, nos Evangelhos, um só versículo que os afirme como única fonte confiável sobre os ensinamentos de Jesus. Eu, da minha parte, li em João 21:25, o contrário disso: que "Jesus disse muitas outras coisas".

Mostre-me um versículo que afirme que os ouvintes diretos dessas coisas não têm autoridade para repassá-las oralmente, ou que negue que alguém as tenha ouvido.

Os autores dos Evangelhos eram homens da Igreja, falavam em nome dela, e foi a Igreja que, bastante tempo depois da morte de Jesus, julgou e selecionou os quatro textos canônicos, separando os apócrifos e duvidosos. A integridade do texto evangélico vem, pois, da autoridade da Igreja, e não ao inverso.

Se os Evangelhos fossem a única fonte autorizada, isso estaria declarado no próprio texto deles, pois não é cabível que Deus, ao inspirar os evangelistas, se esquecesse de lhes ditar logo o preceito fundamental para a leitura daquilo que estavam escrevendo.

"Sola scriptura" é um argumento autocontraditório, absurdo na base.'

Olavo de Carvalho

***

Vejamos ainda o que algumas ilustres figuras católicas tem a nos dizer, finalmente, sobre os indivíduos que, ao longo do tempo, adotaram a SOLA, e se separaram da Igreja:

"Não pode haver fé no Espírito Santo se não houver fé em Cristo, na doutrina de Cristo, nos sacramentos de Cristo, na Igreja de Cristo.

Não é coerente com a fé cristã, não crê verdadeiramente no Espírito Santo quem não ama a Igreja, quem não tem confiança nEla, quem só se compraz em apontar as deficiências e as limitações dos que a representam.

Quem a julga de fora e é incapaz de se sentir seu filho.”

(São Josemaría Escrivá)

***

"Triste é o católico que coloca suas
opiniões e vontades, acima do que a Igreja orienta."

(São Jerônimo)

***



***

E, finalmente, para encerrar com chave de ouro, um Santo cujos escritos fazem parte da própria Bíblia:

"A Igreja é a Coluna e o Fundamento da Verdade."

(Primeira Carta de São Paulo A Timóteo, Capítulo 3, versículo 15)

Nesse sentido, se alguém quiser se aprofundar, no tema, novamente me socorro da competência e excelente redação do blog VERITATIS SPLENDOR:


De minha parte, eu já estou honestamente cansado, motivo pelo qual encerro por aqui. Abraço a todos. Glória a Jesus na Hóstia Santa!Salve Maria Santíssima!


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A questão das imagens


Um dos grandes pontos de discordância entre a fé católica e a fé protestante, muito embora seja impossível, com tantas denominações diferentes, usar esse termo de forma satisfatória hoje em dia, tem a ver com a relação com as imagens.

Umas das acusações mais comuns dos evangélicos com relação ao catolicismo é com relação ao uso de imagens em nossos templos, casas, seja da Virgem Maria, seja dos santos, seja dos anjos.

Os ortodoxos não tem tanto esse "problema", uma vez que eles não tem imagens, mas apenas ícones: quadros, pinturas, etc. Um templo ortodoxo é sempre uma profusão de cores, pinturas, quadros, mas nunca estátuas ou esculturas.

O importante é que tanto ortodoxos quanto evangélicos entendem que não há que se falar em imagens, que a confecção de uma imagem redunda em idolatria, ou seja, em adorar uma coisa no lugar de Deus. 

Assim, ambas as correntes cristãs acusam a Igreja Católica de ser idólatra, ou seja, de prestar culto não somente a Deus, mas de dirigir a adoração que é devida somente a ele a outros seres, portanto, meras criaturas, indignas dessa conduta.

Esses católicos idólatras!Vão todos para o inferno! - disse o anjinho protestante...

Aos olhos protestantes, portanto, e aos olhos ortodoxos também, a Igreja peca duplamente nesse particular. Primeiro, peca ao praticar a idolatria, ou seja, adorar falsos deuses (neste post falarei apenas das imagens, mas podemos citar Maria, os santos, etc...); e peca também [assumindo por um momento que a posição protestante esteja certa] ao ensinar que seus fiéis façam a mesma coisa.

Seria, então, um típico caso de UM CEGO GUIANDO OUTRO CEGO, e nesse ponto a Bíblia é bem clara: vão ambos para o abismo. Tal seria o destino da Igreja Católica e de todos os seus fiéis, pois. A Igreja Católica desobedeceria a bíblia, portanto desobedeceria a Deus, uma vez que as Sagradas Escrituras contém a Lei divina.

Estabelecidas essas premissas, com as quais estou certo estão os protestantes de acordo pelo menos em grande parte, vamos às considerações. Primeiramente, a Igreja Católica não apenas não está cometendo qualquer idolatria quando confecciona e coloca imagens nos seus templos, como não assiste razão aos que pensam de forma diversa. Vejamos:

Primeiramente, a confecção de imagens já foi ordenada em mais de uma ocasião pelo próprio Deus, com o objetivo de adornar o Seu Templo. Podemos encontrar o exemplo desta prática, portanto, BÍBLICA, já no segundo livro da mesma:

"Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório." (Ex 25,18)

Aqui podemos observar de forma muito clara que ninguém menos que o próprio TODO-PODEROSO está ordenando que sejam construídas as imagens de dois querubins.

A fórmula lingüística, no presente do indicativo, não deixa sequer espaço para pensarmos que se trate, talvez, de uma mera sugestão ou conselho. O Senhor é bem claro. As imagens DEVEM ser confeccionadas.

Claro, os protestantes não estão de todo incoerentes em seu posicionamento. Como seguidores da SOLA ESCRIPTURA, retiram todos os seus comandos e práticas da Bíblia. Pois bem, adotemos então, nesse post, pelo menos quanto me seja possível, igualmente apenas a Escritura Sagrada para argumentar. Assim ficamos em pé de igualdade, e acho que todos podem enxergar que estou sendo justo aqui.

Os protestantes, totalmente bem-intencionados, é bom que se diga desde já, se opõem a qualquer forma de uso de imagens (esse QUALQUER FORMA deve ser recordado pelo leitor) baseados em um versículo que aparece no Livro do Êxodo pouco antes do citado anteriormente. Trata-se de Ex, 20,4, o qual possui o seguinte teor:

“Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.”

(Aqui é preciso ficar claro outro ponto: todas as citações bíblicas que estou fazendo são retiradas de uma bíblia protestante. Quando e se, ao longo deste post, surgir a citação de uma bíblia católica – o que quer dizer que citarei um livro que não consta na bíblia protestante – eu farei o devido aviso).

Muito bem. Assim, aparentemente, A Igreja Católica estaria claramente desobedecendo a um comando divino. De maneira consciente. Portanto, atraindo sobre si a condenação do Senhor. Contudo, as coisas não são tão simples assim, como passamos a demonstrar.

Ante de continuar, quero novamente ressaltar as boas intenções protestantes. Eles agem assim buscando, de forma zelosa e louvável, impedir o que julgar ser atos que redundam em diminuir a glória de Deus. 

Encaram a questão das imagens como uma cruzada para impedir o que julgam ser "dividir a glória de Deus com os homens", no que se refere às imagens dos Santos e da Virgem Maria, dos anjos, etc.

Não se trata o presente post, portanto, de demonizar o protestantismo, mas apenas de procurar mostrar porque, do ponto de vista católico, os mesmos incorrem em equívoco, em se tratado dessa questão (e de quase todas, mas isso fica para depois)

Sem entrar no mérito católico de que, como Igreja instituída pelo próprio Cristo e perpetuamente assistida pelo Espírito Santo, a mesma não tem a capacidade de errar na fé (a mesma é infalível em matéria de fé, pois a promessa de Cristo foi que mesma seria assistida sempre pelo Espírito Santo, o qual, sendo Deus, é perfeito e infalível.

Mesmo que queira, portanto, a Igreja não pode errar, não tem essa capacidade, mas não pelos próprios méritos, e sim promessa de Cristo). Não se trata de uma postura arrogante, como querem parecer alguns, mas de simples coerência com as palavras do próprio Cristo.

Portanto, catolicamente falando, pelo simples fato de ela, Igreja Católica, ter adotado o posicionamento de que não há problema com as imagens, as mesmas já estão automaticamente liberadas. para o católico, confiar na Igreja é, antes de mais nada, confiar no próprio Deus.

Procurarei demonstrar porém, também para o não católico, e portanto alguém para quem os últimos parágrafos são uma autêntica sucessão de absurdos, a razão da Igreja usando meramente a lógica.

Primeiramente, a questão das imagens é antiqüíssima na história da Igreja. Não é uma questão levantada por Lutero e seus companheiros, mas vem desde os primeiros desgastes entre a Igreja do Ocidente e a Igreja do Oriente.

Allan Massie, romancista histórico Membro da Real Sociedade de Literatura (organização britânica), em seu livro CARLOS MAGNO – A VIDA DO IMPERADOR DO SACRO IMPÉRIO ROMANO, já deixa bem claro que essa celeuma foi um dos casos que levou Roma a “perder moral” com os ortodoxos.

Estou citando isso para derrubar desde já uma acusação secundária levantada por conspiracionistas, de que a Igreja Católica, de que a Igreja teria alterado o texto das Escrituras Sagradas pra lhe favorecer. 

O cuidado com os conspiracionistas se justifica porque infelizmente a reputação de Igreja é muito difamada por essas pessoas, algumas das quais ousam dizer até mesmo que ela é a prostituta de Apocalipse. O tipo de coisa que acontece quando pessoas podem ler a bíblia e concluir o que quiserem...

Oras, se assim o fosse, se a Igreja fosse mesmo uma alteradora dos textos sagrados, tudo o que a mesma deveria ter feito era omitir esse versículo de Êxodo, que a contradiz (na visão protestante da coisa), e feito o mesmo com tantos outros versículos “problemáticos”. Não o fez. Pelo contrário. Quem trouxe modificações à bíblia atende pelo nome de Martinho Lutero.

Além disso, se a Igreja adulterou a bíblia, ela fez um trabalho muito porco. Passagens enaltecendo a pobreza, o celibato, e outras tantas coisas inconvenientes à "prostituta romana" ainda estão lá. Se ela quisesse mesmo se prevenir contra supostas revelações futuras, o mínimo que se pode esperar é que tivesse feito um trabalho menor.

Quer dizer, em nome de difamar a Igreja vale tudo, até atentar contra a lógica e a razoabilidade. Mas prossigamos com a questão das imagens.

O blog Católico JESUS BOM PASTOR, em post sobre o mesmo assunto, se pronuncia de forma sintética e completa:

“Se ela [Igreja Católica] quisesse mesmo agir contra a ordem divina, teria adulterado a Bíblia nas passagens em que há a condenação das imagens.”


Outro ponto importante citado nesse post, é com relação ao Livro da Sabedoria de Salomão, livro esse que não consta da bíblia protestante, e que é marcado por um forte combate à idolatria.

Achei por bem separar alguns trechos do capítulo 13, que deixam bem clara a questão. Os versículos a seguir foram retirados de uma bíblia católica versão AVE MARIA (estou com preguiça de me levantar para pegar a DE JERUSALÉM):

“São insensatos por natureza todos os que desconheceram a Deus, e, através dos bens visíveis, não souberam conhecer Aquele que é, nem reconhecer o Artista, considerando suas obras.

Tomaram o fogo, ou o vento, ou o ar agitável, ou a esfera estrelada, ou a água impetuosa, ou os astros dos céus, por deuses, regentes do mundo.

Se tomaram essas coisas por deuses, encantados pela sua beleza, saibam, então, quanto seu Senhor prevalece sobre elas, porque é o criador da beleza que fez estas coisas.”

(Sabedoria de Samoção, Capítulo 13, Versículos de 1 a 3)

E ainda:

"Mas são desgraçados e esperam em mortos, aqueles que chamaram de deuses a obras de mãos humanas: o ouro, a prata, artisticamente trabalhados, figuras de animais, alguma pedra inútil, a que, outrora, certa mão deu forma.

Assim, um lenhador cortou e serrou uma árvore fácil de manejar. Habilmente ele lhe tirou toda a casca, e com a habilidade do seu ofício, fez dela um móvel útil para seu uso.

Com as sobras de seu trabalho, cozinhou comida, com que se saciou.

O que ainda lhe restava, não era bom para nada, não passando de madeira torcida e toda cheia de nós; contudo, ele a tomou e consagrou suas horas de lazer a talhá-la.

Ele a trabalhou com toda a arte que adquirira, e lhe deu a semelhança de um homem, ou o aspecto de algum vil animal. Pôs-lhe vermelhão, uma demão de uma tinta encarnada, e encobriu-lhe cuidadosamente todo defeito.

Em seguida, preparou-lhe um nicho digno dele. e o fixou à parede, segurando-o com um prego: foi por medo que caísse, que tomou este cuidado, porque sabe muito bem que ele não pode ajudar-se a si mesmo, pois não passa de uma estátua que tem necessidade de um apoio.

Mas quando lhe implora por seus bens, seus casamentos, seus filhos, não se envergonha de falar ao que é inanimado, e pede saúde ao que é desprezível.

Reclama a vida ao que é morto, e procura socorro no que é débil; e para uma viagem, invoca o que não pode andar; para um lucro, um trabalho, o bom êxito de uma obra de suas mãos, pede a força ao que nem é capaz de mover as mãos."

(Sabedoria 13, 11 a 19)

Assim, a pergunta que surge, óbvia é: como pode s Igreja Católica e seus fiéis, lendo essas passagens, exclusivas de sua bíblia, por sinal, não jogarem foram imediatamente suas imagens profanas, ou repudiar esse livro, como fizeram os protestantes?Será isso tudo rebeldia à vontade de Deus ou simplesmente cegueira?

Nenhum dos dois, eu vos asseguro. Muito pelo contrário. A Igreja Católica simplesmente faz uma coisa muito simples, mas muito útil e recomendável a todos. Algo que somos, ou pelo menos deveríamos ser ensinados a fazer, desde as nossas primeiras aulas de interpretação de texto.

Ela interpreta o texto por inteiro, e não as frases isoladamente. Em outras palavras, a Igreja Católica vê a bíblia de forma holística, ou seja, COMO UM TODO, como uma unidade, e não como textos ou frases, ou mesmo sentenças separadas entre si. E assim, de aparentes contradições, ela sabe retirar o REAL sentido das Sagradas Escrituras. Prossigamos.

É bem verdade, não negarei, que muitos maus católicos, agindo de forma TOTALMENTE CONTRÁRIA AO ENSINAMENTO DA IGREJA, realmente idolatram imagens, infelizmente. Realmente oram para elas, e não para Deus, realmente esperam milagres delas, e não de Deus, e quando alcançam uma graça, a atribuem diretamente a Maria, ou a algum santo, e não a Deus.

Idolatria absoluta, concedo. E totalmente errado, não somente aos olhos dos protestantes, mas também da doutrina católica!

Isto deve ficar bem claro!Ninguém que se der o trabalho de ler o catecismo romano encontrará linhas onde a Igreja aprova esse tipo de conduta. Ao contrário, tudo está devidamente condenado nos capítulo que trata da superstição e da idolatria. 

Mas não é a conduta dessas pessoas que invalida, nem a doutrina católica, nem a existência de imagens. Como dito no post anterior, é preciso ter o discernimento, é preciso separar a doutrina católica dos que se dizem católicos e fazem muitas vezes coisas que são tudo, menos católicas...

Continua o post do blog JESUS O BOM PASTOR, no mesmo post “linkado” acima:

“Na Sagrada Escritura há outras passagens que condenam a confecção de imagens como por exemplo: Lv 26,1; Dt 7,25; Sl 97,7 e etc. Mas também há outras passagens que defendem sua confecção como: Ex 25,17-22; 37,7-9; 41,18; Nm 21,8-9; 1Rs 6,23-29.32; 7,26-29.36; 8,7; 1Cr 28,18-19; 2Cr 3,7,10-14; 5,8; 1Sm 4,4 e etc.

Pode Deus infinitamente perfeito entrar em contradição consigo mesmo? É claro que não. E como podemos explicar esta aparente contradição na Bíblia?

Isto é muito simples de ser explicado. Deus condena a idolatria e não a confecção de imagens. Quando o objetivo da imagem é representar, ou ser um ídolo que vai roubar a adoração devida a somente a Deus, ela é abominável. Porém quando é utilizada ao serviço de Deus, no auxílio à adoração a Deus, ela é uma benção.”

Vejamos os textos abaixo:

"Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem embaixo da terra, nem nas àguas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque Eu, o Senhor teu Deus, sou zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até a terceira geração daqueles que me aborrecem."(Ex 20,4-5)

Note que nesta passagem a função da imagem é roubar a adoração devida somente a Deus. O texto bíblico condena a confecção da imagem porque ela está roubando o culto de adoração ao Senhor. 

A existência deste mandamento se deve pelo fato do povo judeu ser inclinado à idolatria, por ter vivido no Egito que era uma nação idólatra e por estar cercado de nações pagãs, que não adoravam a Deus, e que construíam seus próprios deuses. Deus quer dizer aqui "não construam deuses para vocês, pois Eu Sou o Deus Único e Verdadeiro".

Nesse sentido, volto a tecer alguns comentários que julgo oportunos. Primeiro, tal visão das coisas é muito mais adequada ao Deus cristão, o qual é um professor muito mais do que um ditador, muito mais do que um chato. 

Com todo o respeito, a interpretação protestante das coisas transforma Deus em um “fresco” [preciso beirar a blasfêmia para me fazer entender] que não tem nada melhor para fazer do que ficar se preocupando com normas ridículas e sem nenhuma aplicação prática.

Oras, Deus não dá nenhum comando ao homem se não tiver nenhum bom motivo para isso. Pensar o contrário é dar munição para os ateus que argumentam que não querem seguir a um Deus pernóstico e maníaco, e, cá para nós, se fosse esse mesmo o caso, eu seria o primeiro a carregar a causa ateísta nas costas. Mas esse não é o caso.

Em segundo lugar, a interpretação protestante das coisas tem o condão de tornar TODOS os escultores hereges ao mesmo tempo, não importa o que eles esculpam, pois o Todo-Poderoso, por alguma razão, parece não gostar das imagens em si mesmas.

Já imagino a cena em um jantar em uma casa protestante:

FILHO: mamãe, papai, já sei o que quero ser quando crescer!

PAI: Que legal, filhão, e o que é que é?Médico?Advogado?

FILHO: Não, não. Eu quero ser escultor!

PAI E MÃE, EM POLVOROSA: NUNCA!JAMAIS!LARGUE DESSAS IDOLATRIAS!

Perceberam o absurdo do pensamento?Lamento ter de recorrer a essa forma deselegante de me expressar, mas é preciso para que fique bem claro como a coisa toda é meio sem sentido, se você parar para pensar.

Pensar dessa forma é o mesmo que tornar Deus um legislador arbitrário, que dá as ordens, e, ao ser questionado sobre porque deveríamos obedecê-las, simplesmente responde: PORQUE EU QUIS. Oras, Esse não é o Deus cristão.

Conquanto Ele possa, realmente, fazer isso, sendo Deus, Ele, por opção própria e consideração aos homens, sempre explica os motivos de Seus comandos, os quais sempre são muito mais razoáveis do que simplesmente PORQUE SOU UM DEUS CIUMENTO. MORRAM DE MEDO. BU (e aí joga um raio, só pra fazer terror...).

Vamos a outro caso em que Deus explicitamente ordena a confecção de uma imagem:

"E disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente ardente e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo mordido que olhar para ela. E Moisés fez uma serpente de metal e pô-la sobre uma haste; e era que, mordendo alguma serpente a alguém, olhava para a serpente de metal e ficava vivo." 

(Nm 21,8-9)

Aqui, novamente, Deus, que havia proibido a confecção de imagens (segundo os protestantes) ordena novamente a confecção de uma! Pô, Deus, se decida!Afinal como é que o Senhor fica mudando de idéia toda hora?

Sou um Deus perfeito e em MIM não há contradição, mas fico dando ordens confusas e contraditórias. Será?
E a coisa fica ainda pior!Em outro texto da bíblia, a mesma nos informa da destruição daquela imagem:

"Este [Ezequias] tirou os altos, e quebrou as estátuas, e deitou abaixo os bosques e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera, porquanto até aquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso e lhe chamavam Neustã."(2Rs 18,4)

Afinal de contas, o que quer o Senhor com tudo isso?Qual o sentido dessa sequência de eventos? Novamente, socorro-me das palavras do blog JESUS O BOM PASTOR:

“Note que no primeiro texto de Nm 21,8-9, Deus não só permitiu o uso da imagem, como também a utiliza para o seu serviço; e a transforma em objeto de benção para seu povo, sinal de Seu amor por Israel.

E no segundo texto de 2Rs 18,4 a mesma serpente de metal que outrora foi construída por Moisés, é repudiada por Deus. Tornou-se objeto de adoração pois "os filhos de Israel lhe queimavam insenso". Deram a ela o culto devido somente a Deus.

A Serpente de metal perdeu como nos mostra o texto, o seu sentido original, porque os filhos de Israel "não obedeceram à voz do Senhor, seu Deus; antes, tranpassaram seu concerto; e tudo quanto Moisés, servo do Senhor, tinha ordenado, nem o ouviram nem o fizeram."(2Rs 18,12)

Aí fica mais que claro que Deus não condena o uso das imagens sacras e sim a idolatria. É importante lembrarmos que há muitas outras formas de idolatria, como o amor ao dinheiro, aos bens materias, etc; que substituem o amor que devemos ter somente por Deus.”

Para finalizar, encerro com alguns comentários. Nós, católicos, diferenciamos entre ÍDOLOS e ÍCONES. Um ídolo é um falso Deus. Não pode, isso não se discute. Mas e um ícone, o que é?É um objeto que, ao invés de tomar o lugar de Deus, me REMETE A DEUS.

O próprio Salomão, no tão revelador Capítulo 13 de Sabedoria, nos esclarece isso de forma categórica:

“Tomaram o fogo, ou o vento, ou o ar agitável, ou a esfera estrelada, ou a água impetuosa, ou os astros dos céus, por deuses, regentes do mundo.

Se tomaram essas coisas por deuses, encantados pela sua beleza, saibam, então, quanto seu Senhor prevalece sobre elas, porque é o criador da beleza que fez estas coisas.

Se o que os impressionou é a sua força e o seu poder, que eles compreendam, por meio delas, que seu criador é mais forte; pois é a partir da grandeza e da beleza das criaturas que, por analogia, se conhece o seu autor.”

(Sabedoria 13, 2 a 4)

Aqui fica muito claro, que quando um objeto, quando algo do universo, é usado não para tomar o lugar de Deus, mas para nos remeter a Ele, então o Senhor não reprova seu uso.

Pelo contrário, Ele aprova a conduta de quem age dessa maneira. O Pecado é confundir a criatura com Seu Criador. Mas, mantida a diferenciação intelectual na mente do fiel, não há qualquer problema.

O próprio homem, segundo o Gênesis, é “imagem e semelhança de Deus”, ou seja, ele mesmo é um ícone de Deus. Olhar para o homem deve me remeter, ao menos de alguma forma, ao Criador. Isso é louvável.

Quando eu contemplo uma imagem da Virgem Maria, ou uma imagem de um santo, ou de um anjo, eu os devo contemplar não em si mesmos, mas como imagens de Deus, como servos de Deus, que me servem de exemplo e incentivo para ser um cristão cada vez mais fiel e coerente à vontade de Deus.

Porque eles insistem em dizer que os católicos me adoram, meu Filho?Tudo o que eu faço é recordar aos cristãos: "Fazei tudo o que Ele vos disser." Que mal há nisso, eu me pergunto?


O mesmo se dá quando contemplo qualquer outra coisa da criação. Se uma árvore que eu contemplo que faz louvar Deus, que em Sua bondade e senso artístico criaram aquela árvore linda, ótimo!

Se eu, porém, começo adorar a árvore como se ela mesma fosse Deus, se eu a faço, em meu coração, mais importante do que Deus, então eu estou cometendo o pecado da idolatria, mas a árvore não tem nada a ver com isso, coitada. Você não vê Deus te mandando destruir as árvores porque alguém pode, de repente, começar a adorá-las. Isso seria simplesmente maluquice.

O problema nasce se, e somente se, eu passo a olhar para qualquer coisa, até mesmo para o homem, com olhos idólatras, e nesse caso , tal qual no da árvore, o que eu teria de fazer?Matar todos os homens, porque então eles seriam imagens?O problema, muito antes de estar na imagem, está em nós mesmos.

Com isso não estou querendo dizer que os protestantes não estão bem intencionados. Estou querendo dizer que o pensamento deles não resolve a questão. Elimina o problema externo, quando o problema, ao contrário, está dentro do coração do homem.

Eis aí, como já disse várias vezes, a beleza do catolicismo. Podemos não concordar com as normas e dogmas católicos. Podemos dizer que são muito duros, muito exigentes, muito ultrapassados. Mas jamais podemos dizer que os mesmos são incoerentes, que são “invenções dos homens”. 

Os textos bíblicos, antes de demolir a posição da Igreja, a sustentam, o que, conquanto seja surpreendente para alguém de fora, ao católico é a coisa mais natural do mundo. Como católico, não sou instado a ser um cego, ou um robô. Sou simplesmente instado a ser uma pessoa de bom senso.

-Não haja entre vós qualquer escultor ou feitor de qualquer imagem, quadro, pintura, retrato, escultura, nem mesmo que seja de massinha de modelar!Estou de olho nas suas idolatrias! - Disse o Senhor.
Ou não...

Deus abençoe a todos. Glória a Jesus na Hóstia Santa!Salve Maria Santíssima!